quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Belém é o túmulo do carnaval?

Fora um ou outro bloco de sujo, o final de semana prolongado foi de descanso e silêncio para quem ficou em Belém. Quem te viu, quem te vê. Criança, morador em frente a Presidente Vargas, lembro dos Boêmios da Campina. Das festas de salão. De brincar no Pará Clube, que tinha uma séde na Nazaré, onde hoje há um prédio. Do Baile dos Brotinhos, onde ficávamos em volta do salão, vendo as meninas passar, tentando alguma abordagem. Guilherme Coutinho botando quente, com a ajuda de mais alguns músicos. Kzan Lourenço transmitindo um flash para a Rádio Clube e após, caindo na dança. A compra de smoking para ir ao Baile das Máscaras da AP. Um rito de passagem. No ano em que fiquei careca no vestibular, um bloco de egípcios, sei lá. E aí vem o retorno do Quem São Eles, puxado por intelectuais. A primeira vez em que desfilei foi na Presidente Vargas, sendo letrista do samba enredo Cobra Norato, pesadelo amazônico. Fomos na última ala e era grande emoção. Tudo lotado. Ficávamos aguardando o momento do desfile em infindáveis conversas, tomando cerveja em uma cuia de queijo, emprestada no bar ali na subida do Boulevard. E aí vieram também os blocos. Eu saí no Bandalheira. A maioria de homens. Exibíamo-nos para as meninas e mais adiante, os sobreviventes de tanta bebida, tomavam banho e seguiam para a AP. Depois, passou a ser em todos os domingos a partir de janeiro. A Praça da República ficava lotada até meia noite de domingo, aguardando todos passar, inclusive Escolas, ensaiando. Na Doca, ainda saí algumas vezes, como um dos autores da letra do Pai d'Égua, homenageando Raymundo Mario Sobral e na homenagem a meu pai. Mas ali, todos viviam uma mentira. Os blocos eram absolutamente espontâneos. Claro, alguém faturava vendendo as mortalhas, não lembro bem como chamavam, mas o dinheiro era para comprar birita e som, corda, seguranças, por exemplo. Alguém lançou o concurso de blocos na Doca. E tudo acabou. A expectativa de ganhar um troféu, fez com que os blocos se concentrassem apenas naquele sábado gordo. Os outros domingos? Adeus. As Escolas também viveram seu inferno. Rancho e Arco Íris, infladas por dinheiro do bicho, traziam Joãozinho Trinta, mulatas, que dançavam e no domingo, sete da manhã,via Varig, retornaram para o desfile no RJ. Coitado do Quem São Eles, até seu bicheiro era pobre.. Quando o dinheiro foi para outro lugar.. Quando um prefeito ou governador achou de não dar o dinheiro.. Quando um idiota resolveu levar metade dos concorrentes para Ananindeua, só pra sacanear com o prefeito Edmilson, que construiu a Aldeia Cabana.. Bem. E todo ano, faltando três dias para o carnaval, lemos que a prefeitura distribuirá dinheiro, bem como o Estado. Há queixas de ser muito tarde e argumentos do Estado, que de agora em diante, uma comissão tratará de tudo, de maneira a fazer as escolas funcionarem durante todo o ano, quando receberão turistas, enfim, um blablabla irritante e mentiroso que se repete. E são apenas os governantes a mentir? Não. Tal como os dirigentes do futebol, os dirigentes do carnaval não querem ajuda. Não querem profissionalizar nada. Não aceitam que ninguém, de fora, venha dizer como fazer. Querem apenas o dinheiro para gastar como sempre fizeram, para continuar teimando, recusando sumir, mas recusando também a melhorar. Quanto menos pessoas nas arquibancadas, melhor. Cadê o dinheiro do governo, é o que perguntam. É muito bom que essa galera nova esteja relançando os blocos, a partir da Cidade Velha, mas isso precisa, principalmente, continuar no carnaval. E todos, no carnaval, vão para as praias. Então, não é assim, tão bom, né? Assisti a uma reportagem mostrando desfile de carnaval em Outeiro. Não sei se é para rir ou chorar. Uma moça mostra o que ela chama de carro alegórico, e.. A cidade está tão parada que o jeito é jantar lá no Hilton, completamente vazio. Em uma hora dessas, dá vontade de chorar a falta de turismo e essas secretarias, municipal ou estadual, com seus cargos, carros e nada. O que é que uma pessoa vem fazer, vem conhecer em Belém do Pará? E o carnaval vai sumindo. Acabaram os bailes de salão. Os blocos. As escolas. Leio que o Quem São Eles desfilou às oito e meia da manhã e tenho vontade de gritar. Quer dizer que não basta tudo contra, ainda conseguem desfilar às oito e meia da manhã? Que show é esse! Aqueles bloquitos e escolas de terceira, dez gatos pingados, tristes, em andrajos, mas exigindo seu lugar, desfilam às dez da noite, mas a grande escola, as grandes atrações, entram às oito e meia da manhã? É fazer gol contra sem parar. É incompetência. É ódio contra a cidade, a Cultura. Ódio contra si próprio. Nós próprios. Acabo de reler Rio de Raivas, de Haroldo Maranhão e penso que não mudou nada. O livro é um acerto de contas do genial Haroldo com seu passado, com a cidade. Não mudou nada. Continuamos matando, a cada dia, qualquer possibilidade de felicidade, nesta cidade.

