quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Tem de saber jogar

Infelizmente, meus colegas da área esportiva não têm estado dispostos a discutir possibilidades para o futebol. Mesmo assim, para externar algo que a cada jogo que assisto me causa impressão mais forte, vou postar. Acho que foi na Copa disputada na França que Tostão, entrevistando Chico Buarque, que veio o assunto. Os zagueiros. Haverá o dia em que o zagueiro terá de saber jogar tanto quanto qualquer outro, como os atacantes e meias. Na época, pensei que Cacá e Rivaldo, por exemplo, seriam dois bons zagueiros, pela altura, porte físico e boa impulsão nas bolas altas. Mais ainda, imaginem a qualidade técnica na saída de bola, hoje, principalmente, em que os zagueiros trocam bolas, até encontrar o melhor passe. Assisti ontem o Bayern de Munique, campeão do mundo, o melhor técnico do mundo, elenco estelar, mas com dois beques ruins de bola, Boateng e o brasileiro Dante. Exigidos, marcados sob pressão, eles se revelam beques de várzea, furando, dando chutões e causando pesadelos na torcida. Ali, é top de linha, exigência máxima, tem de saber jogar bola. Lembram de Luizinho, do Atlético Mineiro, que jogou na seleção de 82? Oscar também sabia jogar. Lembram do Belterra, baixinho, mas jogando bolão? É o que penso.

Theme for an imaginary western

Vocês sabem o que é ter 14, 15, 16 anos, talvez e ser atingido por uma bomba chamada Woodstock? Bomba que explode em Belém do Pará ali por 1970, talvez, no cinema Olímpia? Pois me pegou de jeito. Hoje, tenho discos, filmes, livros, quase como se tivesse estado ali, naqueles três dias de Música, Paz e Amor. Um dia desses, montei um cd com algumas das canções em suas versões de estúdio. Que incrível a música que nos faz arrepiar ainda hoje! É que por algum motivo, me veio à mente a apresentação do Mountain, banda de rock pesado, meio blues, formado por grandes e peçonhentas figuras como Leslie West, Felix Pappallardi e Jack Bruce, creio. É curioso porque, por conta de contratos de gravadoras, algumas bandas, não pertencentes ao selo que lançou o álbum triplo, tiveram licenciadas apenas músicas menos cotadas em seus discos originais. Em muitas ocasiões, isso acabou dando efeito contrário, como o Ten Years After, banda de blues, tendo de acrescentar rock and roll depois que encerrou seu show com um improviso genial com Alvin Lee destruindo na guitarra. Mas é que me veio à cabeça "Theme for an imaginary western", tocada pelo Mountain. No iTunes, podemos encontrar versões de estúdio, outras cantadas por Jack Bruce, Leslie West, algumas somente ao piano, outras somente com guitarras em variações deliciosas. Escrevo porque acabei de me arrepiar. A banda tocando no seu auge, o som correto, pesado, gostoso, se espalhando, tecendo um tapete sonoro para Leslie cantar e com espaço para a guitarra genial em seu solo longo, bem construído, habilmente levado até o momento de descer com tudo e encerrar. Meu Deus, como era bom! Como disse Gil, meu passado é um velho baú de prata dentro de mim. De vez em quando vou lá e fico remexendo as pedras.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Futebol do Pará - Idéias

