terça-feira, 20 de setembro de 2011

Película para não ver a verdade

Mais uma vez, alguém olha meu carro e me sugere colocar película. Em seguida narra o assalto que foi vítima. Não uso película. Há muito. Por várias razões. Primeiro porque acho feia sua utilização. Cafona. Antigamente, essas películas eram usadas apenas por autoridades com medo da população. Depois, ressurgiu como moda e logo depois, como proteção contra a violência. Alguma lei imbecil liberou. Não uso película porque, ao ficar atrás de um carro peliculado, não consigo olhar através de seus vidros, antecipar qualquer problema de trânsito. Quando vou atravessar alguma rua e há um carro peliculado, não consigo ver se vem outro carro. Tem de ser uma lei errada. Não uso película porque, um dia, li uma matéria onde o sujeito, sequestrado, contava que os ladrões passavam frente guarnições da Polícia rindo, porque não eram vistos. E também me recuso a ser covarde, me esconder. Me recuso a prejudicar os outros carros por conta de meus vidros peliculados. E me recuso porque é cafona pacas. Sim, sei que hoje um assalto é uma questão de loteria. Sorte. Qualquer um de nós, a qualquer hora do dia, em qualquer local, pode ser assaltado. Acontece a todo momento em vários pontos da cidade. É uma terra sem lei e somos as vítimas preferenciais, burgueses, classe média, que estudaram, trabalham loucamente e mantém um mediano padrão de vida. Às vezes, quando me falam, até fico pensando, mas chego às mesmas conclusões. E também avisei aos amigos. Não adianta passar de carro e apitar, chamando minha atenção. Não vemos nada. Não podemos reconhecer ninguém. Talvez seja isso. Não queremos ver a verdade. Enquanto ficamos em nossos altíssimos prédios, onde temos academia de ginástica, piscina, tv a cabo, internet, todos os serviços, estamos bem. Quando pomos os pés na rua, pisamos na lama. Pegamos o carro e queremos ficar dentro de um cocoon, protegidos de tudo, quem sabe, blindados. Bucéfalos importados, off roads disfarçados, cheios de luxo, parecem tanques de guerra e sim, preparados para chafurdar na lama da selva, mas sem se sujar. Não encaramos a verdade. Vivemos na selva. Voltamos para a selva. Fiquei primeiro aborrecido quando mais uma vez fomos ao noticiário nacional e internacional com violação de direitos humanos. Mas como se aborrecer? Vivemos a selvageria. Adolescentes que já praticam sexo há muito, violentadas por presidiários. Presidiários que prestam favores sexuais a presidiárias. É o fim do mundo. Selva total. E isso vivemos no dia a dia, quando vamos às ruas. E quando vamos, não queremos ver nada. Ficou confuso? É assim mesmo que está.

3 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Meu querido, achei curioso que o teu texto não menciona o motivo que, segundo consta, é a primeira razão de ser das películas: proteção térmica.
Uso películas bem escuras no carro (naturalmente, no vidro dianteiro não) e o meu motivo é apenas me proteger do calor, que em nossa terra é inclemente e indecente. Não resolve, mas ajuda. E como ajuda, otimiza o ar condicionado e melhora o consumo de combustível. Juro que é esse o meu motivo. Além do que eu não acho cafona, não. Penso que dá até um ar elegante. (E olha que detesto qualquer tipo de tunagem, que considero uma grande babaquice.)
No mais, não considero relevante o suposto fator de segurança, porque além do ponto que abordaste, há o fato de que os criminosos podem render a vítima entrando ou saindo do veículo. Além disso, mesmo num carro totalmente exposto a vítima se manteria inerte, caso soubesse ter uma arma apontada para si.
Em síntese, de todos os motivos pelos quais se coloca película em carro, continuo acreditando no conforto térmico, tão somente. E creio que a regulamentação técnica levou em conta os parâmetros necessários. Por isso, faço como a regulamentação permite.
Um abraço.

Edyr Augusto Proença disse...

Sim, Yúdice, esqueci a questão térmica e confirmo que você tem razão nesse ponto. Também estou certo que você está dentro das normas. Mas ainda assim, não uso película.
Abs
PS. Tua filha está linda

Zé Gondim disse...

Grande Edyr, isso: sem películas (ultrapassadas, inclusive a dos filmes, que agora já se filma em vídeo...)! Abração,
Zé Gondim