domingo, 9 de dezembro de 2012

Ah, sim

O vôo foi bom e tranquilo. No taxi o motorista parece não entender o endereço, tão fácil. É que estou há pouco tempo, avisa. Bom, talvez tenhamos um probleminha na Lagoa. O pessoal está indo contemplar a árvore de natal. Está quente. Abafado. Nublado. Fora isso e o inevitável cheiro que vem do mangue que fica na Favela da Maré, o Rio está lindo. Não, até que não houve problema na Lagoa. Quanto dinheiro, em percentual, você fica, desta corrida. Uns 40%. Bom, custou quase cem reais. Quantas corridas por dia? Umas cinco, seis. A Cooperativa ajuda na gasolina? Não, mas não gasta tanto assim. Tem que pagar taxa, dividir as despesas com boxes e tal. Eu tiro uns 12 mil por mês, mas tem cara aí que roda mais e faz até 18 mil ao mês. Bom, né? É. Estou há pouco tempo. Vamos ver. A vantagem é que o carro é meu. Muita vantagem. Mas eu pensei que o pessoal fosse mais unido. Sabia que o negócio de taxi especial, aqui no Rio, é dos portugueses? Não. Pois é, começou com eles. Você é português? Não, mas meu pai era. Ele mexia com material de construção. Uma vez fomos todos a Portugal. Estranhei meu pai todo bem vestido, nós também. Mamãe disse que não era para dizer nada. O pai queria voltar a Portugal nos trinques. Já trabalhei em São Paulo e mesmo aqui, em escritório de engenharia. Ouvi falar que estão pensando em unir todas as cooperativas de taxi. Acho errado. Nunca vi fusão ser boa para trabalhador. Mesmo entre bancos, empresas de engenharia, é sempre pior. Agora vai unir o pessoal que tem tabela com a turma do relógio? Estamos chegando. Na esquina do hotel, centro de Ipanema, um boteco desses arrumadinhos, está cheio de gente feliz, à vontade, bermudão, short, curtindo a vida. Penso muitas vezes que os cariocas são sempre figurantes de um lugar para férias. Basta olhar para eles e começar a relaxar. Ah, sim, pergunto se o motorista é engenheiro. Não, sou arquiteto. Ah, sim.

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