terça-feira, 27 de setembro de 2011

Meu Experiência

É muito bom, em meio ao deserto de idéias que vivemos, poder festejar o Grupo Experiência por sua carreira nos palcos paraenses e sobretudo por sua permanência, a despeito de tantas dificuldades. É claro que com tantos eventos, tantos espetáculos e figuras, muito tenha ficado de fora não sendo, por isso, menos importante. Como aqui é meu blog, posso escrever sobre "Meu Experiência", afinal, foi o grupo, foi Geraldo Salles a permitir que eu estreasse com um texto teatral., "Foi Boto Sinhá". Com 16 anos, eu e meus irmãos ouvíamos, líamos a respeito das ópera rock "Jesus Christ Superstar" ou "Hair". E também David Bowie, Alice Cooper e outros. O rock andrógino. Mas o que era mesmo ser andrógino era algo vago, embora moderno, ligado a tudo de novo na cena. Why not escrever uma ópera rock? Assim, veio a idéia do "Boto andrógino", que comecei a escrever, para musicar com meu irmão Janjo, ambos adolescentes efervescentes. Tanto que Janjo decidiu ser pintor e eu segui escrevendo. Como veio o contato com Geraldo, não sei. O que lembro é de estar em minha casa, na companhia do poeta José Maria Villar Ferreira, mexendo, colocando poesia, estrutura, no que se chamou "Foi Boto Sinhá", onde contávamos a famosa lenda até o momento em que, em vez do Bôto pegar uma caboca, pegava o caboco! E quebrávamos a estrutura regional e caíamos em algo de cabaré, em um deboche do macho amazônico, terminando em grande festa. As músicas, uma escrevi a letra, mas não lembro se a música foi de Waldemar Henrique ou Roberto Reis. As outras, faixa título do grande maestro e alguns carimbós tradicionais, já tocados pelo grupo de Mestre Venâncio. Estréia no Teatro da Paz, lotado! Nunca esqueci do começo. Black out e os tambores do carimbó fazendo meu coração dar saltos. Houve várias outras montagens, em todas havendo mudanças no texto, na maneira de encarar a questão do gay na sociedade. Seu ápice foi em um Mambembão onde o Grupo fez Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, colhendo aplausos, bis, matérias entusiásticas. Lembro de SP. Estréia em uma quarta feira de cinzas. Estamos chegando ao Teatro Anchieta, do Sesc, umas cinco da tarde. Havia uma fila. Deve ser para o cinema. Não. Era para um espetáculo extra do Boto. E ao final, pedidos de bis para a última cena. Fizemos o Bôto em Barcarena e Abaetetuba. Nesta, em um ginásio de esportes, duas, três mil pessoas em profundo silêncio, com medo do boto.. O que veio depois? Talvez tenha sido "Angelim, o outro lado da Cabanagem". Eram 150 anos do movimento. Cacá Carvalho havia passado por aqui com seu "Macunaíma", de Antunes Filho. Muita gente no palco. Rui Barata me aconselhava. Escrevi. Meu amigo Rohan Lima decidiu fazer. Não era Experiência, mas lá estavam Paulo Fonseca, Rui Cabocão, Cleodom Gondim, Edgar Castro, tantos outros, mais Sonhão, então, apenas manequim, Henrique da Paz, emprestado do Gruta, mais Teka Sallé e suas bailarinas, Ronald, o saudoso bailarino e até Fafá de Belém que gravou, gratuitamente a música tema, de Antonio Carlos Maranhão. Foi a primeira peça patrocinada. Banco do Pará. Se estou certo, deu CR$80 mil. Pior, ao final de três meses em cartaz no Teatro da Paz, devolvemos a quantia, integralmente. Era assim. O que veio então? Uma comemoração pelos 20 anos do grupo? Sei lá. Decidiram encenar duas peças, com elencos diferentes, turma mais velha, turma mais jovem. A mais velha fez "Quem te fez saber que estavas nu", de Nelson Rodrigues, direção de Mercês, com Geraldo Salles, Natal Silva, Paulão e Beth Dopazzo em cena. Fiz a música. Pela primeira vez, a melodia. Até hoje acho bonita. A turma mais nova se deu melhor. Pegaram o texto de um jovem autor paulista e fizeram "A terra é azul". Fiz toda a trilha. Ganhei prêmios. Eu, Carlos Reimão e a gaita do Edgar Augusto, tocando em estúdio. Viajaram. Estiveram com Antunes e Gerald Thomas. Houve também "Dom Chicote", infantil, onde fiz a trilha, novamente. E aí fizeram "Quem te fez saber que estavas nu". Não lembro a autoria. Fiz novamente a trilha sonora. E então voltei de uma viagem disposto a escrever comédias tipo as que faziam no Rio de Janeiro e chamaram de "besteirol". Escrevi "A Menina do Rio Guamá" e foi mais um super sucesso. Teatro da Paz e Schivazappa lotados. Sessões extras. Festival do Experiência. Um espetáculo por dia. Era muito legal. Mas o tempo passou. Alguns saíram. Outros voltaram. Alguns foram e não voltaram mais. Me vi começando a trabalhar com o Grupo Cuíra. Veio Cacá Carvalho, mais próximo. Qual a razão de um texto? O que eu quero dizer com isso? Ficou o amor e a admiração por Geraldo Salles e a turma toda. Amizades eternas que se renovam a cada encontro, mesmo que esporádico. O "Meu Experiência" foi especial, emocionante, revelador e formador, sobretudo.

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