Não, eu não acredito que os clubes do Pará cheguem novamente à série A do Campeonato Brasileiro. Não acredito porque embora nunca seja tarde para que normas profissionais sejam desenvolvidas, tenhamos platéias apaixonadas e uma imprensa excelente, há má vontade por parte de todos os outros. Quem mais participa do banquete? Alguém do Tocantins, Maranhão, Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, esqueci algum? As viagens são longas e penso que somente aqui no Pará ainda há rendas interessantes. Nos demais, nem isso. Infra estrutura, nada. Sei perfeitamente que afirmando isso causo uma impressão forte, naqueles que não imaginam o que seria de nós abandonando a CBF, sendo punidos, enfim, tudo. Há quem tenha feito a vida inteira a partir dela. Presidentes de federação se eternizam, participam das eleições, recebem benesses, viajam com a família para assistir as Copas. Empresários correm a região oferecendo pernas de pau. Técnicos também faturam com indicações. Dirigentes também. E o que fazer? Planejar profissionalmente. Aproveitemos que 2014 é ano de Copa e tudo será diferente. Enquanto isso, planejamos. O Pará é do tamanho de um país. É preciso um estudo de viabilidade sério para ser feita uma proposta ao Governo. Precisamos de campos de futebol. Nada desses estádios de Copa. Arquibancadas honestas e gramados bem cuidados para enfrentar o período invernoso. Técnicos da Embrapa, da Ufra, enfim, convênios seriam assinados. O campo de jogo é a primeira regra. Que campos? Em cidades pólo. Acordos com os prefeitos. Seriam equipes das cidades. Os atletas receberiam através da Prefeitura e certamente o Estado, porque a Secretaria de Turismo trataria de fornecer todas as maneiras a aproveitar as belezas do Pará para levar, a cada jogo, torcidas e turistas, deixando dinheiro, impostos, dando emprego a muita gente. A Tv Cultura transmitiria sempre um jogo, nunca o que estiver sendo realizado na mesma cidade, claro. A Federação contrataria atletas de bom nível e os ofertaria, com salário pago, a cada equipe do interior, de maneira a motivar torcida, jogadores e elevar o nível da disputa. As equipes seriam obrigadas a realizar jogos preliminares entre equipes de categoria inferior na idade, apostando em novos valores. O tempo de duração do campeonato? Sei lá. O tempo necessário, três, quatro meses. Nosso tempo é o nosso tempo. É impossível, profissionalmente falando, que o Estado não se interesse na idéia, tendo em vista o turismo, dinheiro, impostos e principalmente, a possibilidade de abraçar o Pará inteiro. O que fariam essas equipes, após o campeonato? Perderiam seus atletas, ficariam sem atividade? Não. Haveria outra competição, agora envolvendo as cidades localizadas no entorno de cada cidade pólo.
E o resto do ano? Tenho duas idéias que podem ser uma só. A Copa da Amazônia. Disputada por Estados da região, mais países localizados na Amazônia. Não sei quantos times. Não sei como é o calendário de Peru, Venezuela e demais. Precisa uma negociação. Mas vejam que já começamos a falar em dólares. E na medida em que nossas equipes locais, aqui do Pará, tenham uma clara chance de enfrentar de igual para igual nossos vizinhos, haverá interesse das torcidas. Equipes esportivas poderão ter patrocínios e principalmente, não teremos aqui, para assistir, jogos contra Itaperunas, Luverdenses e outros. A Copa Amazônia daria conta do resto do calendário. Ou então, primeiro, voltamos à Copa Norte ou Norte-Nordeste, apesar dos nossos irmãos nordestinos estarem bem cotados na CBF e possívelmente refuguem ao convite. 
Moramos longe. Os bonitinhos lá de baixo não querem vir até aqui. Não precisamos deles. Nunca mais, a não ser em uma Copa do Brasil, um jogo talvez, tenhamos aqui um Flamengo, por exemplo. Nunca mais. Precisamos ter uma saída. Penso nos colegas da imprensa, cada vez mais tendo dificuldades com patrocínios, enfrentando uma manada de elefantes por dia para dar entusiasmo, notícias dos nossos combalidos clubes. 
O futebol é um dos negócios mais lucrativos do mundo, no momento. Não podemos continuar com essa apatia, lassidão, burrice, falta de competitividade, descompasso com o mundo. Agora mesmo, reelegeu-se, mais uma vez, o presidente da Federação. Aproveitemos 2014 para negociar, planejar e desmanchar em 2015.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Nós, os invisíveis

