quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Desinteresse pela Cultura

A Prefeitura do Rio de Janeiro fez uma pesquisa, entrevistando mais de 1500 pessoas, a respeito do interesse das pessoas pela Cultura, no que diz respeito ao Cinema, Teatro e Museus. O resultado foi horrível. A principal razão alegada para o não comparecimento ou não desfrute da Cultura, foi o Desinteresse. Um percentual muito maior do que preço alto, distancia, falta de tempo ou falta de segurança. Cerca de 48% não vai ao cinema, 53% não vai ao teatro e 65% não comparece aos Museus por absoluto desinteresse.
Outros números revelam o percentual alto de pessoas mais velhas que não desfrutam da Cultura. Some isso aos jovens. Mesas redondas estão sendo marcadas para discutir e encontrar solução para que o povo volte a consumir Cultura.
Agora imagine o que vivemos em Belém. A situação é tão calamitosa no Estado, que nem vale à pena discutir. Mas em Belém, imagine quando a Prefeitura iria se interessar em saber os motivos pelos quais as pessoas não estão desfrutando da Cultura. A Prefeitura está completamente desconectada da Cultura há mais de trinta anos. Não há teatro municipal, nenhum outro aparelho. Durante todos esses anos, sempre houve pessoas encarregadas da área de Cultura, ganhando dinheiro, viajando, participando de feiras, reuniões e nada trazendo. Elas poderiam dizer que não receberam verbas para realizar qualquer coisa. Pois deveriam pedir demissão e não sujar suas biografias. 
Recentemente, tanto o Estado quanto o Município realizaram eleições para Conselhos de Cultura e que tais. Com medo de perder o domínio sobre o assunto, absurdamente um domínio para continuar sem fazer nada, entraram com apaniguados, fizeram pressão e levaram a melhor, elegendo suas turmas, ou seja, nada continuará a ser feito.
Nossos teatros hoje recebem apenas espetáculos ou vindo da Escola de Teatro da Ufpa, com alunos ou comédias com globais que vêm do Rio de Janeiro. No primeiro caso, geralmente ingressos gratuitos ou então com  familiares na platéia, encenadas no Teatro Cláudio Barradas, da Escola. No segundo caso, Teatro da Paz, mídia na Tv Liberal e platéias mais interessadas em fotografar os ídolos globais do que na peça. O governo está feliz. Estado e Município pensam que sufocaram os protestos do Chega. Estão enganados. Ano que vem haverá eleições. Não serão reeleitos. 
Talvez algum dia tenhamos dirigentes profissionais na área da Cultura. Ninguém quer paternalismo. Queremos trabalho, profissionalismo, planejamento. Queremos pesquisas como a da Prefeitura do Rio de Janeiro. A Cultura foi tão aviltada durante esses anos que hoje não há quem imagine que na base de toda essa violência, má educação, assassinatos, desobediência as leis e incivilidade está, justamente, a falta da Cultura. Quem sabe. 
Mas também não imaginem que o Chega está parado. Na área de teatro, já estamos ensaiando diversos espetáculos que farão parte do projeto Só Dói Quando Eu Rio, em cartaz a partir de janeiro de 2014.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A LOURA INFERNAL


Eu acho que conheci Mara Rúbia. Estava de férias no Rio de Janeiro, ainda garoto e fui a uma reunião na casa de um tio que morava lá. Vários paraenses. Ela estava lá, cabelo curto, conversando. Quando fui pesquisar para escrever a peça sobre o Barata, veio tudo o que algumas vezes meu pai havia mencionado. Compreendi porque ela sumiu daqui de Belém, onde voltou apenas uma vez, creio. Osmarina, seu nome verdadeiro, levou muita mágoa. Acabei de ler “Mara Rúbia – A Loura Infernal”, escrita por Isis Baião e Therezinha Marçal, esta, sua filha.