A maior festa do mundo é um programa de tv

Ano passado, estive fora do Brasil durante o carnaval. Assim, foi como se não tivesse acontecido. Ao contrário de nós, que temos diariamente muitas notícias sobre o mundo, lá fora não somos noticiados, ou ao menos não temos importancia suficiente para isso. Liguei a tv para assistir ao desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro e fiquei decepcionado. Ao longo do tempo, o que era, principalmente, uma grande demonstração de pujança cultural, transformou-se em show profissional. Monótono. Não, o show de cameras digitais prometidos pela Globo, não conseguiu agilizar, dar clima ou colorido diferente à transmissão. As escolas são todas iguais. A variação das cores. Carros alegóricos. Tribufus gigantescas mostrando seios, coxas e bundas inflados artificialmente. O samba é o mesmo, em ritmo de marchinha, para apressar todo mundo. As comissões de frente, agora são ensaiadas por coreógrafos de fama internacional, como Deborah Colker. Em alguns raros momentos, boas idéias. Na platéia, classe média que pôde comprar os ingressos caros e camarotes, onde cortesãs e nobres (gente da mídia, patrocinadores, starlets, putas de luxo e globais), todos acenam, esperando o clic. O zoom. A camera lenta. Lá vem o passarinho! E vem a tribufu lentamente dançando sua dança de sexo, suas coxas imensas prometendo um torniquete mortal no infeliz pênis que ali se intrometer, a camera escarafunchando sua mais profunda intimidade de maneira laparoscópica, creio, pelo fiofó. Temos fome. A mídia tem fome. Por isso essas tribufus metem silicone nos seios, nas bundas duras, compactas, nas coxas. Queremos carne. E idiotas como Luma de Oliveira e Luiza Brunet passam desavisadas, atrás do viciante aplauso. Imagine ser Luma ou Luiza, quase nuas, sendo o centro das atenções, diante de 60 mil pessoas, mais batuqueiros, passistas, mais os insones da tv Brasil afora. Quarentonas, elas mostram a distância entre seus corpos, ainda bonitos, simétricos, e a explosão de carne das tribufus. E ainda assim, falta malícia nos comentários. Falta mulher nua. Em um show onde todas as cores e música são repetitivas, falta o sal. Carnaval é a festa da carne. Antigamente, aquele apresentador do "Alô você", namorava starlets e enchia a transmissão de malícia. Às vezes, havia fogo amigo, quando suas namoradas passavam. Fulana passou nuazinha e a escola vai perder ponto! Os fotógrafos, loucos, disparando seus flashes, feito um símbolo da mídia a fazer o movimento de meter e tirar do pênis, no corpo das tribufus! Meu tapa sexo tem apenas 3 centímetros, comenta uma. E a idiota da Susana Vieira dizendo que o Brasil pediu que ela fosse ao Faustão contar de suas desgraças e vitórias. Como alguém pode ser tão sem noção? E cadê a malícia? Os comentaristas se fazendo de sérios, querendo dizer verdades. E quem quer saber? Queremos malícia! Passa uma tribufu e pedem ao cantor que comente o excesso de saúde da moça. Ele diz que mulher bonita tem sempre dono e o dono daquela é amigo dele.. Minutos depois, passa Adriana Bombom, tribufu esposa do tal cantor. Silêncio total. Que merda! E lá vem o repórter, lá da concentração, com mais uma tribufu que vai mostrar como se dança samba no pé.. Impossível mesmo é fazer programa de televisão de Salvador ou Recife. Lá, gostemos ou não, a festa é de cada um, sem fantasia, pulando sua alegria. Fica um rame rame chato, com aquele sotaque, a prepotência baiana, a música insuportável, de bom, somente, a alegria, que no Rio vendem engarrafada, com vários breaks comerciais.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Cultura em Belém

Leio no Estado de São Paulo, que em 2010, a famosa e poderosa Livraria Cultura abrirá lojas em Salvador e Fortaleza. Belém, nada. Belém fecha livrarias, não abre. Em Belém, não tem Cultura, se me entendem..
Assisti à reestréia do programa Cultura Pai d'Égua, na Cultura, que antes era belamente apresentado por Alberto Silva, e agora vem como Roger Paes. Lá, o secretário Edilson Moura, certamente o secretário de Cultura mais incógnito que já tivemos. Vejam, antes de qualquer crítica ao desempenho à frente da pasta, é bom dizer que, há muitos anos a Secult responde, também pela Cultura em Belém, como se não tivesse de atender mais de cem outros municípios, tudo por conta da ausência da Prefeitura. Assim, ao invés de reclamar da Prefeitura, Fumbel, por isso, lembramos logo da Secult. Depois, é preciso dizer que tivemos doze anos de devastação a partir de um maluco, causando-nos um mal enorme, muito difícil de reparar. Mas, quando o secretário fala, parece que estamos em outro mundo. Ele explica que nesses dois anos de governo, vem debatendo o Plano Estadual de Cultura, que agora começa a tomar forma, embora ainda tenhamos mais conversa, mais debate, mais tempo passando. De um lado, era necessário um mapeamento. De outro, Gilberto Gil também conseguiu isso no Ministério. Vamos discutir o assunto e passamos um governo inteiro em discussão, ganhando dinheiro e sem necessáriamente gastar nada, uma vez que nossa dotação chega a ser ridícula, vergonhosa, senão me engano, 0,06 % do orçamento Estadual. É bom porque ele, político, viaja por todos os municípios, trabalhando para seu Partido. Sim, porque um dos maiores, talvez o capital erro da atual administração governamental, é dividir a Cultura, loteando os cargos pelos Partidos aliados. Assim, em cada órgão há alguém pouco interessado em trabalhar pela Cultura e mais, quando pode, quando tem verba, trabalhar por si e seu Partido. E como sempre são amadores, os chutes são estratosféricos, as tentativas em clima de quermesse, sem ver aquilo que está à sua frente. O secretário vive em outro mundo. As ações que ele realizou em regiões do Estado, não tiveram, pelo menos, uma boa divulgação. E pode-se fazer o Plano, mas é preciso considerar a realidade e a atual, tem Belém como o centro que recebe quem vem do interior e irradia para o resto do Estado. O que queremos é, trabalho profissional em todas as regiões, de base, ao mesmo tempo em que se alimenta os que estão à míngua e que precisam continuar, para evitar um fosso. Como o finado compositor Antonio Carlos Maranhão, ao responder a uma pergunta de repórter "sem noção", se já estava maduro.. Eu já estou é podre... Até agora, a política cultural é não cobrar a taxa dos teatros. Isso é anunciado como grande coisa. Dá vontade de chorar. O secretário não percebe nem o que ocorre à sua frente: o Teatro São Cristóvão está desmoronando. O Teatro funciona nos fundos da Associação de Chaufferes, um grupo que na primeira metade do século passado, veio de Barbados e virou motorista de taxi. Atrás, em um teatro onde cheguei a assistir Toquinho e Vinícius, apresentavam-se, principalmente, os Pássaros Juninos. Doze anos, depois, mais dois anos depois.. Houve um momento, cinco, seis anos atrás, que nós, do Cuíra, fomos até lá e reunimos com os proprietários remanescentes, que já estavam negando propostas de construtoras e até igrejas, pelo terreno. Fotografamos, medimos, fizemos uma planta e fomos ao
Rio de Janeiro, onde propusemos à Vale do Rio Doce, a compra e transformação de centro cultural e o teatro. Não deu certo. A Vale comprou outra casa para servir de bibelô e foi só. Mas, naquela época, um dos nossos integrantes, solicitou o tombamento, não sei se ao Estado do Município. Agora, os prédios, casa dos chaufferes e teatro, estão ruindo. Vai-se a Cultura, novamente. Em frente ao prédio onde o Secretário despacha diariamente. Os atores, ou seus remanescentes, reuniram e decidiram fazer uma manifestação na quarta feira de cinzas, meio dia, em frente aos dois imóveis, Teatro e Secretário, cobrando a desapropriação urgente do local, ou tombamento, ou qualquer coisa, uma ação, mais do que blábláblá. Sei que a galera enviou email para o programa Paid''egua, informando o Secretário e convidando para, na quarta, participar da ação e responder alguma coisa. O email não foi lido. E a Cultura, em Belém..

