segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Desafinando o côro dos contentes


DESAFINANDO O CÔRO DOS CONTENTES
Por favor, não me chamem de remista se critico o Paysandu. Nem de petista se falo contra o Psdb ou Pmdb. Acontece muito numa terra onde há muita bipolaridade. Ou é um ou outro. Mas é que sou contra o Terruá Pará. Não gosto do nome, detesto a idéia, gosto muito dos artistas, mas é tudo tão fora de lugar, tão deslocado, que é mais um tabefe na cara de quem faz Cultura por aqui. É como voltar a realizar aquele Festival de Ópera que consumia milhões, fazia a alegria de poucos, apenas por capricho, mas desta vez, usando nossos artistas, grandes artistas, mas precisados de dinheiro, fama, jogando em seus olhos a poeira de um projeto que não está amparado em nada. Mais um capricho. Desde que o Psdb tomou o Poder, para contentar apoiadores eleitorais, fatiou a área de Cultura, entregando-a a políticos ou amadores, cada qual não entendendo a razão de estar ali, mas dispostos a aparecer com farras e quermesses. Isso piorou com o Pt que conseguiu ser ainda pior e agora chega ao ápice. Cada um faz a sua Cultura, do jeito que entende, todos dão tiros e ninguém acerta o alvo, pelo contrário, é apenas gasto. Ao invés de projetos estruturantes de mercado, trabalho lento, para chegar a todo o Estado, inclusive Belém, já que a Prefeitura há muito mais tempo sumiu da Cultura, todos querem fazer gol, correr para o abraço, câmeras, fotos.
Se vem um empresário e resolve investir em uma atração, chamando-a de Terruá Pará, aluga teatro, serviços, geradores, paga cachês ótimos para cantores e músicos, escolhidos segundo sua consciência, grava tudo para ganhar na venda de dvds em embalagens luxuosas, leva para São Paulo certo que a bilheteria será ótima, parabéns. Mas quando é o Estado, com dinheiro público, é mais complicado. Quando é uma Secretaria de Comunicação e não de Cultura, mais ainda. Quando os artistas são escolhidos a bel prazer, ufa. E isso ocorre quando, passados um ano e meio do governo atual, nada, absolutamente nada foi feito para a Cultura paraense. Nada. No máximo, houve inscrições, análise e divulgação de projetos de artistas que receberam aval para a Lei Rouanet. Os teatros estão em obras, se é que estão, o Teatro da Paz cobra 3 mil reais por noite. Será que Dona Onete seguraria três noites seguidas? Como podem querer conquistar o País se ainda não conquistaram seu Estado? Sua aldeia, sua Belém. Realizam sonhos. Gastam alguns milhões.
PARÁ NA MÍDIA NACIONAL
É verdade. Nos últimos tempos, em função de várias razões, temos estado bem cotados no Rj e Sp. Fotógrafos como Luiz Braga, pintores como Emanuel Nassar, artes plásticas e nossa música. Gaby Amarantos foi vista bem antes do Terruá, por Herman Vianna (irmão de Herbert), Nelson Motta e recomendada a uma galera que precisava vender uma novidade ao mercado. Bancada pela Som Livre (Globo), teve a sorte e o talento de estar em todos os programas da tv, jornais e revistas, arrebentando com música tema de novela. Lia Sophia teve a sorte de botar, também, sua “Ai Menina”, que é uma delícia. Tomara que a Gang do Eletro se dê bem. Felipe Cordeiro também havia sido visto. Mas pergunto se, fora Gaby, alguém segura Teatro da Paz, quase mil lugares, três dias seguidos. Será que todos do Terruá aguentariam? Afinal, os ingressos foram de graça. Assim é que é bom! De graça, até injeção na testa. O jornalista Leonardo, de O Globo, a convite do Terruá, esteve em Belém e corretamente, além de presenciar o espetáculo, aproveitou para entrevistar com outros artistas locais. Muito bom.
A REALIDADE
É verdade que declarei que a realidade da Cultura, aqui, não é a do Terruá. Quando acaba a festa e voltam para casa, vem a segunda feira e os artistas se perguntam o que farão em seguida. A nossa realidade é o excelente cantor Arthur Nogueira se mudando para o Rio, onde tentará a carreira. É a ótima Jeanne Darwich, que acaba de voltar do sul onde foi entrevistada em rádios, apresentou-se na Fnac e outros lugares, anunciar que estará cantando no “palco móvel” da Estação das Docas, local mais que humilhante para um artista com obra, com discos gravados, ali funcionando como fundo musical, cantando Djavan e “parabéns pra você” para algum frequentador dos restaurantes, ou na Praça de alimentação do Shopping Castanheira. Essa é a realidade. Todo o dinheiro e energia envolvido no Terruá, toda a alegria das esfuziantes estagiárias, cruzando daqui pra lá com suas pranchetas, toda a certeza de estar fazendo a coisa certa, tudo isso deveria ser dirigido à estruturação de um mercado, aí sim, com a Secretaria de Comunicação agindo através da Funtelpa e adiante, reunindo os mais destacados, de alguma maneira correta escolhidos, para sair em busca de outras áreas, levando cada vez mais longe o nome do Pará. Mas isso demanda tempo, trabalho, conhecimento e a ansiedade de fazer o gol, correr para o abraço, com a certeza de realizar um grande momento, não pode esperar.
A querida colega Márcia Carvalho disse que os que não gostaram do Terruá deviam ser ruins da cabeça ou doentes do pé. Sou um desses. 

