segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ouvindo Islands, do King Crimson


Meu irmão Janjo me deu de presente o primeiro disco do King Crimson, uma banda inglesa liderada pelo guitarrista Robert Fripp, tendo nos vocais um tal de Greg Lake, que adiante formaria no trio Emerson, Lake & Palmer. Foi como dar de frente com um caminhão. A estética. Uma mistura de rock, jazz, folk e erudito, feita com a maior qualidade. Eu tinha uns 16 anos, se tanto. Hoje, seria como ter uns 9 anos de idade, tendo em vista o conhecimento que hoje se oferece a todos. Pouco antes havia sido Hendrix e Joplin. E já tinha Beatles, Stones e os anos 60. A década seguinte iniciava e a “head music” ou rock progressivo dava as cartas. A garotada corria para os conservatórios. Bandas como Yes lotavam estádios. E o público ouvia contrito, sorvendo as harmonias, a estética. Depois veio o punk rock derrubar tudo. Aprenda três acordes, monte uma banda e mude o mundo. Estou de acordo. Mas não precisavam destruir o progressivo. Foi assim. Era necessário para impor outra coisa. Realmente, o rock não podia ser de conservatório. O rock progressivo ainda existe com seu público fiel. Estou fora há muito, mas absorvi, na época, o que pude. Foi enriquecedor. Formou minha persona, revolucionou meus padrões. Me emocionou. EL&P me fez ouvir Mussorgsky, tocado por orquestra. Muitos outros. O Yes com a “Sagração da Primavera”. Mas nada como o King Crimson de Robert Fripp. É a maior e melhor banda de todos os tempos. Todo esse nariz de cera porque ao tentar incluir em uma melodia, uma voz como Verônica, chorando a morte de Barata, para o musical que escrevo para o Cuíra, lembrei do disco “Islands”. Peguei uma edição que comemora sei lá, 40 anos de lançamento, acho, com refino total do som e percepção de detalhes maravilhosos de instrumentos. Ao ouvir, veio toda aquela época, os sonhos, a emoção da descoberta, o impacto estético em uma torrente. Impossível não chorar.
A banda teve formações bem diferentes a cada disco, portanto, é Fripp o grande catalizador. Os músicos entraram e saíram principalmente por falta de dinheiro. O KG nunca teve o mesmo apelo de um Yes ou EL&P. Lembro de estar no Rio de Janeiro e encontrar, na saudosa Modern Sound, os discos “In the Wake of Poseidon” e “Cirkus”, geniais. Garoto, escondi os discos em meio a álbuns de música erudita, para ir até a casa, pedir dinheiro para minha avó, com quem morava. “Islands” ainda hoje, acho, o melhor de todos. É um tanto embaraçoso ler as entrevistas, a naturalidade com que todos falam de peças musicais, na minha opinião, tão ricas. Falam das dificuldades, das músicas feitas para as groupies, no verão europeu, da ilha de Formentera. Há no cd  comemorativo excertos de ensaios, onde as mesmas músicas surgem com tentativas muito interessantes. E Fripp juntando essa turma. Na abertura, cellos rugem, o ritmo vem lento e marcado. Depois da letra, ficam os instrumentos duelando, Fripp no violão, mais flauta, sax, mellotron e de repente, uma soprano dá um show, terminando com uma guitarra que geme e corta o ar. Há muitos outros tesouros. E as ilhas, “Islands”, como me inspiraram a escrever, divagar, sonhar e me enriqueceram esteticamente. Enfim, foi KG que me inspirou para esse trecho da trilha sonora do “Barata”. E quando mostro no estúdio a outros músicos eles ficam loucos com a genialidade da banda, os timbres, os solos, descobertas, harmonias lindas, o sax que guincha e duela com a guitarra. Foi um privilégio. Hoje consegui gravações ao vivo do grupo, rolando o maior jazz, super show. Afirmo com todas as letras que é a maior e melhor banda de todos os tempos. Fripp é gênio.

Um comentário:

ILIKE CHOPIN disse...

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Post vídeo. Aguçaste a curiosidades de seus leitores. Pois poucos têm acesso a tanto acervo musical.