Você jurou que eu ia ser feliz

É o título maravilhoso de um livro, que aproveito para comentar a respeito de uma matéria que li em O Globo, sobre a vida de casais, felizes após a saída dos filhos de casa. Na contramão de um dos maiores problemas sociais do momento, que está na recusa dos filhos adultos em deixar o ninho, esses casais, desde cêdo, foram argumentando com os filhos o momento deles baterem asas e conquistar seu mundo, seu espaço. Hoje eles não querem sair das casas. Têm teto, cama, roupa lavada, luz, água, internet, comida, carinho, enfim. Vão ficando. Vivem como casados com as namoradas, com quem dormem. Amanhã, se brigam, terminam o relacionamento, numa boa. Continuam morando em seus quartos. Sair, pra quê? A culpa é nossa. Em contraposição à Educação que recebemos de nossos pais, mais dura, contra nossa rebeldia em usar cabelo grande, calça apertada, saias curtas, rock, fomos excessivamente permissivos. Fomos dialogar e esquecemos da autoridade. Somos amigos demais e não somos amigos deles. Somos pais. De parabéns os que não têm problemas sérios com drogas ou comportamento. Mas de lá eles não saem. Na minha geração, esse era sonho de todos. Sair de casa, ter seu próprio canto, estar com namoradas, amigos, sem dar satisfação. Ligar o som no volume máximo! Pois é, esses casais botaram para fora seus filhos e agora têm uma grande qualidade de vida. Um merecimento. Alguns venderam a antiga casa, para evitar uma recaída e foram para apartamentos. Dedicam-se a esporte, Cultura, viagens. Têm todo o tempo do mundo para si e aquele stress da relação desaparece. Voltam a ser namorados, amigos, parceiros. Claro, é bom dizer, que se trata de casais classe média. Nos mais pobres, impossível. Conversava com meu irmão Janjo, sobre a diferença de estágio da sociedade, comparando a brasileira com a dos europeus. Lá, o turismo, por exemplo, é feito principalmente por aposentados. Gente com 50, 60 anos, talvez, das mais diversas profissões, que pôde retirar-se dignamente e daí por diante, desfrutar daquilo que amealhou. Passeiam, viajam, gastam, se divertem, curtem. Que maravilha! Basta andar por Barcelona, Londres, Paris e vê-los sorrindo, felizes. Lá, a diferença entre o mais rico e o mais pobre é pequena. Todos têm a dignidade e pronto. Quando vamos chegar lá? Hoje, tenho certeza que todos nós, ao sair para uma temporada de no maximo sete, dez dias de férias, o fazemos preocupados, seja pelo stress que nos faz pensar sermos imprescindíveis, seja porque a cena que vivemos é de tal maneira competitiva, que até viajamos, mas ligados no celular, através do qual continuamos despachando os negócios e fazendo de conta que curtimos a viagem. E lá pelo quarto dia vem aquela vontade irresistível de voltar a trabalhar. Imaginem vocês, gente como eu, jornalista, pequeno empresário, escritor, como me sinto. Imagino, eu, qualquer um de vocês que me visita e que se sente igual. Quando nossa democracia, tão jovem, tão recente, chegará a um ponto mais justo?

Dolce far niente

Não vou dizer a ninguém como se comportar. Cada um que leve sua vida como melhor lhe aprouver. À parte isso, não como não sentir desconforto como essa espécie de pacto, feito entre as pessoas, para descansar uma semana inteira, por conta dos festejos do carnaval. Novamente, nada contra. Quem pode, que descanse. Quem não pode, mas precisa se apresentar, que o faça. Mas não há dúvida que, nos dois primeiros meses do ano, a produção de negócios já diminui, que estamos assistindo uma onda econômica que começa a engolir gente grande e chega por aqui, no mínimo, porque assistimos tv e criamos medo de consumir, diminuindo ainda mais o ritmo dos negócios. Há pouco dinheiro circulando. E então, vamos todos para as praias, curtir o carnaval. Vejam que por conta do fosso criado entre a classe média e a classe mais popular, nem se fala em brincar carnaval. Vão às praias. O povão, este, nos subúrbios, até pode entrar em algum bloco de sujo que passar, mas vai ficar é trancado, por causa da chuva e por falta de opção, assistindo tv. E tudo isso para enfrentar engarrafamentos, despreparo completo das cidades visitadas, ruas esburacadas, chuva, carapanãs.. Se são jovens, tudo bem, topam tudo. Se não são, me desculpem. Em vez desse pacto, devíamos todos estar trabalhando. Sem querer dar uma de Caxias, também gosto de folga e me considero preguiçoso, mas não há como ficar parado uma semana! O pior é que pessoas que decidirem ficar e trabalhar, não conseguirão, a menos que o desenvolvimento de suas atividades não necessite de outrém. No meu negócio, decidimos trabalhar na segunda feira, para desgosto de muitos, que preferem folgar a aceitar que nem sendo feriado oficial, são os patrões que pagam pelo dia não trabalhado. E não há nada melhor do que em uma segunda feira dessas, colocar em dia todas as pendências que em dias normais, não conseguimos contornar e vamos adiando. O mundo pega fogo e nós, brasileiros, vamos ao carná..

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

É doença ou crime?

Não há dia que passe, seja nos jornais locais, nacionais ou internacionais sem haver denúncia de abuso sexual de crianças por parte de adultos. Pedofilia. É o assunto do momento. Temos uma CPI e um parlamentar sériamente comprometido. Nos blogs, há denúncia que mais oito serão apresentados públicamente, um deles, músico, artista, e pelas pistas, tomara que não seja quem estou pensando. Pior, somente pelas pistas, sobre sua identidade, se é inocente, já estará, pelos blogs, condenado.
Mas, afinal de contas, pedofilia é crime ou doença? O dicionário diz ser um distúrbio. Então, é doença, desvio mental, de conduta, sei lá. Tem cura? O que faz cidadãos respeitáveis, com mulher e filhos, se entregarem a esse tipo de ação contra seres indefesos e inocentes, estragando suas vidas, talvez, pior do que se as matassem, pois permanecendo vivas, conviverão com o trauma para sempre. É claro que parentes, conhecidos, gente comum como nós, ao ler, ao saber de algum ato de pedofilia, se vê tomado por ódio, desprezo, raiva. Natural. Mas então, prender e condenar essas pessoas, a maioria sem nenhum outro deslize social à cadeia, onde certamente não sobreviverão? Condená-las à morte? Ou interná-las, para sempre, em casas de saúde mental, onde possam viver sob vigilância, de maneira a não exercer nunca mais a hedidonda atividade? Se for crime, que realmente sejam humilhadas com julgamentos públicos e condenadas a penas altas, sem direito a progressão. Se é doença, que paremos com essas humilhações, julgamento, prisão, porque é outra direção. Na direção da Medicina. E há cura? Através de terapia? Quanto tempo? Como saber se houve cura? Não há cura? Do jeito que está, não pode continuar, pois nada de objetivo é feito. Pelo contrário, parece haver um palanque propício a algumas figuras para "aparecer". Agora, que é um assunto seríssimo, e que deve ser discutido em voz alta, com certeza. A Pedofilia é o grande segredo das famílias, o grande e vexatório crime cometido entre quatro paredes e sendo crime ou doença, condena crianças a uma existência cruel, na convivência com o que sofreu. Gostaria que o grande Yúdice se pronunciasse, com sua serenidade judicial a respeito.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Velório