4 comentários:

Franssinete Florenzano disse...

Excelente texto, Edyr, tocou o âmago da questão. Parabéns pela análise lúcida. Com sua licença, vou reproduzi-lo no meu blog, Facebook e twitter.
Beijo!

JoRgE rEiS disse...

Muitos ainda não perceberam que faltou profundidade ao Terruá-Pará, faltou consultoria e faltou consistência em não ser um evento de futuro, imune a ventos políticos sempre instáveis.
Em seus artigos, Ismael Machado e Edyr Augusto analisaram muito bem o que aconteceu no TP naquela noite gloriosa. Ismael foi corajoso ao descrever de maneira pertinente, os bastidores do festival (o calcanhar de Aquiles do Terruá) e, por isso, levou muita pedrada (me lembrou a história da árvore e seus bons frutos).
Como eu já havia escrito por aqui, Edyr Augusto é uma das mais expressivas figuras da Cultura no Pará. Não vejo outra que reúna o equilíbrio, a qualidade, a lucidez e as realizações de Edyr Augusto. Sua opinião não é simplesmente a opinião de um crítico, achismo, gosto pessoal ou má vontade. Aliás, o festival ganharia muito se tivesse conseguido um depoimento favorável do jornalista. E justamente por isso, considero muito importante levar em conta o seu artigo.
Pedro Alexandre Sanches no Yahoo, limitou-se a descrever superficialmente as entradas dos artistas. Funcionou como um MC, o que foi ótimo. Afinal uma pessoa “de fora” viu de perto e se encantou com a diversidade, e a quantidade da música feita no Pará.

JoRgE rEiS disse...

E as aparelhagens que fim levaram, fora os elementos cenográficos utilizado no show de São Paulo? Os Djs. Dinho, do Tupinambá, Elison e Juninho, do Super Pop Águia de Fogo levaram o farelo no set list do festival. Erro crasso. Foi como usar uma obra criativa sem dar os créditos aos criadores. Até um acadêmico, Paulo Murilo Guerreiro do Amaral, em seu trabalho Estética Legitimadora do Technobrega em Belém destaca a importância dos paredões de som e não desvincula o equipamento de seus criativos controlistas, quando diz que as “festas de aparelhagem atuam como mídia principal de divulgação de uma música que integra um conjunto de atividades não-oficiais onde coexistem produções em estúdios caseiros, compra/venda de CDs “piratas” e veiculação/consumo musical através de aparelhagens sonoras transportadas por caminhões de um canto a outro da “periferia” de Belém do Pará. Consistem em espécies de boates itinerantes ao ar-livre freqüentadas principalmente por residentes em bairros ditos periféricos. O equipamento, controlado por DJs, é formado por enormes caixas de som, amplificadores, telões, canhões de luzes, computadores, teclados, aparelhos para mixagem, seqüenciação e sampling.”

JoRgE rEiS disse...

Onde estão entre tantos outros, Tony Brasil, compositor de 9 entre 10 musicas da atual cena; Nelsinho Rodrigues, Junior Neves, Kim Marques, Luiz Nascimento, Roberto Villar, um dos maiores “vendedores de discos” que o Pará não conheceu como merecia, onde estão as bandas AR-15 e Xeiro de Mel (ex-Cheiro Verde) produzida por Sandro Shows, que a exemplo de Gaby Amarantos, também está na trilha sonora de uma novela da Globo? Outros como Vavá da Matinha e Teddy Max morreram sem ver o tal “apoio oficial” que todos sabemos tem no fundo, sempre, o objetivo espúrio de gerar mídia eleitoreira positiva. Teddy começa a virar cult (de Cultura), com sua mais famosa canção “Ao Por do Sol”. Deve acontecer o mesmo (que Deus não me ouça) com o Mauro Cotta e sua “Minha Amiga”.
O nome Terruá também é uma realidade virtual, longe do cidadão comum. Um terror.
O comendador Raymundo Mário Sobral tem o livro Dicionário Papa-Chibé, cheinho de expressões paraense que bem poderia ter sido consultado e dali saído um nome mais “paraense”. Que tal BATER NO XARQUE? Ou ainda DESINCAIPORAR, LEVOU O FARELO, MAMAR NA ONÇA ou XELELÈU? De a a Z, tem um mundo de coisas boas lá.