Comecei a escrever e expor meus trabalhos publicamente pouco depois dos meus 16 anos. Lá se vai muito tempo. São doze ou treze livros, quinze a vinte peças de teatro, músicas, enfim, posso dizer que tenho uma obra. No entanto, a cada vez que vem um repórter novo fazer uma entrevista, olha para mim como um desconhecido. Como é mesmo seu nome? É seu primeiro livro? Quem é o autor do texto, é você, mesmo? Mesmo assim, sou profundamente agradecido aos colegas jornalistas, que nunca negaram espaço aos meus trabalhos. Recentemente, Anderson Araújo. Ismael Machado também escreveu muito bem. Quer dizer, no momento sou censurado na Tv e Rádio Cultura. Tudo porque, na qualidade de cidadão paraense, critiquei duramente ações dos veículos de comunicação e da Secretaria de Cultura, serviços públicos. Não é novidade. Há vinte anos que não sou chamado para nada que se refira a Literatura ou Teatro. Posso estender o assunto à Ufpa e também às particulares. Vejam, posso ser um mau escritor. Insistente e mau escritor. Mas, fora do Pará, tenho razoável acolhida, com trabalhos traduzidos e lançados em mercados importantes. Bem, poderiam dizer que sou comercial como um Paulo Coelho. Acho que não, sei lá. Também não gosto dele, mas li alguns de seus livros para ter a opinião. Os vinte anos de censura somente atrapalharam. Não deixei de escrever e mostrar trabalhos. 
Creio haver alguns motivos para esse fator "invisível", que atinge a mim e a maioria dos meus colegas, das diversas áreas. Temos vinte anos de um desmanche cultural, substituído por atitudes cretinas, com muita propaganda enganosa. Antes disso, minhas peças de teatro lotavam Teatro da Paz. Meus lançamentos de livros eram cheios. Falo por mim e pelos demais colegas. Esses vinte anos apagaram nossas figuras. Nossa classe média esqueceu do significado de Cultura, hoje traduzido em diversão, bebida, suor e apatia. Nós, os invisíveis, ainda somos enxergados por um número entre mil e dois mil pessoas, em um universo de dois milhões, na Grande Belém. São elas que saem de casa, deixando as novelas, filmes piratas, seu conforto, para assistir em salas pequenas, no Cuíra, no Cláudio Barradas, no Sesc, espetáculos, shows, exposições. 
Faço parte de um grupo que joga futebol aos sábados. Poucos sabem que sou escritor, mas não conseguem desenvolver o assunto comigo. São inteligentes, formados, bons profissionais de alto padrão financeiro. A Cultura não faz parte de suas vidas. No máximo, se vem uma peça do RJ com um artista global, a mulher enche o saco e vão assistir. Ou o show daquele grupo de pagode. Ir ao teatro assistir artista da terra, nunca. Quanto à periferia, pior ainda. Lá, há comunidades longamente acompanhadas por partidos políticos radicais. Através do Chega, tentamos contato, mas percebemos a falta de vontade de dividir ações, meramente por questões de poder político, o que não desenvolvemos.
E vamos pelas ruas, desconhecidos, invisíveis. Minha namorada participou, mais uma vez, de uma novela global. Às vezes a olham e não sabem se a viram ou não. Ou fazem como nós, paraenses, gostamos de fazer. Ignoramos como uma agressão. Aquele cara, que acharam parecido com Elvis Presley. Todos brincavam de chamá-lo. Um dia, na rua, andando, um cara chama, insistentemente "Elvis Presley"! Após todos os chamados, ele olha. "Tá aqui que tu és Elvis Presley"! E mostra um cotoco para ele. O que você faz? Sou escritor. Me olham sem saber o que dizer. Nunca leram livro meu. Nunca ouviram falar. Está fora do seu cotidiano. Esta é minha namorada. O que ela faz? É atriz. Atriz?
O público, no Cuíra, é razoavelmente conhecido. O teatro tem cem lugares. Quando lotamos é uma festa. Será que conseguiremos, um dia, nos tornar visíveis? Ter a Cultura local reconhecida, desenvolvida profissionalmente? Ano que vem, teremos eleições. PT e PSDB, os últimos a governar nesses vinte anos, foram péssimos. Em quem votaremos?
PP Condurú está com uma exposição. Tadeu Lobato na Galeria Assim. Há espetáculo no final de semana, no Cuíra, Loucura de uma Atriz. No Cuíra, estamos lançando o projeto Só Dói Quando Eu Rio, com os espetáculos "As Gêmeas Sedentas de Sexo", "Zuma"(título provisório), "Da Arte de Sair do Armário" e "Gilda"(título provisório), para começar 2014 a todo vapor. Na raça. Na vontade. Não temos leis. Não temos nada. Estamos conseguindo pequenos patrocínios. Temos amor pelo que fazemos. Fazemos por nós. Fazemos pela sociedade que não nos vê, mas haverá de. Nós, os invisíveis.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Desinteresse pela Cultura