Teimei durante o maior espaço de tempo que pude em não comparecer a velórios. Creio não ser necessário explicar. Mas agora, começo, lentamente, a comparecer às cerimônias de adeus das gerações. A minha, apenas iniciou, com alguns apressados, desculpem a ironia, para disfarçar a perda desses amigos. Mas nos últimos meses, em função de diversas circunstâncias, estive em alguns velórios. Observar o comportamento das pessoas, é muito interessante.
Há os familiares mais próximos, que ficam junto ao morto. A maioria, mulheres. Os homens estão sempre lá fora, em rodas de conversa, fumando, enfim, fugindo do flagra, da companhia da morte. As mulheres ficam sentadas, conversando. O velório é o grande momento da rememoração. Mesmo nós, homens, entre piadas e comentários esportivos, fazemos essa rememoração. É quando é feito um balanço da vida do morto. E vem alguém e conta algo que ninguém sabia. O cadáver, ali, em julgamento de corpo presente, com prós e contras. Cada um que chega, vai até ele, depois consola os parentes e procura sua turma. Às vezes, as conversas são tão altas, risadas, xistes, que esperamos o morto levantar e pedir um pouco mais de comedimento, talvez. A definição do velório, como espaço para rememoração, é de Wlad Lima. Fiquei pensando muito a respeito. Não sei se quero ser velado.

O presentinho

Outros amigos comentaram que seria interessante se os inspetores da Fifa assistissem ao jogo entre Remo x Paysandu para terem uma idéia do que realmente significa a palavra anarquia. E é essa gente que vai levar milhões no bolso, como prêmio. Mas este post é sobre algo pior ainda, mais devastador, ridículo, desmoralizante. Li que aproveitando a passagem do escroque internacional e milionário Ricardo Teixeira, presidente da Fifa, além de levar a "Santinha" para pagar mico imperdoável, o dileto presidente da Federação de Futebol do Pará, que também é, absurdamente, conselheiro do Paysandu, lhe ofertou uma camisa bicolor..

Arraial de Nazaré

Fora os bullyings, há algo muito bom nos blogs, que é ler opiniões conflitantes, de pessoas nas quais confiamos e em quem respeitamos. Sobre a reforma da área onde hoje se instala um parque de diversões, ficando uns seis meses, desde alguns dias antes do início da programação festiva do Círio, acho que a decisão tem seus pontos positivos. Outros, são delicados. É parecido com o que ocorreu ao Quem São Eles. Lembro quando aquela área, na Wandenkolk foi adquirida. Era um pequeno e estreito corredor. Foi aumentando. Creio que gente como Paes Loureiro, Simão Jatene, Edgar Augusto e Villar Ferreira, por exemplo, foi para lá capinar o terreno que aos poucos foi alargando, até ficar do tamanho que está. O problema é que, na mesma medida, a Doca foi se transformando no que é hoje, bairro que mistura residências de alto luxo com restaurantes e boates de alvo nível. Ali, não há lugar para o Quem São Eles, que sobrevive de birra, contra as queixas que recebe dos vizinhos, por conta do barulho. Se fosse rock and roll, talvez não reclamassem. Mas é que o Quenzão foi invadido e ficou sem público. Uma Escola de Samba é o desaguadouro de alegrias e mágoas de uma comunidade, como ocorre, ainda, com o Rancho. Houve um momento, há vários anos atrás, que foi feita uma oferta generosa pelo terreno da sede do Quem. Em troca, um terreno, não sei ao certo, no Benguí ou Guamá. A diretoria ficou dividida. Venceram os conservadores. Deu no que deu.
No caso do Arraial, também vivi o suficiente para ter visto ele, na então Praça Justo Chermont, com barracas de madeira, shows de cantores bregas, brinquedos de madeira, bem toscos, lindos, como a Ôla, por exemplo. Mas a cidade foi crescendo, os prédios invadindo, moradores de alto padrão cercando e primeiro, veio alguém e aproveitou o terreno ao lado da Basílica para fazer o arraial. Hoje, tudo está confuso. Na época do Círio, todos os paraenses vão visitá-la, a Santa, claro, ou seja, saem de suas casas, famílias inteiras, e vão até lá para rezar, agradecer e também, se divertir. Sentam em bares, bancas, as crianças vão em brinquedos, e lá pelas nove da noite, cansados, carregando balão e crianças dormindo, querem pegar o ônibus de volta. O problema é que são estranhos ao bairro, principalmente à noite. Os ônibus fecham as ruas, as pessoas atravessam fora do sinal, aglomeram-se, enfim, causam transtornos aos moradores. O que fazer? Sob o ponto de vista de respeito a esses moradores atuais, fazer algo mais light, com poucos brinquedos, lanchonetes e bares mais limpos e tranquilos, parece interessante. Mas o que fazer com o povo, que vive além do imenso fôsso, a parede da Cultura, Educação, Saúde, que vive uma outra realidade? É romantico e interessante pensar que o arraial antigo pudesse voltar, com as imagens bonitas e selecionadas de meu passado, de minha infância. Será que cabe, ainda? É um problema urbano, sem dúvida, que vale a pena discutir. Digo porque li opinião contrária, reclamando justamente dessa classe média alta que reclama de tudo, se apossa dos lugares e não quer barulho, a menos que com ele concorde.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Amadores

Assisti aos últimos 15 minutos do jogo em que Paysandu e Ananindeua empataram, no charco em que se transformou o gramado da Curuzú. Nenhuma novidade. Todos sabemos que no início de ano temos chuvas e nada é feito. Um presidente da Federação, certa vez, disse que o campeonato deveria ser mudado de época. O Ananindeua jogava melhor, ganhava as divididas e oferecia perigo. No último minuto, uma falta é cobrada, alguém cabeceia e vem o empate. Termina o jogo. Vêm as entrevistas. Um atacante bicolor diz que fez tudo o que o técnico pediu. Outros falam. Então vem o presidente e acusa o quarteto de arbitragem de roubo. Pega o telefone. Está ligando para o presidente da Federação. Não quer mais tê-los na Curuzu. Vem o vice presidente e diz que se pegasse o pau da bandeirinha, iria enfiar.. o microfone foi afastado de sua boca, providencialmente. Em seguida, Zé Augusto, ídolo da torcida, diz que o gramado não atrapalhou, pois estão todos acostumados. Fizeram um bom jogo, mas o Ananindeua empatou porque jogou melhor o segundo tempo. Pronto. E são esses amadores que recebem ajuda do Estado para prosseguir nisso? E são essas pessoas que serão beneficiadas com os milhões investidos na Copa do Mundo? Francamente.

