Meu
irmão Janjo me deu de presente o primeiro disco do King Crimson, uma banda
inglesa liderada pelo guitarrista Robert Fripp, tendo nos vocais um tal de Greg
Lake, que adiante formaria no trio Emerson, Lake & Palmer. Foi como dar de
frente com um caminhão. A estética. Uma mistura de rock, jazz, folk e erudito,
feita com a maior qualidade. Eu tinha uns 16 anos, se tanto. Hoje, seria como
ter uns 9 anos de idade, tendo em vista o conhecimento que hoje se oferece a
todos. Pouco antes havia sido Hendrix e Joplin. E já tinha Beatles, Stones e os
anos 60. A década seguinte iniciava e a “head music” ou rock progressivo dava
as cartas. A garotada corria para os conservatórios. Bandas como Yes lotavam
estádios. E o público ouvia contrito, sorvendo as harmonias, a estética. Depois
veio o punk rock derrubar tudo. Aprenda três acordes, monte uma banda e mude o
mundo. Estou de acordo. Mas não precisavam destruir o progressivo. Foi assim.
Era necessário para impor outra coisa. Realmente, o rock não podia ser de
conservatório. O rock progressivo ainda existe com seu público fiel. Estou fora
há muito, mas absorvi, na época, o que pude. Foi enriquecedor. Formou minha
persona, revolucionou meus padrões. Me emocionou. EL&P me fez ouvir
Mussorgsky, tocado por orquestra. Muitos outros. O Yes com a “Sagração da
Primavera”. Mas nada como o King Crimson de Robert Fripp. É a maior e melhor
banda de todos os tempos. Todo esse nariz de cera porque ao tentar incluir em
uma melodia, uma voz como Verônica, chorando a morte de Barata, para o musical
que escrevo para o Cuíra, lembrei do disco “Islands”. Peguei uma edição que
comemora sei lá, 40 anos de lançamento, acho, com refino total do som e
percepção de detalhes maravilhosos de instrumentos. Ao ouvir, veio toda aquela
época, os sonhos, a emoção da descoberta, o impacto estético em uma torrente.
Impossível não chorar.
A
banda teve formações bem diferentes a cada disco, portanto, é Fripp o grande
catalizador. Os músicos entraram e saíram principalmente por falta de dinheiro.
O KG nunca teve o mesmo apelo de um Yes ou EL&P. Lembro de estar no Rio de
Janeiro e encontrar, na saudosa Modern Sound, os discos “In the Wake of
Poseidon” e “Cirkus”, geniais. Garoto, escondi os discos em meio a álbuns de
música erudita, para ir até a casa, pedir dinheiro para minha avó, com quem
morava. “Islands” ainda hoje, acho, o melhor de todos. É um tanto embaraçoso
ler as entrevistas, a naturalidade com que todos falam de peças musicais, na
minha opinião, tão ricas. Falam das dificuldades, das músicas feitas para as
groupies, no verão europeu, da ilha de Formentera. Há no cd comemorativo excertos de ensaios, onde as
mesmas músicas surgem com tentativas muito interessantes. E Fripp juntando essa
turma. Na abertura, cellos rugem, o ritmo vem lento e marcado. Depois da letra,
ficam os instrumentos duelando, Fripp no violão, mais flauta, sax, mellotron e
de repente, uma soprano dá um show, terminando com uma guitarra que geme e
corta o ar. Há muitos outros tesouros. E as ilhas, “Islands”, como me
inspiraram a escrever, divagar, sonhar e me enriqueceram esteticamente. Enfim,
foi KG que me inspirou para esse trecho da trilha sonora do “Barata”. E quando
mostro no estúdio a outros músicos eles ficam loucos com a genialidade da
banda, os timbres, os solos, descobertas, harmonias lindas, o sax que guincha e
duela com a guitarra. Foi um privilégio. Hoje consegui gravações ao vivo do
grupo, rolando o maior jazz, super show. Afirmo com todas as letras que é a
maior e melhor banda de todos os tempos. Fripp é gênio.
Um comentário:
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Post vídeo. Aguçaste a curiosidades de seus leitores. Pois poucos têm acesso a tanto acervo musical.
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