A Prefeitura do Rio de Janeiro fez uma pesquisa, entrevistando mais de 1500 pessoas, a respeito do interesse das pessoas pela Cultura, no que diz respeito ao Cinema, Teatro e Museus. O resultado foi horrível. A principal razão alegada para o não comparecimento ou não desfrute da Cultura, foi o Desinteresse. Um percentual muito maior do que preço alto, distancia, falta de tempo ou falta de segurança. Cerca de 48% não vai ao cinema, 53% não vai ao teatro e 65% não comparece aos Museus por absoluto desinteresse.
Outros números revelam o percentual alto de pessoas mais velhas que não desfrutam da Cultura. Some isso aos jovens. Mesas redondas estão sendo marcadas para discutir e encontrar solução para que o povo volte a consumir Cultura.
Agora imagine o que vivemos em Belém. A situação é tão calamitosa no Estado, que nem vale à pena discutir. Mas em Belém, imagine quando a Prefeitura iria se interessar em saber os motivos pelos quais as pessoas não estão desfrutando da Cultura. A Prefeitura está completamente desconectada da Cultura há mais de trinta anos. Não há teatro municipal, nenhum outro aparelho. Durante todos esses anos, sempre houve pessoas encarregadas da área de Cultura, ganhando dinheiro, viajando, participando de feiras, reuniões e nada trazendo. Elas poderiam dizer que não receberam verbas para realizar qualquer coisa. Pois deveriam pedir demissão e não sujar suas biografias. 
Recentemente, tanto o Estado quanto o Município realizaram eleições para Conselhos de Cultura e que tais. Com medo de perder o domínio sobre o assunto, absurdamente um domínio para continuar sem fazer nada, entraram com apaniguados, fizeram pressão e levaram a melhor, elegendo suas turmas, ou seja, nada continuará a ser feito.
Nossos teatros hoje recebem apenas espetáculos ou vindo da Escola de Teatro da Ufpa, com alunos ou comédias com globais que vêm do Rio de Janeiro. No primeiro caso, geralmente ingressos gratuitos ou então com  familiares na platéia, encenadas no Teatro Cláudio Barradas, da Escola. No segundo caso, Teatro da Paz, mídia na Tv Liberal e platéias mais interessadas em fotografar os ídolos globais do que na peça. O governo está feliz. Estado e Município pensam que sufocaram os protestos do Chega. Estão enganados. Ano que vem haverá eleições. Não serão reeleitos. 
Talvez algum dia tenhamos dirigentes profissionais na área da Cultura. Ninguém quer paternalismo. Queremos trabalho, profissionalismo, planejamento. Queremos pesquisas como a da Prefeitura do Rio de Janeiro. A Cultura foi tão aviltada durante esses anos que hoje não há quem imagine que na base de toda essa violência, má educação, assassinatos, desobediência as leis e incivilidade está, justamente, a falta da Cultura. Quem sabe. 
Mas também não imaginem que o Chega está parado. Na área de teatro, já estamos ensaiando diversos espetáculos que farão parte do projeto Só Dói Quando Eu Rio, em cartaz a partir de janeiro de 2014.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A LOURA INFERNAL


Eu acho que conheci Mara Rúbia. Estava de férias no Rio de Janeiro, ainda garoto e fui a uma reunião na casa de um tio que morava lá. Vários paraenses. Ela estava lá, cabelo curto, conversando. Quando fui pesquisar para escrever a peça sobre o Barata, veio tudo o que algumas vezes meu pai havia mencionado. Compreendi porque ela sumiu daqui de Belém, onde voltou apenas uma vez, creio. Osmarina, seu nome verdadeiro, levou muita mágoa. Acabei de ler “Mara Rúbia – A Loura Infernal”, escrita por Isis Baião e Therezinha Marçal, esta, sua filha.