Pedofilia

Abuso de Crianças

A respeito da CPI da Pedofilia, fui buscar algo antigo que escrevi após assistir uma peça de teatro de Wlad Lima, no Teatro Puta Merda.

Estou há muito tempo para escrever algo a respeito do estupro de crianças. Gosto muito delas. Gosto de brincar, sobretudo com o ser que lhes habita o corpo em jogos de inteligência, alegria, bom humor. Tenho, em função do mundo atual, o costume de pedir licença aos pais, de maneira a desarmá-los de qualquer suspeita. Quando leio, diariamente, notícias referentes a esses abusos, fico impressionado. Diariamente, fico impressionado. Hoje li que metade das crianças na Índia pode já ter sido estuprada. Aqui em Belém, basta folhear o caderno policial dos jornais e está aquela cara assustada de gente comum, com a pecha de tarado, pois foi flagrado. Quase todos não têm explicação. Alguns, mais idiotas, ainda dizem que a culpa foi da criança, ao ficar passando à sua frente com roupas sensuais. Mesmo que isso seja verdade e é outro lado da questão, não há uma só desculpa para esse ato vergonhoso, que até já mereceu filme internacional, pois a maioria dos casos se verifica no âmbito doméstico, com pais, padrastos, irmãos, amigos, se aproveitando das crianças. E se isso é realmente diário, no mundo inteiro, porque não dedicamos mais tempo para tentar diminuir, alertar, fazer com que possíveis estupradores reflitam sobre o que ocorre?
Seremos nós, homens, esse animal sexual? Quantos são apenas doentes, pedófilos, que mesmo cometendo ato hediondo, merecem apenas tratamento, até, quem sabe, em regime fechado? No filme Volver, de Almodóvar, o padrasto passa pelo quarto da enteada e a porta está entreaberta. A menina, de uns treze anos, troca de roupa e vemos seu perfil, com os seios ainda recentes. Ele olha cobiçando e mais tarde, a ataca. Quase todos dizem que estavam bêbados, se descontrolaram. Qual a razão? Onde está o sexualmente atrativo nas crianças? A menina do Almodóvar era uma pré adolescente, mas a maioria dos estupros é na faixa dos sete, oito anos, alguns pegam bebês, meu Deus. Será a vontade de tomar aquela carne tenra, indefesa, por isso mesmo à disposição, sem maiores argumentos? Quer tomar aquilo que já é seu, por ser filho? Considera seu, por ser filho e por isso mesmo, talvez, se vingue da mãe, que por algum motivo não o satisfaz? Ou também foi abusado quando criança e quer repetir, mas agora ao contrário, sendo o possuidor? Vê a si próprio na criança e quer devolver a agressão? Vê na criança a figura da mãe, mas indefesa, e se vinga? A velha falta de Cultura que faz com que as relações da sociedade regridam, tragicamente, ao mesmo tempo em que a televisão grita costumes do século 21, para pessoas que vivem no século 19. Os programas infantis com as crianças vestidas como prostitutas, shorts cavados, danças lascivas, aumentando a tensão sexual, quem nem assim pode ser perdoada. Em Carne e Osso, espetáculo que o Cuíra estréia no Teatro Porão Puta Merda, com Wlad Lima, Olinda Charone, Cláudio Barros, Patrícia Gondim e Oriana Bitar, também fala disso. A criança sofrendo, calada. Se contar, vai apanhar. Se contar, não vão acreditar. Se contar e acreditar, a mãe se separa do pai ou padrasto e a tranqüilidade do lar vai ser quebrada, o homem vai embora e todos ficam sem o mantenedor da casa. É muita tensão na cabeça dessa criança que então, sofre calada, meu Deus, sofrendo diariamente o abuso. Ou a mãe sabe e faz que não sabe, seja por amor ao homem, seja por medo dele ir embora. A criança conta e ainda apanha. Perde toda a dignidade. Todos os valores éticos. Não acredita no mundo, em ninguém. Se considera um lixo, sem importância no mundo. Que cidadão é esse que está em formação? Agora mesmo, uma das mulheres profissionais do sexo, que trabalha com o Cuíra em Laquê, precisou se mudar. O filho havia sido estuprado quando a mãe saiu para trabalhar. É um assunto tão sério, tão absurdo, tão violento, tão importante, e ninguém do Governo trata dele. É algo latente, uma luz vermelha a piscar sem parar em todos os lares. Como pode alguém, que não seja pedófilo, ou seja, doente, precisando de tratamento, sentir tesão em uma criança de sete anos, meninas ainda sem seios ou quadris arredondados, meninos sem nada disso?
Arilene Rodrigues, a menina que trabalhou no segundo filme da série Tainá, de vez em quando passa uns dias aqui em Belém. Nós a levamos para comprar roupas. Nada do que traz é aproveitado, não só pelo desgaste, mas principalmente pelos modelos, absurdamente sensuais. E quando chegamos às lojas infantis, todos os modelos são na mesma tecla. Shorts cavados, mini saias, calcinhas biquíni, enfim, terrível. Basta ligar a tv, que no caso, fica ligada o dia inteiro e não é na Globo, mas sobretudo em outros canais, com a estética inteiramente comprometida.
A ausência de Cultura levou todos a acreditar que Cultura é a mesma coisa que Lazer. Não é. Assim, quando digo que a falta de Cultura é muito mais dramática do que a falta de Educação e Saúde, sei que muitos não levarão a sério. Enfim. Estamos regredindo em tudo. Estava no McDonald’s. Ao meu lado, mãe e filhinha, classe média. Ela diz à filha “fica do meu lado pra ti pedir teu lanche”. Começa desde cedo. O império da burrice, da cretinice, violência, agressividade. Que coisa

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Com seus olhinhos infantis

Sean Penn deve ganhar o Oscar de melhor ator. Benjamin Button, melhor filme, creio. Angelina Jolie, melhor atriz, embora Meryl Streep corra por fora. Assisti Milk, o filme onde Penn faz o papel do ativista político em favor dos homossexuais, precursor das passeatas de Orgulho Gay e tal. O que é mais impressionante é a transformação do ator. Penn "é" Harvey Milk. Seus coadjuvantes, muito bons. De resto, uma biografia. Gosto, mas não dou Oscar. Benicio Del Toro é briga forte com seu "Che', sobre o famoso guerrilheiro que virou símbolo da juventude. É bem feito e mostra a campanha revolucionária que culmina derrubando o ditador Fulgêncio Batista. Che acaba na ONU e esteve até no Brasil onde foi condecorado. Tenho graves, gravíssimas restrições a essa figura. Li muito a respeito para afirmar. Mas aqui, não é lugar. Os revoltosos estão tomados de legítimas reivindicações. A coisa do comunismo e pior, a ditadura escondendo-se atrás da Ideologia, veio depois. Benicio "é" Che Guevara. E neles, os "olhinhos infantis, como os olhos de um bandido". Por lembrar, prefiro Mickey Rourke, que criou seu personagem, sem tirar o mérito de ninguém. Questão de preferência. Vi e gostei muito de "A Troca". Angelina Jolie arrebenta. Talvez pelo fato da maternidade recente, a emoção vem à sua face de maneira genuína e bela, além da história, aterradora e pior, absolutamente verdadeira.

