sexta-feira, 17 de maio de 2013

Edyr Proença - 19 de maio


Se estivesse vivo, Edyr Paiva Proença completaria 93 anos neste domingo, dia 19. Pena, faleceu no dia 5 de maio de 1998, há 15 anos atrás. A Rádio Clube do Pará fez uma festa para comemorar 85 anos de existência. Sim, havia retratos dele e de meu avô em totens espalhados no salão. Mas fora isso, não houve menções maiores. Vivemos outro tempo, a emissora tem outros donos e muitos números positivos a festejar. Mas seja o que for, é impossível dissociar a Prc5 de Edyr Proença. Mesmo sendo o rádio o veículo do imediatismo, onde tudo que é produzido vai ao ar e após recebido ou não pelo público, perde-se, os feitos de Edyr Proença ficaram. Sua acuidade, cultura, respeito, palavra fácil e equilibrada. Sua honestidade, retidão de caráter. Todos sabiam suas preferencias clubísticas e no entanto, não imagino ninguém com mínimo razoabilidade, emitir conceito ruim sobre suas locuções.
Curiosa sua trajetória. Filho de Edgar Proença, esfuziante, mestre da comunicação, do empreendedorismo, jornalista, radialista, escritor, enveredou pela música, montando o grupo Bando da Estrela, onde Celeste Proença era cantora. Mas na medida em que inicia os trabalhos e adiante, casa e começam a chegar os filhos, transforma-se no homem sério, trabalhador, jornalista e radialista preciso, assessor de imprensa no Basa. Claro, entre amigos, permanece o excelente conversador, contador de anedotas. Um tanto ausente para nós, pois trabalhava de manhã, à tarde e à noite, para dar conta das contas da molecada. De vez em quando tirava o violão da caixa e tocava suas serestas para o mais seleto dos públicos, seus filhos. O Edgar Augusto fuçou e descobriu um acetato com as gravações do Bando da Estrela. Adolescemos e de repente, o pai que era enérgico, duro e exigente, também começou a adolescer. Já havia companheirismo. Passei minha infância e adolescência acompanhando-o aos jogos de futebol. Milhares. Aprendendo a ler o que acontecia. A ser equilibrado. Acompanhando-o às peladas noturnas no Lago Azul. Puxa, como convivemos nessa época. E agora, as conversas sobre Cultura, que explodia no mundo. Política, não. Detestava. Meu irmão Edgar ainda ouviu e foi ver algumas cenas. Eu não podia. Estava mergulhado na Cultura. Veio um festival universitário. Inscrevi duas músicas. Não passaram. Mas escrevi uma letra, pensando no universo de meu pai e entreguei. Hesitou. Há quantos anos não compunha? Pensou que era para o festival. Não. Virou “Amor Imperfeito”, sucesso nas rodas de seresta, com a participação ativa de minha mãe que acrescentou versos. E despertou de uma vez por todas o Edyr artista. Vieram muitas e muitas. E “Bom dia Belém”, sobre versos de minha tia Adalcinda. Aposentado, dizia, agora, não ter tempo para mais nada. E compunha, tocava e queria opinião. Escreveu livros. Comprou computador. Estava diariamente em minha sala, conversando sobre tudo. Vida, velhice, amigos, futebol, claro, amava sua vida renascida, o Edyr do Bando da Estrela de volta. Parou de jogar futebol ali pelos 60 anos. Hoje, estou às vésperas dos sessenta e descubro, em meus papéis, um texto, poema, sei lá, que lhe entreguei, junto com presente, nos seus 60. Ufa, tempo que passa. Não, ele não era caloroso em gestos. Era a intensidade do olhar e da fala. Só o vi chorar uma vez. Um desastre. Uma perda. Eu e ele, juntos, na situação.
Agora está sendo gravado um cd com músicas suas que ficaram inéditas, cantadas por Andréa Pinheiro e arranjos de Luiz Pardal e Jacinto Kahwage, com o patrocínio da Fundação Tancredo Neves, onde trabalhou como Diretor do Museu da Imagem e do Som e que hoje mantém um Hall com seu nome, no quarto andar.
Entrou com seus próprios pés no hospital. Era uma bobagem. A infecção o pegou. Foi como se o cérebro fosse desligando aos poucos, aquele computador Hal, tipo. Aquele gigante, meu herói, exemplo, tudo. Já não respondia mais. Ultrapassei todos os limites impostos até então. Passei a mão em seus cabelos, acariciei sua cabeça e chorei.
Ele passou a me acompanhar, muito mais do que antes. O consulto sobre tudo. E também lembro de acaricia-lo. Sinto os dedos passando sobre os fios ralos e finos. Naquele momento, estive tão junto, tão colado a ele, quanto nunca. Às vezes, erram ao me chamar de Edyr Proença. Não. Sou Edyr Augusto. Mas não conserto. Gosto disso. Ouvir os amigos dizendo “de Paiva Proença”, embutindo amizade e respeito. E tudo o que ele queria, me disse, era ser um homem bom. Foi. E é tudo o que também almejo.

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