A Osmarina tinha pais complicados, rodou por cidades, morou no Marajó, mas quando adolesceu, veio para Belém e casou. Seu marido muito amigo do Dr. Adriano Guimarães, grande obstetra (trouxe a mim e a meus irmãos ao mundo), a quem chamava de tio. O marido tinha uma mãe de forte presença. Foi se afastando da mulher. Adriano por perto. Um dia, pintou os cabelos de louro platinado. Um escândalo. Na época, isso era coisa de puta. Queria chamar a atenção do marido. Nada. Descobriu que ele havia ganho uma herança. Seguiu-o até a zona. As mulheres. Ela e Adriano. Ele não casava. Tinha a mãe e a irmã. A cidade toda comentava. O marido e ele, amigos. Já havia três filhos. A vida não podia ser apenas isso. Deixa dois filhos com a mãe. Leva um para o Rio de Janeiro. Emprega-se como datilógrafa. Para trazer os outros filhos e a mãe, precisava de mais. Achou no jornal. Foi. Era um teatro de revista. De cara com Walter Pinto, um tycoon da época. Queria ser gil. As outras riam. Não é gil e sim “girl”. Você sabe o que fazemos aqui? Não, mas preciso do emprego. Levante as saias e mostre as pernas. Não. Me dê dinheiro que compro maiô e mostro amanhã. Walter deu. Ela era linda de rosto e tinha um corpo maravilhoso. Dali em diante, transformou-se em uma das mais conhecidas vedetes do Brasil. Incontáveis espetáculos, sucessos musicais nos carnavais. “Mamãe eu quero”, “Madureira chorou”, you name it. O TBC começou em seu apartamento. Arranjou mais um namorado que tinha mãe forte e não casava, mas bancava. A bossa nova deu seus primeiros passos. Veio a Tv. Apresentou programas. Começou a beber. Parou. Voltou. Doenças. Uma história fantástica de uma paraense que trocou de nome e talvez tenha desejado esquecer o Pará. Antes disso, nós a esquecemos. E ela foi maravilhosa. Vale à pena. A Editora é Aeroplano.

Blue Jasmine

BLUE JASMINE
Estréia nos próximos dias o mais novo filme de Woody Allen, “Blue Jasmine”. Espero que seja visto por um número grande de pessoas, ensejando a distribuidora a apresentar outros filmes de igual qualidade, ao invés de optar apenas por blockbusters. Cinema também é diversão, mas não vejo porque o divertimento precisa ficar separado da Cultura.

Acompanho razoavelmente os filmes de Woody Allen, um dos mais prolíficos cineastas dos nossos tempos. Filma com baixos orçamentos. Grandes atores, acostumados a ganhar fortunas, submetem-se a salários da tabela do sindicato pela honra de trabalhar com ele. Marco Antonio, grande conhecedor, contou-me que ele escreve roteiros sem parar. Também sabemos que ele gosta de privilegiar atrizes. Foi assim com Diane Keaton. Agora é com Cate Blanchett. O filme se passa em NY e San Francisco. O marido de Cate pode ser aquele banqueiro que causou um colapso nos EUA, perdendo tudo. Cate fazia a granfina mimada, que nada sabia, nem mesmo o que assinava. Docemente corrompida. Tem uma irmã, que mora em San Francisco e leva uma vida mais relaxada, alternativa, digamos. Vai visita-la com o marido. Ganharam na loteria 200 mil dólares. Estão felizes. Cate os convence a deixar o marido aplicar o dinheiro. Perdem tudo. Além de golpista, o marido de Cate também tem várias amantes. Perde tudo. Ela vai parar em San Francisco, na casa da irmã. Os contrastes da vida que levava e sua realidade, fazem um filme muito bem feito, com grandes atuações de Cate, Alex Baldwin, o marido e os demais atores, excelentes. O roteiro é mágico. Para rir e levar a sério, principalmente pela última cena, um close no rosto de Cate que explica tudo.