Brasil, o novo alvo

Li um artigo de jornal, dia desses, com argumentos bastante razoáveis a respeito do Brasil ser o novo alvo dos predadores do mundo. Se EUA, Russia e outras potências se cansarem de gastar tanto dinheiro em armas para obter petróleo, lutando contra os mulçumanos, quem, senão o Brasil é o alvo ideal, com suas reservas e o pré-Sal? E se o petróleo acabar e o combustível ecológico vencer, quem senão o Brasil tem o clima e a terra para tê-lo e assim, se tornar alvo ideal? E descontando tudo isso e pensando na produção de energia, a partir da força da água, quem senão o Brasil tem isso de sobra, com clima ameno? E a questão do Meio Ambiente, que tem a Amazônia no centro da discussão? Ela fica no Brasil, claro. E a próxima crise, que será por alimentos? Quem tem as terras, a extensão, o clima, a mesma língua, senão o Brasil? E sem esquecer de todos os outros minerais. E aí, mano velho, será que vão nos atacar? Bush inventou que o Iraque tinha bombas e tal para invadir. Deu no que deu. Petróleo. E se nos invadissem? Por onde iriam começar? Resistiríamos? Poderíamos? Nosso povo tem essa flama? Nos tempos recentes, nunca passamos por trauma de guerra. Mesmo na Segunda Guerra Mundial. Somos doces, maliciosos, molengas, astutos, amistosos, amorosos. Se alguém estourar a guerra numa sexta, pedimos aguardar até a segunda para não atrapalhar o "finde". De um lado, é algo realmente a considerar. Do outro, uma boa pergunta.

O Forum

Não tenho informação suficiente para discutir sobre os pontos realmente positivos do Forum Social em Belém. Mas como morador da cidade, assistindo ao vaivém da turma colorida que por aqui esteve, posso comentar alguma coisa. Rolou também o tal Forum Econômico em Davos. É interessante perceber que são, atualmente, duas pontas que não têm a menor intenção de se juntar. Radicalismo de parte a parte, o daqui festejando a crise, alardeando o fim do capitalismo e tal. O de lá, como sempre, segurando o dinheiro para uma minoria. Como cidadão, senti falta de informação. Os dois jornais de maior circulação publicaram cadernos especiais, mas fiquei com a impressão que apenas cumpriram o compromisso, após receber dinheiro para isso. Com tanta atividade acontecendo, o que também me parece um grande erro, por dispersar a atenção, gostaria de ler nos jornais um resumo do que mais importante aconteceu e as resoluções tomadas. Agora, a parada de abertura foi muito legal. Quando ela foi chegando, fiquei assim, meio sem graça, ao perceber, na abertura, partidos políticos de esquerda botando quente, o que me fez imaginar que o resto seria mais politicagem e pronto, mas não. Mesmo com a chuva, o arco íris que passou lembrou-me os velhos tempos em que as batalhas de confete aconteciam na Presidente Vargas. Lembro da querida Adelina, "Biá", que nos criou, com uma toalha no pescoço, até de madrugada, aguardando os Bôemios passar. Lembro de desfilar ali, com o Quem São Êles, no retorno da Escola à liça. Bons tempos. E quando não saiu no desfile oficial, e cantou "se Quem São Eles não vai, qualquer um pode ganhar". Era muito legal. E assim, quando chamaram de Woodstock, não considerei insulto. Ficou a impressão de um "Festival dos Povos", ou seja, meramente um encontro de povos, minorias, grupos, para festejar estar junto. E os jovens, nisso, estão em todas, com sua energia, denôdo, ousadia, e fé. Nudismo, maconha, todas as bandeiras, de repente, são possíveis, bem como um beijo na boca. É tão bonito ser jovem! Mas assim, com tanta diversidade, tanta programação, talvez tenha faltado foco, unidade, sei lá. E o que nós mostramos a eles? Houve shows, teatro, mas a cidade estava bem abandonada, porque Dudu não foi chamado a participar, enfim. Viajei e cheguei uns dois dias antes da abertura em um vôo lotado e diverso, digamos assim. Na fila do taxi, uma baiana idiota já reclamava de tudo, da fila, do calor, como se Salvador fosse uma beleza. Me contive. Deixa pra lá. Haverá um dia em que esses dois Foruns se reunirão? Haverá um dia em que alguém, emitindo opinião que possa sugerir preferência por um dos lados, não seja acusado de partidário, ou não sensato?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Crítica do Flanar - Francisco Rocha Junior

Um sol para cada leitor

Li de um tapa, neste final de semana, o último livro do escritor e teatrólogo Edyr Augusto Proença, “Um sol para cada um” (SP, 2008, Ed. Boitempo).

A edição da Boitempo, da publisher paraense Ivana Jinkings, é bem cuidada, com orelha da atriz e professora Wlad Lima e prefácio do escritor paulista Nelson de Oliveira. O livro apresenta 36 contos curtos, quase todos ambientados em Belém. Na única exceção, o conto Putz, os personagens estão em São Paulo, mas são do interior do Pará.

Edyr Augusto desfila temas violentos e cruéis, em uma linguagem crua e muito, muito urbana. Seu texto lembra o Rubem Fonseca de "Histórias de Amor" (Companhia das Letras, 1997): frases curtas, texto veloz, sem metáforas ou volteios. Edyr Augusto não esconde nada, não deixa de dizer nada, não subterfugia nada. O conto Um cara legal é o maior exemplo disso: da aproximação à prisão, passando por tudo o que há de mais hediondo, a história de um pedófilo é narrada de modo direto, em detalhes. Há que se ter estômago forte.

O livro não é, pois, de modo algum, um mar de rosas. Há momento, porém, delicados, exatamente como na vida. Pedofilia, suicídio, traição, luxúria e mortes, muitas mortes – motes inevitáveis para romances que se passam em meio urbano e focam sempre nos personagens (não há descrições de cenas em “Um sol para cada um”) – transitam entre uma e outra história de desejo, de amor adolescente e de reencontro. Na mescla entre delicadeza e degradação moral, no entanto, ganha a última, por escore dilatado.

A escrita de Edyr chama a atenção, ademais, por dois aspectos, inusitados e muito bem-vindos entre nossos escritores.

Primeiramente, apesar do cenário regional, não há regionalismos, nem odes à terra natal. As histórias poderiam se passar em qualquer outra metrópole. Porém, como têm Belém como pano de fundo, é respeitado o linguajar mundano paraense. Não há xingamentos apaulistados ou acariocados; as personagens falam como falamos nós, nossos vizinhos e conhecidos, no dia-a-dia, diante de situações extremas. Afinal, não há nada mais violentamente paraense que “eu me abro pra ti, sabia? Só me abrindo. ‘Bora, porra, levanta (...) Hei! Tô falando! Porra, fala comigo. Fala! Deixa de graça! Te dou umas porradas, hein?”, ou agoniadamente paraoara que “ih, seu Tatá, eu hoje não estou boa, o senhor já me conhece, quando eu chego assim, meio escabreada, quando eu não respondo logo Bom dia pro senhor, hoje é daqueles dias...”.

