quinta-feira, 9 de agosto de 2012

70 Caetanos

Caetano Veloso é meu ídolo. Minhas primeiras lembranças são de vê-lo, na tv em p&b, fazendo um programa em que acertava canções a partir de pistas dadas. Competia, entre outros, com Chico Buarque. Sim, eu lembro dele no Festival da Record, cantando "Alegria, Alegria". Eu era muito novo mas ele já me despertava com sua agressividade criativa, a figura diferente, a música nova. Lembro de seu casamento, passando na tv e de sua ida ao Chacrinha. E então ele veio a Belém, se apresentar em um festival de música ou de grupos musicais, no Ginásio Serra Freire, do Clube do Remo. Os Baobás acompanhando, ele sentado em um tapete, toma uma flor e começa a comer. Vivendo em Belém, distante de tudo, atrasado nas informações, mas desesperadamente interessado em saber, achei aquilo muito estranho. Muito moderno.. Quando entrei na Rádio Clube do Pará, achei seus primeiros lps e compactos. E então veio o disco do "Alegria, Alegria" e pronto. Tudo o que ele fazia era moderno. Suas músicas, suas letras, atitudes, visual. Eu o entrevistei uma vez, após o lançamento de "Velô". Pareceu-me baixinho, pequeno, mas no palco, um gigante. Como disse no aceso da gravação de "É Proibido Proibir", "eu e Gil entramos e saímos de todas as estruturas". Caetano comentava filmes, livros, tudo. Respondia a insultos. Quando voltou de Londres, pintou a boca, usou saia e tamancos holandeses, imitando uma Carmen Miranda. É muito difícil dizer o que mais gosto nele, mas penso que aquela fase do "Muito", quando corria o Brasil com sua banda, foi maravilhosa. Ele não concorda. Paula Lavigne acabou com isso. Descobriu que aquela turma toda se divertia muito, mas Caetano, um grande astro, não ganhava dinheiro. E aí inicia uma fase em que ele ficou rico e a qualidade, por algum motivo, foi caindo. Seus discos deixaram de ser bons por inteiro. O compositor foi piorando. Desculpe, acostumou-nos tão exigentes! O cantor continuou excelente. Mas penso que nos últimos dez ou quinze anos, caiu muito. Desgosto brutalmente de seus últimos discos, mais roqueiros. Compro, no entanto, porque é meu ídolo e o admiro, mesmo assim. Mais do que de Gil, embora também seja meu ídolo. Mais do que Chico, do qual atualmente gosto mais. Eu achava Chico careta. Me enganei. Mas é que Caetano.. Há pouco ouvi sua discografia. Tem razão, às vezes ele parece apressado em terminar as canções. Há versos que sinto, um pouco mais de trabalho e ficariam melhores. Agora escreve aos domingos em O Globo. Às vezes, muito chato. Escreve muito. Demais. Palavras demais. Incomoda. Em outras, revelações e belezas. Meu ídolo faz 70 anos e me dou conta do tempo que passa, que também tenho cabelos brancos e agora serei avô.

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