terça-feira, 28 de agosto de 2012

Barata vem aí, o bicho vai pegar!

Agora contamos as horas para a estréia de Barata, pega na chinela e mata. Foram dois anos entre primeiros estudos, conversas, oficinas, criação, ensaios e montagem. Um orgulho conseguir o patrocínio da Petrobrás. Mais do que isso, poder manter o Cuíra em atividade, mesmo no deserto de idéias em que a área cultural vive no Pará. Aqueles quinze minutos antes de abrir as portas ao público são os melhores momentos de toda uma vida. Quem já viveu, sabe. Perguntamo-nos se "eles virão". Sempre. Olho para trás e vejo o quanto de trabalho foi feito. Já escrevi um bom número de textos teatrais. Acompanhei montagens e agora comemoro minha terceira direção, desta vez, com a parceria luxuosa de Leonel Ferreira. Como começo a escrever? Quando? Não sei. Cada texto tem sua vontade, seu motivo. Nunca sei como iniciar ou onde vai dar. Estudei a vida de Barata. O sensacional livro de Carlos Rocque. Reli Haroldo Maranhão. Raymundo Sobral e Salomão Laredo enviaram livros. Na Conversa Barata ouvi as histórias, conversei com Aurélio do Carmo. Como vieram as músicas? Na rua. Em minha casa, ligando o gravador, deixando fluir a melodia, a letra. Houve uma que fiz a caminho de uma pelada de futebol. Gravei no Iphone. Como um quebra cabeças. Ir e vir nas datas. Meu compromisso é com o espetáculo. As escolas que tratem de ensinar melhor a história do Pará. Não fiz um documentário e sim uma peça de teatro. Para rir, chorar, emocionar e até ficar com raiva. Qual vai ser o processo, desta vez? Não há fórmula, pelo menos eu não tenho. Qual a primeira cena a ser encenada? Os papéis sendo distribuídos. Mudei uma cena inteira na metade do processo. Você escreve, leva o papel para o ator e no dia seguinte o assiste. Legal. Meu irmão Edgar Augusto e os amigos Nilson Chaves e Lucinha Bastos gravaram as músicas belamente tocadas por Jacinto Kahwage. E aos poucos tudo vai encaixando.  E compomos o elenco. Gente do entorno do Cuíra. Prostitutas, michês, gente jovem que fez as oficinas e alguns atores experimentados. Imaginem como juntar elenco tão heterogêneo. Estamos falando de um musical. Canto, dança e teatro. Danilo Bracci e sua equipe deram força na coreografia. Adriana Malato, do elenco, aqueceu as vozes. Klau Menezes nos figurinos. Oriana Bitar na cenografia. A turma vai crescendo, todos estudando, dando seu melhor, opinando, enquanto os ensaios correm e vamos, eu e Leonel, ouvindo a todos, harmonizando, juntando, fazendo um todo. Acima de todos, Zê Charone, a comandante da produção, missão espinhosa, difícil, porque precisa dizer não, muitas vezes. Não pensem que é tudo cor de rosa, bonitinho. Brigamos muito, discutimos, argumentamos até encontrar a direção certa. Ficaram alguns pelo caminho. Houve um atraso. Compromissos. Tristes por quem não pôde continuar, mas o bonde continuou e agora contamos as horas para a estréia.
Pessoalmente não gosto de Magalhães Barata. Não gosto dessas pessoas que se impõe aos gritos, mandonas, fazendo o mundo do seu jeito, centralizadoras, enfim. Não são meu tipo. Mas são de muita gente. Barata, em toda sua longa atuação, ao longo de 60 anos de vida pública, influiu na vida de muitas famílias paraenses. A minha, por exemplo. Tive um tio, Raimundo Camarão, político, que foi embora e nunca mais voltou e outro, Líbero Luxardo, que foi seu braço direito. Na família de minha mãe, situação e oposição, convivendo. Nós, principalmente belemenses, não sabemos nada de nossa história. Fiquei emocionado ao ler Carlos Rocque. Tantas emoções! Belém era como uma Camelot, um mundo à parte, à meia distância de Londres, Paris, do Rio de Janeiro, na época, a capital. Sua gente, acontecimentos, dramas, política, cultural, um mundo maravilhoso que foi extinto com a chegada da Belém Brasília, da televisão e da revolução militar. O Cuíra falou disso tudo. Começamos contando um pouco da Zona do Meretrício em Laquê. Depois, a Rádio Clube em Prc5 - a voz que fala e canta para a planície. Agora vem o Barata.
Tomara que gostem. A equipe está muito esperançosa quanto ao público. Dentro de poucas horas, estaremos nos bastidores de mãos dadas, dizendo as últimas palavras, recomendações, ouvindo o burburinho e de repente, tocará a terceira campa. Um arrepio passará pelos corpos e a cortina abrirá. Nos Estados Unidos, dizem "break a leg". Aqui é o merda! Ao sucesso, Cuíra!

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