Além disso, Edyr mostra-se mestre nos discursos, diretos e indiretos, de seus personagens. O ator desenha as cenas, as mudanças de local, de humor e de circunstâncias quando põe os protagonistas para falar ou para responder aos secundários que com eles contracenam. É neste momento que seu texto se movimenta, rápido, sem parar, sem tempo para descrever ou contemplar qualquer coisa.

Bom livro. Recomendo. Vou à cata de “Casa de Caba” e “Moscow”, livros de Edyr Augusto ainda editados, que já vi por aí, em livrarias da cidade. Quando os achar, darei meu pitaco por aqui

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A Copa no Pará

Casa de Caba. Vespeiro. Como manifestar opinião sobre a guerra entre palestinos e israelenses. As pessoas são simplistas. Ou Remo ou Paysandu. Eu sou da sensatez. Tenho lido vários artigos a respeito da Copa do Mundo no Brasil e as cidades disputando a honra e riqueza de serem sedes. Há um Monte Everest escondido sob a Fifa, desde João Havelange, mas é verdade que através do futebol, ganha da ONU em número de afiliados. Verdade também que hoje interessa muito mais a mercados emergentes ser da Fifa, participar de suas competições, do que os leões da Europa, obrigados a ceder seus caríssimos jogadores em troca de quase nada e o risco de contusões e problemas psicológicos. Se há um Everest por trás de Blatter, há uma Serra de Tumucumaque por trás de Ricardo Teixeira. Agora, todos são recebidos com ares de papa pelos presidentes, governadores, puxa sacos. É muito dinheiro em patrocínios, dinheiro do povo envolvido. Aí vem Natal e quer gastar alguns bons milhões para construir estádio e acabar recebendo dois ou três jogos. Para quê? Incrementar turismo? E o futebol, em si? Há algum clube de Natal, ou do Rio Grande do Norte na Série A? E ao contrário, não há milhões de prioridades para o uso do dinheiro público ali? Milhões! Cultura, Educação, Saneamento, Saúde....
Claro, gostaria que a Copa fosse em Belém, pelo coração, mas pela razão, nem pensar. Prefiro Manaus, que ao longo do tempo, posicionou-se como símbolo da cidade da Amazônia, especializando-se na recepção turística com seus hotéis de selva. Aqui, ao contrário, oferecemos a coleção que era de meu tio Abelardo Santos, de santos antigos, talvez para brigar com as 365 igrejas da Bahia.. Nossos clubes estão em processo acelerado de amadorismo. Nossos torcedores, a cada diz, torcem mais pelo Liverpool e Chelsea, ou Barcelona e Real Madri. Sim, mesmo que em nível inferior, há São Paulo, Flamengo, Corinthians, enfim. E quando Remo e Paysandu jogam, passa na televisão. Porquê ir ao estádio, ser assaltado duplamente, nos ingressos e pelo bandido, correr todos os riscos e assistir jogos amadores, se até beber, posso fazê-lo em casa, ou no bar da esquina, com amigos?
E remodelar o Mangueirão, desculpem, Estádio Edgar Proença, para receber dois ou três jogos da Copa e depois? Servir de praia aos domingos? A galera pegando sol, empinando papagaio, enfim, porque nossas equipes viraram amadoras e mesmo quando jogam suas peladas, elas são transmitidas. Não há milhões de prioridades? Milhões!
E os nossos clubes têm eleições, novas pessoas assumem e já anunciam a continuação de todo o processo amador, ridículo, criminoso que matou a maior diversão do povo. O Baenão é hoje uma ruína. A Curuzu, tem novos lugares, que acabaram de ser construídos, vetados. Como?
Alguém, no jornal, escreveu hoje sobre o que ficou na cidade depois do Forum, a não ser a duplicação de uma via, a Perimetral e a reforma de um terminal de ônibus.
O absurdo é que pessoas inteligentes, probas, quando o assunto é futebol, portam-se como se fosse um time de botão, ou seja, diversão, pode tudo. Como os que dizem que o Governo deve dar, mesmo, dinheiro para Remo e Paysandu. É a alegria do povo, dizem. Que beleza, dizem os dirigentes que continuam queimando dinheiro sem rastros, e descendo a ladeira, felizes da vida. Se os clubes de futebol, associações particulares, com um campeonato gerido por um entidade particular, com um presidente eleito por representantes dos times, merece o dinheiro que o Estado investiu há poucos dias, qualquer um de nós também tem esse direito. O pessoal do Teatro, da Música, os Filósofos, os Garis, sei lá, qualquer um tem o direito. Pior, os antas não leram o contrato. Os jogos passam para o interior e para Belém. Quem ainda vai a campo? Assisti um tanto do jogo do Remo contra Aguia. O estádio é desses de várzea, de pelada, inclusive pelo público que compareceu. Está tudo errado. Tudo amador. Tudo ridículo. É um absurdo, é totalmente inaceitável a maneira pela qual os nossos times são geridos, a Federação é gerida, a decisão de dar esse dinheiro é tomada. E agora, querem os milhões da Copa.
Li, neste final de semana, um inglês escrevendo sobre uma equipe londrina pela qual torcia, Wembley, que entre idas e vindas da quarta até a primeira divisão, foi comprado, trocou de cidade e até de nome, mostrando como o negócio futebol é atraente. A Premier League, da Inglaterra, é hoje a mais rica do planeta. Planejam jogos inclusive na Arábia, por conta de transmissões, o que antecipa equipes planetárias, que Arsenal, Manchester e Chelsea já são. Eu mesmo, gostei mais de Liverpool x Chelsea do que Flamengo x Volta Redonda, ou Remo x Águia. Eu, hein! Pois o inglês escreveu lá da americanização do futebol inglês, imitando o que ocorre na NBA, onde, muitas vezes, clubes são comprados e trocam de cidade, região e isso é encarado naturalmente. O inglês acha fundamental o apoio da torcida, o calor da cidade. Também acho que sim, mas temo que estejamos batidos, nesta questão de transformar os clubes em planetários. Aqui em Belém já temos uma garotada que nem sabe os nomes dos jogadores do Paysandu, mas tem camisa e acompanha os jogos ingleses.
Ter um clube, hoje, ainda é ter o coração de pessoas, uma camisa, algo intangível, que veste onze jogadores em campo. E fazer o clube atravessar fronteiras, conquistas, vendendo jogos, camisas, souvenires. Comprar e vender jogadores. No mundo inteiro isso funciona, menos aqui, que vamos céleres ao fundo do fundo do fundo do fundo do poço. Já imaginaram se o Remo ou o Paysandu se arrumam, começam a conquistar títulos, torcedores e se estabelecem ou um ou outro, claro, como o representante da Amazônia, nos campeonatos mundiais, planetários? Quá quá quá, tem que rir, não é mesmo? E o Paysandu ainda inscreveu um genérico Time Negra no campeonato de pelada, não foi? É demais.