A Osmarina tinha pais complicados, rodou por cidades, morou no Marajó, mas quando adolesceu, veio para Belém e casou. Seu marido muito amigo do Dr. Adriano Guimarães, grande obstetra (trouxe a mim e a meus irmãos ao mundo), a quem chamava de tio. O marido tinha uma mãe de forte presença. Foi se afastando da mulher. Adriano por perto. Um dia, pintou os cabelos de louro platinado. Um escândalo. Na época, isso era coisa de puta. Queria chamar a atenção do marido. Nada. Descobriu que ele havia ganho uma herança. Seguiu-o até a zona. As mulheres. Ela e Adriano. Ele não casava. Tinha a mãe e a irmã. A cidade toda comentava. O marido e ele, amigos. Já havia três filhos. A vida não podia ser apenas isso. Deixa dois filhos com a mãe. Leva um para o Rio de Janeiro. Emprega-se como datilógrafa. Para trazer os outros filhos e a mãe, precisava de mais. Achou no jornal. Foi. Era um teatro de revista. De cara com Walter Pinto, um tycoon da época. Queria ser gil. As outras riam. Não é gil e sim “girl”. Você sabe o que fazemos aqui? Não, mas preciso do emprego. Levante as saias e mostre as pernas. Não. Me dê dinheiro que compro maiô e mostro amanhã. Walter deu. Ela era linda de rosto e tinha um corpo maravilhoso. Dali em diante, transformou-se em uma das mais conhecidas vedetes do Brasil. Incontáveis espetáculos, sucessos musicais nos carnavais. “Mamãe eu quero”, “Madureira chorou”, you name it. O TBC começou em seu apartamento. Arranjou mais um namorado que tinha mãe forte e não casava, mas bancava. A bossa nova deu seus primeiros passos. Veio a Tv. Apresentou programas. Começou a beber. Parou. Voltou. Doenças. Uma história fantástica de uma paraense que trocou de nome e talvez tenha desejado esquecer o Pará. Antes disso, nós a esquecemos. E ela foi maravilhosa. Vale à pena. A Editora é Aeroplano.

Blue Jasmine

BLUE JASMINE
Estréia nos próximos dias o mais novo filme de Woody Allen, “Blue Jasmine”. Espero que seja visto por um número grande de pessoas, ensejando a distribuidora a apresentar outros filmes de igual qualidade, ao invés de optar apenas por blockbusters. Cinema também é diversão, mas não vejo porque o divertimento precisa ficar separado da Cultura.

Acompanho razoavelmente os filmes de Woody Allen, um dos mais prolíficos cineastas dos nossos tempos. Filma com baixos orçamentos. Grandes atores, acostumados a ganhar fortunas, submetem-se a salários da tabela do sindicato pela honra de trabalhar com ele. Marco Antonio, grande conhecedor, contou-me que ele escreve roteiros sem parar. Também sabemos que ele gosta de privilegiar atrizes. Foi assim com Diane Keaton. Agora é com Cate Blanchett. O filme se passa em NY e San Francisco. O marido de Cate pode ser aquele banqueiro que causou um colapso nos EUA, perdendo tudo. Cate fazia a granfina mimada, que nada sabia, nem mesmo o que assinava. Docemente corrompida. Tem uma irmã, que mora em San Francisco e leva uma vida mais relaxada, alternativa, digamos. Vai visita-la com o marido. Ganharam na loteria 200 mil dólares. Estão felizes. Cate os convence a deixar o marido aplicar o dinheiro. Perdem tudo. Além de golpista, o marido de Cate também tem várias amantes. Perde tudo. Ela vai parar em San Francisco, na casa da irmã. Os contrastes da vida que levava e sua realidade, fazem um filme muito bem feito, com grandes atuações de Cate, Alex Baldwin, o marido e os demais atores, excelentes. O roteiro é mágico. Para rir e levar a sério, principalmente pela última cena, um close no rosto de Cate que explica tudo.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Uma nova Copa do Mundo

