sábado, 26 de novembro de 2011

Jimi

Votação na Rolling Stone coloca Jimi Hendrix como o melhor guitarrista de todos os tempos. Concordo. Tenho tentado ouvir alguns dos artistas novos, sobretudo brasileiros e não gosto. Talvez esteja ficando velho, deixando que tudo o que já ouvi se sobreponha às novidades. Li um artigo de Ismael Machado, a quem admiro, louvando Marcelo Jeneci. Já o ouvi. Um disco bom, meramente superior aos outros. Admirei sua doçura, entrevistado por Jô Soares. Ponto. E ponho Jimi para ouvir. Viajo. Estava deitado em meu quarto, descansando do futebol que jogara no Colégio Nazaré, naquela manhã de sábado. Meu irmão Edgar chega da Rádio Clube, onde já trabalhava. Éramos três no quarto, contando com Janjo. Vai em direção ao seu aparelho de som e põe para tocar um disco que havia ganho. "Electric Ladyland". E minha vida nunca mais foi a mesma. Era tudo o que precisava. Até então, ouvia tudo o que meu irmão ouvia. A voz, a música, a guitarra, o arranjo. Adiante estava no Rio de Janeiro, com minha avó. Em frente, Posto 6, Av. Nossa Senhora de Nazaré, havia uma loja antiga, dessas com cabine para ouvir os discos, de madeira escura. E lá ouvi "Are you experienced" e "Axis: Bold as Love". Nas maluquices do Brasil, os discos foram lançados fora de cronologia. Com os Beatles foi a mesma coisa. E veio "Woodstock", no Cinema Olimpia. Assisti sete vezes. O tal hino americano. Era muita coisa, ao mesmo tempo. Guardo até hoje um recorte de jornal com uma radiofoto de Hendrix tocando a guitarra com a língua, algo muito chocante para a época. Para mim. E então meu amigo Ivan Novais era dj da boate "Papa Jimi", na Presidente Vargas, ao lado do Edifício Piedade. Volto do estudo para vestibular, tinha 17 anos e subo na cabine para conversar. Encontro em um bolo de discos um vinyl com a gravação do show que Jimi realizou no Festival de Monterrey, sua porta de entrada nos Estados Unidos. Americano, tendo corrido o país acompanhando figuras como Little Richard, havia tentado a chance em Londres, onde rapidamente se tornou um guitar hero para Beatles, Stones & Cia. E abre o show com "Like a Rolling Stone". E arrasa. Não lembro se simplesmente peguei o disco ou se trocamos por outro. Nunca esqueço. E ouço de vez em quando. Do outro lado era o show de Otis Redding, no mesmo festival. Gravou pouco e no entanto, até hoje ainda há gravações inéditas ou remasterizadas. Um dos melhores é The Bag Rehearsals, creio, ensaios gravados em um cassete que estava em uma bolsa. Há pouco ouvi o disco novo de Leslie West, guitarrista e cantor gordo dos anos 60/70, que no Woodstock era da banda Mountain. O som é o de Jimi, na guitarra. O mesmo padrão sonoro. Sensacional. Há muitos grandes guitarristas e essas votações, por leitores, dependem muito do momento em que são feitas. Penso o momento que vivemos é o de jovens terem acesso a tudo, rapidamente. Ouvem uma carreira inteira em quatro horas e vêm conversar com a gente como se soubessem tudo. Não sabem do tempo que tínhamos, o tempo de ouvir cada disco até que saísse outro. As mudanças nossas e do mundo, nesse ínterim. E a expectativa pela chegada do novo. A escolha de Jimi como o melhor guitarrista de todos os tempos é justa por tudo o que ele fez, mais o sistema de relançamento e lançamento de suas gravações que nunca cessou e a nossa internet que facilitou a busca. Enfim, papo furado este, não?

3 comentários:

Edyr Augusto Proença disse...

Há uma matéria bem interessante com Jards na revista Brasileiros, que está nas bancas.

Raphael disse...

Está pra nascer uma lista de melhores guitarristas que ele não encabece. Talvez por isso, nem me dou ao trabalho de ler a maioria delas, pois geralmente a alternância de posições não muda muito a discussão. E Voodoo Child é a música que cimentou as regras de como usar um pedal wah. Abraços!

Scylla Lage Neto disse...

Edyr, o tempo passa, flertamos com a sonoridade de outros guitarristas, mas Hendrix sempre volta à vitrola, ao CD-player, ao i-pod, i-pad ou i-qualquercoisa, não é verdade?
Abraços.