Quem lê tanta notícia

A mais recente capa da Rolling Stone nacional é a americana Britney Spears. O exemplar original tem Bruce Springsteen. Antes, foi Barak Obama. Viciado em leitura, compro publicações sobre música desde que me entendo. O Bondinho, Rolling Stone, por exemplo. Melody Maker, que nem existe mais. Billboard, NME e várias outras como Q, Mojo, Uncut, Word, Artrocker, Plan B, Revolver, enfim. Já assinei várias. Antigamente, quando viajava, trazia até excesso de peso, por conta de revistas. Hoje, não compro mais, a não ser que tenha alguma matéria, com mais de três páginas, que me interesse. O resto, vejo na versão online. Quem ousou trazer a Rolling Stone pro Brasil foi um grupo argentino. Quem ainda está lendo revista de música em papel? A indústria quer vender o quê? O jovem vai ler? Não dá para entender.
Quando vamos aos jornais, a situação fica pior. Lúcio Flávio, um dia desses, revelou alguns números relativos à tiragem dos nossos jornais. Em uma cidade com quase 2 milhões de habitantes, tirar 25 mil exemplares diários é algo sem tamanho. Pior é que se criou um ambiente viciado, pois lêem os jornais, certamente, os viciados como eu, pessoas mais velhas, por assinatura, concorrentes, agências de propaganda e órgãos federais, estaduais e municipais. Ainda há encalhe! Ficam as perguntas a respeito do preço que cobram por suas páginas, esses jornais. Supondo 3 leitores por jornal, são 75 mil pessoas, em um universo de quase 2 milhões! Permitam-me pugnar pelo meu rádio, que atinge o triplo, pelo menos, a cada cinco minutos. Mas é o rádio e "não deu no jornal", enfim. Uma das minhas alegrias atuais é chegar no Rio de Janeiro e comprar O Globo e Jornal do Brasil. Atualmente, leio ambos pela internet. Mas as experiências mostram que até agora, aquilo que é obtido em comercialização, via web, não chega a 30% das despesas dos jornais com suas redações. Vários jornais, nos Estados Unidos e Europa estão desesperados. Li em algum lugar que o próprio Sarkozy, presidente da França nas horas vagas em que não está (argh!) namorando Carla Bruni, pretendia oferecer dinheiro aos jornais, corte nas tarifas postais e assinatura grátis a leitores jovens, para se engajar na luta pela imprensa, pela leitura. Isso será, se verdade, um tremendo erro, pois deixará a imprensa de mãos atadas para cumprir seu principal dever de fiscalizadora da sociedade. Jornais patrocinados? Bem, digamos que já temos isso por aqui. Blogs? Com o fim dos jornais, será a vez dos blogs? Patrocinados? Com que credibilidade?
Leio com desespero uma coluna da revista Troppo, que focaliza uma pessoa e suas leituras. Não há jeito, é sempre um livro de auto ajuda. Será que ninguém mais gosta de romance? Autor paraense, nem pensar..

Luiz Braga em Veneza

Nós, paraenses, somos realmente estranhos. Há como que um clube do fracasso a vigiar os passos de todos, para impedir que qualquer um de nós se destaque. E se, mesmo assim, esse destaque é obtido, até o noticiamos, mas como algo menor, ou usual. Escrevo isso a respeito da mais recente conquista de Luiz Braga, um dos maiores fotógrafos do mundo, com obras expostas na Bienal de Veneza. E mesmo assim, ele continua morando em Belém. Se me perguntarem o que fazer por Braga, não sei. Me encheu de orgulho. É meu amigo. Gostaria que algo seu estivesse sempre em exposição. Que seus álbuns estivessem à disposição por preços baratos de maneira a muitos poderem ver. Gostaria, sobretudo, de um maior destaque na nossa mídia. Eu fiquei orgulhoso.

Como os olhos de um bandido

Tenho assistido a vários filmes concorrentes ao Oscar. Alguns ambientados em guerras, outros no clássico western. No final de semana, Vicky Barcelona. Imagino se nosso prefeito, qualquer um, certo? Imagino se fizesse a mesma proposta feita a Woody Allen para filmar em Barcelona. O novaiorquino fez um filme solar, cheio de amor, verão e pouca preocupação. Scarlet Johansson e Penélope Cruz já seria o suficiente. E o tal beijo entre ambas, não tem nada de apelativo, francamente. Não lembro o protagonista, o mesmo de Onde os fracos não têm vez, Javier Barden, sei lá, mas não lembro, principalmente da outra atriz, de beleza, digamos, mais comum, e talvez, por isso, tão linda, tão next door. O filme? Que filme? Barcelona, já! Quanto a Benjamin Button, de pequeno e curioso conto de Scott FitzGerald, vira como que um épico, 3 horas de duração. Deve ganhar muitos Oscars, mas não deveria, nem para Brad Pitt ou para a belíssima Cate Blanchett. Me explico: com tantos momentos de narração em off, time flying, sobra pouco espaço para atuações marcantes. Nem sabemos quando Brad está em cena, no início do filme, pois nem a melhor maquiagem o deixaria com cerca de 1 metro de altura. E olha que ele nem alto é. Mas o filme é uma delícia de assistir, com as pessoas livrando-se dos percalços da vida, sem que isso represente algo representativo, ou seja, alguém sempre deixa uma herança, ou tem um talento reconhecido de tal forma que terá dinheiro para simplesmente gastar e assim, viver essa vida de aventuras. Super FitzGerald. A tal Operação Valkyria, de Tom Cruise também é meramente interessante e sim, Cruise não convence como o coronel nazista arrependido. Finalmente, by now, vi The Wrestler, com Mickey Rourke e adorei. É uma história triste, bem triste, contrastando com o brilho falso dos holofotes. Rourke é veterano lutador de Vale Tudo, daquele em que tudo é ensaiado, como tivemos aqui o Teddy Boy Marino e até mesmo, nossos Bufalo e Tourinho. Corpo arrebentado, vive procurando frilas para completar o aluguel. Tem uma filha que o odeia por tê-la abandonado e paquera uma stripper que por seu lado teme qualquer relação por ter, também, uma filha, que pretende criar longe de tudo. Rourke, ou Ram, tem um infarto e implanta marca passo. Ao mesmo tempo, tenta contato com a filha. Há um diálogo entre os dois sensacional. Ela ao insultá-lo pesadamente. Ele por aturar tudo e devolver com o arrependimento, perdão e o pedido para ampará-lo, agora que precisa. E tudo isso com aqueles olhinhos infantis, como os olhos de um bandido, que Rourke tem. Momento extremamente emocionante. Me pegou.