O brasileiro Diego, atacante que se tornou famoso jogando no Atlético de Madri, convocado para a seleção brasileira, prefere jogar pela Espanha. Tem suas razões. Não jogou suficientemente no Brasil. Ninguém o conhece a não ser pela tv. Felipão não parece tão disposto a apostar nele para o ataque nacional, ao contrário dos espanhóis. Isso me leva a pensar, novamente, em algo que escrevi há algum tempo, que talvez ainda pareça difícil de aceitar, mas que considero inexorável.
Quando Jules Rimet inventou a Copa do Mundo, a realidade era outra. As seleções viajavam de navio para o local do torneio. As comunicações também eram lentas. Assim, em uma Copa, era uma delícia assistir o enfrentamento das diferentes escolas de futebol do planeta. Os russos e seu futebol científico. Os ingleses com suas bolas aéreas. Brasileiros e argentinos. Enfim.
O mundo mudou. Muito. Acabaram as distâncias. As comunicações. Os meios de transporte. O profissionalismo fala mais alto. Há muito dinheiro envolvido. Patrocínios, prêmios, salários. Jogadores brasileiros estão espalhados pelos mais longínquos lugares. Outras nacionalidades, também. Os clubes, que gastam fortunas, detestam ceder atletas para seleções. Atrapalha o calendário. Há risco de contusão. Há desgaste. A Fifa está cada vez mais frágil, mercê de escândalos internos.
E os jogadores? Para alguns, ser convocado significa prestígio. No Brasil, empresários ladinos conseguem convocações para então negociar atletas. Para os craques, um fardo. Vivem outra realidade. Um mundo diferente, na Europa. De repente, precisam vir ao Brasil. Aproveitam para rever amigos. Na hora do jogo, não se esforçam. Sabem que são intocáveis. E logo depois, retornam em jatinhos fretados.
Hoje, nossos jogadores, maioria, joga lá fora. Há uma nova maneira de jogar. Sua habilidade é importante, mas há toda uma dinâmica que assistimos na tv. Um jogo diferente do praticado aqui, por jovens atletas, loucos para se destacar e ir embora e veteranos que não vingaram lá fora e retornaram para encerrar carreira.
A Copa deixou de ser um encontro de escolas de futebol. É como se os europeus formassem novas equipes para um torneio rápido, realizado em período de férias, com tudo a perder, no que diz respeito ao descanso dos jogadores e o reinício de seus campeonatos.
Minha idéia: cada país faz uma seleção dos atletas que atuam em seu território. Sim, seria uma disputa entre Inglaterra e Espanha, primordialmente, mas seria mais interessante. Como você escalaria a Espanha? E nós escalaríamos como nossa seleção? Vaga para uruguaios, argentinos e chilenos que aqui jogam? Para mim, seria muito mais interessante em todos os aspectos. Torceríamos para jogadores com os quais convivemos. Um torneio profissional, totalmente.

O difícil seria convencer essa turma chata, vibrar, nos vários meios, sem meter essa coisa de amarelinha, coração, pátria e hexa, totalmente absurdos. Ainda parece estranho? Está espantado?

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A assistente de Huck vai posar nua

A assistente de Luciano Huck vai posar nua. Não sei seu nome. Vi uma foto, vestida. Não assisto Huck. Tenho um certo nojo dele, comovendo o Brasil com pessoas pobres, sofrendo para, por exemplo, acertar uma flecha no alvo e assim ganhar uma casa, um carro, sei lá, enquanto o apresentador fatura milhões. A assistente vai posar nua. Declarou que levou meses pensando no que iam pensar os pais. Eles disseram que ela devia fazer o que a fizesse feliz. Vou dividir o cachê com eles, para pagar o tanto que fizeram por mim. E assim, caminhará para o cadafalso, estúdio de fotografia. Seu corpo será exposto feito carne em açougue. Seus pelos totalmente depilados. Como aqueles frangos na vitrine de cachorro. Será a nova mártir da mídia. Suas fotos estarão na internet, borracharias, banheiros, bancas de revistas. A câmera desvendará seu corpo como em um exame ginecológico. Ela abrirá as pernas generosamente ou empinará a bunda, para que vejamos o interior de sua vagina e de seu ânus. Alcançará o seu mais profundo ser? Sua alma? Será que é um sacrifício? Afinal, a moça, mais um dos artifícios de Huck, apresenta-se de maneira sempre sensual. Seus vestidos são sempre apertados, destacando suas curvas. Sim, é mais uma mártir da mídia, mas certamente tem total consciência disso. Não a conheço, não sei se pessoalmente tem outras aspirações. Afinal, todas entrevistadas têm um projeto de tv, programa de entrevistas, que nunca irá ao ar. É importante dizer que não sou nenhum carola e gosto de mulheres. Mulheres nuas. Mas ao longo dos anos, o nu que transforma essas mártires em corpos olímpicos, coxas enormes, quase rãs, seios gigantescos, bocetas e cus depilados, mistura de Barbie, ginastas e bebês, alimentando a pedofilia de tantos, foi me afastando das revistas nas bancas. Até a Playboy vai acabar. O que elas perseguem? Jabor disse, com razão, que viram bundas que falam, e não mulheres com bundas grandes. O que tem a dizer a mulher morango e que tais? Um peido? O que procuram, mostrando-se no instagram levantando pesos absurdos, tomando bombas. E a arte de vestir-se despindo-se, sempre oferecidas, sexo à disposição. Algumas cobram da maneira tradicional, outras em notícia, contratos. O que têm a dizer? Nada. Aquela exuberância esconde um vazio brutal. Quanto maior a coxa, menor o pensamento. E essa coisa de bunda, não é? Antigamente, as bocetas eram o alvo. Cabeludas, misteriosas, guardadas por aquela floresta de pelos. Hoje, descobertas, viram alvo de cirurgia para deixa-las mais.. bebês? Agora é a bunda, o cu que ficou importante? Quando posam, não viram de frente para mostrar a boceta e sim de costas, empinando a bunda. Desvio nos assuntos. Como se estivesse pensando alto. A assistente de Huck. Pareceu bonita, sem coxonas e peitões. Mas depois das fotos, precisará decidir se vai continuar na mídia, malhando, adotando alguma fruta, tipo melancia para apor ao seu nome ou voltará a assistir o narigudo apresentador?

