sexta-feira, 11 de maio de 2012

Nós, os inventores

Não sou um inventor, essas pessoas maravilhosas que estão o tempo todo preocupadas em criar outras maneiras de realizar as coisas mais simples, ou sensacionais, por pesquisa ou talento. Mas hoje, dei de pensar nas pequenas invenções cotidianas. Por exemplo, lembro que em um domingo, eu e meu irmão Edgar, loucos para ir ao campo de futebol com nosso pai, para assistir à uma decisão qualquer de campeonato, fomos chamados pela mãe que impôs: somente iríamos quando aprendêssemos a dar o laço em nossos sapatos. Por algum motivo, até aquele instante, havia sempre alguém para a tarefa. Nem lembro quantos anos tinha. Isso pode ser até embaraçoso, mas não sabia. Nem o Edgar. Ali, no quarto, o tempo passando, angustiante, dei meu jeito. Ele também. O laço do Edgar é bem obtuso, bem imperfeito, eu diria, mas até hoje, ele o faz da mesma maneira. Como eu. Acho que o meu é mais próximo da maneira correta, mas ainda assim, uma invenção. A necessidade, sempre, como foi, um dia, compor jingles publicitários, ou políticos. Agora, com outro irmão, Janjo. Tínhamos a Rádio Cidade. Os anúncios eram gritados, como aqueles "AVISTÃÃÃOOOO", entendem? E ele, sempre empreendedor, comprou aparelhagem e criou um estúdio. Veio a encomenda. Uma loja de vespas chamada "Brito", da turma da Tágide. O que fazer? Pior, não toco nenhum instrumento. Bem, uns três acordes em sol maior, de cavaquinho, que meu pai tentou me fazer aprender. Mas minha cabeça era cheia de vento e ansiedade, não havendo paciência para o aprendizado. Como seria bom. Sem saber tocar nada, precisando da grana, inventei. Peguei a introdução de uma das músicas do Cure. Com a gilete, eu e o técnico Luizinho repetimos até juntar 30 segundos. Sobre aquele resultado, criei uma nova melodia e letra. Sei que parece "bafo", mas é verdade, com o jingle, ganhamos um Prêmio Nordeste Colunistas, algo assim. Depois veio o jingle do Roxy Bar e mais uns duzentos, talvez. Como? Não sei. Invenção. Comecei com o laço no sapato e lembro do nó. Nunca aprendi. Eu e Edgar estávamos na Feij, aprendendo a dar nó. Eu, criança, enrolava e me desculpavam. Não sei se o Edgar aprendeu. Eu, não. E estalar os dedos? Assim, como fazemos para chamar cachorro, ou para dizer que algo ocorreu há muito tempo atrás. Eu estalo. Do meu jeito. Chega a ser ridículo. Tem tudo para dar errado. Mas estala. O barulho é até diferente, mas é o estalar de dedos. Como aprendi? Inventei. E sigo inventando.
Quando penso nos livros que escrevi, penso também na audácia em tê-los lançado. Minha poesia tem berço nos poetas marginais, mas o resto, é tudo inventado. Meu ritmo, as palavras, como fazer. Leio outros poetas, percebo sua técnica e quanto a mim, não percebo nada. Inventei aquilo. Talvez devesse ter estudado antes. Escrevi crônicas, teatro, contos, romances. Inverti o que normalmente acontecem. Escritores começam pelo conto e depois, o romance. Não tinha nenhuma base. Apenas o conhecimento de leitura. Fico pensando se é exatamente esse toque de diferença, de invenção, que é o fator determinante, pois afinal, a vida é a mesma, os acontecimentos, diferindo apenas a maneira de escrever, relatar, contar. Agora vem um musical para dirigir. Como escrevi, tenho cenas na cabeça, terei o auxílio luxuoso de Leonel Ferreira na direção, mas não tenho aprendizado algum. Invenção. E você, o que inventa?

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