quarta-feira, 25 de julho de 2012

Aquele verão

Era julho, no Mosqueiro. Algumas famílias passavam as férias escolares ali. Os pais chegavam no navio da sexta feira à noitinha e voltavam na segunda, bem cedo.
Ficavam as esposas e as crianças. Mas naquele dia, parece que a mãe também havia ido para Belém com o irmão mais velho e eu não estava autorizado a tomar banho na praia. Doze, quatorze anos, sei lá. Hoje em dia essas medidas fazem rolar de rir, mas era assim. Havia uma árvore na pracinha localizada quase em frente à casa "Celina", no Farol. Meio deitado em um dos galhos, eu desfrutava do silêncio, da algazarra distante, do vento nos coqueiros e açaizeiros e pensava na vida. Como, esse instante, ficou tão fixado em minha memória?
Era depois do almoço e de repente, bateram palmas ao portão. Duas meninas. Vizinhas. Uma do lado, outra da casa em frente. Pediam emprestado meu aparelho de som. Meu? Pediam a mim, algo? Meninas? Meu "som" era um móvel de madeira, razoavelmente pesado, mas absurdamente "portátil". Grande, o mondrongo pegava umas seis pilhas grandes e funcionava como rádio e toca discos. Mas é claro que empresto! Foram para a casa de uma delas e lá ficaram ouvindo suas músicas. Não me convidaram. Fiquei, de longe, assistindo. Não, eu não estava preocupado com o "som". Eu estava apaixonado. Depois o cantor Adamo lançou "F comme Femme" e eu ouvi quase furando o compacto. Nunca trocamos mais de duas palavras. Nunca mais pediu emprestado. Nunca mais. O que eu podia fazer? Baixinho, magricelo, cabeçudo e vivendo a transformação para adolescente. Nada tinha a oferecer. No verão seguinte apareceu um tenista, mais velho, alto, cheio de si. A vida seguiu em frente. Ainda hoje, o que tenho a oferecer? Mas aquele verão mudou toda a minha vida.

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