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Minha vida não vale um xixi



Era um sonho de criança, participar de uma passeata. Sair às ruas carregando cartazes, gritando palavras de ordem, cantando as melodias revolucionárias. Quem sabe, faz a hora, não espera acontecer!
De férias no Rio de Janeiro, aquelas duas paraenses souberam da passeata no centro da cidade e resolveram viver aquele sonho. Jeans, t-shirt, tênis, enfim, no figurino. Lá foram pela Candelária, se divertindo, fazendo fotos, postando no instagram. Estava tudo maravilhoso. Pais e filhos juntos. Um grande passeio. A tarde findou belamente, como tudo na Cidade Maravilhosa. Ah, vamos tomar um chopp e admirar a passagem da galera! Do chopp, veio a vontade de fazer xixi. No posto de gasolina, loja de conveniências, o banheiro. A fila. Enorme. Quase todas mulheres, claro. Lá fora, a passeata parecia engrossar. Aumentou o número de pessoas, algumas correndo, outras aqui e ali vestidas de preto, cabeça e rosto cobertos. Escuta, acho que a coisa está engrossando. Vamos embora? Lá em casa tu fazes xixi. Ou então a galera faz uma casinha. E eu lá sou mulher de casinha? Eu vou fazer xixi e é aqui mesmo. Ruído de sirenes no ar. Fumaça. Noite. Finalmente ela entrou. Fechou a porta e do lado de fora, o tempo fechou. Uma multidão invadiu a loja, fugindo da polícia. No pânico, invadiu o banheiro da amiga. Vamos! Polícia! Espera que estou me espremendo pra sair mais rápido! Vamos! Não posso, tem aquelas gotinhas que ficam e vão molhar meu jeans. E eu lá quero saber do teu jeans? Tédoidé? Polícia lá fora, doida! Vamos! Quando saíram havia uma estranha paz. Todos haviam fugido, inclusive os funcionários. Aqui não vamos ficar. Saíram correndo. Pararam. Estavam exatamente entre um pelotão do Bope e black blocs. Ouviram disparos. Bala de borracha! Soldados marchando com escudos. Coqueteis Molotov voando. Elas no meio. Minha Nossa Senhora de Nazaré! Correram para os soldados. É que nós nem somos daqui, sabe? Somos de Belém do Pará... Vaza! Vaza! Correram para salvar suas vidas. Um ônibus! Vai pra onde? Não interessa, vai pra longe daqui! Subiram. De repente, os black blocs começaram a jogar pedras. Balançar o ônibus. Vai virar! Saíram correndo feito um Usain Bolt destrambelhado. Pararam em um local ermo, silencioso, poucas luzes. Puxa, que bom, escapamos! Vem um senhor andando. Senhor, por Jesus Cristo, é por aqui que a gente vai pra Zona Sul? Copacabana, Ipanema? Por aqui, não. E acho melhor saírem logo porque aqui é a subida do Morro do Livramento... Por sorte, a pessoa as dirigiu a uma praça onde pegaram um taxi. Em silêncio. Desceram. No hotel. Tu não vais mais falar comigo? TU SABES!!!!! E caíram chorando uma nos braços da outra. Sua vida vale um xixi?