quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Tem de saber jogar

Infelizmente, meus colegas da área esportiva não têm estado dispostos a discutir possibilidades para o futebol. Mesmo assim, para externar algo que a cada jogo que assisto me causa impressão mais forte, vou postar. Acho que foi na Copa disputada na França que Tostão, entrevistando Chico Buarque, que veio o assunto. Os zagueiros. Haverá o dia em que o zagueiro terá de saber jogar tanto quanto qualquer outro, como os atacantes e meias. Na época, pensei que Cacá e Rivaldo, por exemplo, seriam dois bons zagueiros, pela altura, porte físico e boa impulsão nas bolas altas. Mais ainda, imaginem a qualidade técnica na saída de bola, hoje, principalmente, em que os zagueiros trocam bolas, até encontrar o melhor passe. Assisti ontem o Bayern de Munique, campeão do mundo, o melhor técnico do mundo, elenco estelar, mas com dois beques ruins de bola, Boateng e o brasileiro Dante. Exigidos, marcados sob pressão, eles se revelam beques de várzea, furando, dando chutões e causando pesadelos na torcida. Ali, é top de linha, exigência máxima, tem de saber jogar bola. Lembram de Luizinho, do Atlético Mineiro, que jogou na seleção de 82? Oscar também sabia jogar. Lembram do Belterra, baixinho, mas jogando bolão? É o que penso.

Theme for an imaginary western

Vocês sabem o que é ter 14, 15, 16 anos, talvez e ser atingido por uma bomba chamada Woodstock? Bomba que explode em Belém do Pará ali por 1970, talvez, no cinema Olímpia? Pois me pegou de jeito. Hoje, tenho discos, filmes, livros, quase como se tivesse estado ali, naqueles três dias de Música, Paz e Amor. Um dia desses, montei um cd com algumas das canções em suas versões de estúdio. Que incrível a música que nos faz arrepiar ainda hoje! É que por algum motivo, me veio à mente a apresentação do Mountain, banda de rock pesado, meio blues, formado por grandes e peçonhentas figuras como Leslie West, Felix Pappallardi e Jack Bruce, creio. É curioso porque, por conta de contratos de gravadoras, algumas bandas, não pertencentes ao selo que lançou o álbum triplo, tiveram licenciadas apenas músicas menos cotadas em seus discos originais. Em muitas ocasiões, isso acabou dando efeito contrário, como o Ten Years After, banda de blues, tendo de acrescentar rock and roll depois que encerrou seu show com um improviso genial com Alvin Lee destruindo na guitarra. Mas é que me veio à cabeça "Theme for an imaginary western", tocada pelo Mountain. No iTunes, podemos encontrar versões de estúdio, outras cantadas por Jack Bruce, Leslie West, algumas somente ao piano, outras somente com guitarras em variações deliciosas. Escrevo porque acabei de me arrepiar. A banda tocando no seu auge, o som correto, pesado, gostoso, se espalhando, tecendo um tapete sonoro para Leslie cantar e com espaço para a guitarra genial em seu solo longo, bem construído, habilmente levado até o momento de descer com tudo e encerrar. Meu Deus, como era bom! Como disse Gil, meu passado é um velho baú de prata dentro de mim. De vez em quando vou lá e fico remexendo as pedras.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Futebol do Pará - Idéias

Não, eu não acredito que os clubes do Pará cheguem novamente à série A do Campeonato Brasileiro. Não acredito porque embora nunca seja tarde para que normas profissionais sejam desenvolvidas, tenhamos platéias apaixonadas e uma imprensa excelente, há má vontade por parte de todos os outros. Quem mais participa do banquete? Alguém do Tocantins, Maranhão, Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, esqueci algum? As viagens são longas e penso que somente aqui no Pará ainda há rendas interessantes. Nos demais, nem isso. Infra estrutura, nada. Sei perfeitamente que afirmando isso causo uma impressão forte, naqueles que não imaginam o que seria de nós abandonando a CBF, sendo punidos, enfim, tudo. Há quem tenha feito a vida inteira a partir dela. Presidentes de federação se eternizam, participam das eleições, recebem benesses, viajam com a família para assistir as Copas. Empresários correm a região oferecendo pernas de pau. Técnicos também faturam com indicações. Dirigentes também. E o que fazer? Planejar profissionalmente. Aproveitemos que 2014 é ano de Copa e tudo será diferente. Enquanto isso, planejamos. O Pará é do tamanho de um país. É preciso um estudo de viabilidade sério para ser feita uma proposta ao Governo. Precisamos de campos de futebol. Nada desses estádios de Copa. Arquibancadas honestas e gramados bem cuidados para enfrentar o período invernoso. Técnicos da Embrapa, da Ufra, enfim, convênios seriam assinados. O campo de jogo é a primeira regra. Que campos? Em cidades pólo. Acordos com os prefeitos. Seriam equipes das cidades. Os atletas receberiam através da Prefeitura e certamente o Estado, porque a Secretaria de Turismo trataria de fornecer todas as maneiras a aproveitar as belezas do Pará para levar, a cada jogo, torcidas e turistas, deixando dinheiro, impostos, dando emprego a muita gente. A Tv Cultura transmitiria sempre um jogo, nunca o que estiver sendo realizado na mesma cidade, claro. A Federação contrataria atletas de bom nível e os ofertaria, com salário pago, a cada equipe do interior, de maneira a motivar torcida, jogadores e elevar o nível da disputa. As equipes seriam obrigadas a realizar jogos preliminares entre equipes de categoria inferior na idade, apostando em novos valores. O tempo de duração do campeonato? Sei lá. O tempo necessário, três, quatro meses. Nosso tempo é o nosso tempo. É impossível, profissionalmente falando, que o Estado não se interesse na idéia, tendo em vista o turismo, dinheiro, impostos e principalmente, a possibilidade de abraçar o Pará inteiro. O que fariam essas equipes, após o campeonato? Perderiam seus atletas, ficariam sem atividade? Não. Haveria outra competição, agora envolvendo as cidades localizadas no entorno de cada cidade pólo.
E o resto do ano? Tenho duas idéias que podem ser uma só. A Copa da Amazônia. Disputada por Estados da região, mais países localizados na Amazônia. Não sei quantos times. Não sei como é o calendário de Peru, Venezuela e demais. Precisa uma negociação. Mas vejam que já começamos a falar em dólares. E na medida em que nossas equipes locais, aqui do Pará, tenham uma clara chance de enfrentar de igual para igual nossos vizinhos, haverá interesse das torcidas. Equipes esportivas poderão ter patrocínios e principalmente, não teremos aqui, para assistir, jogos contra Itaperunas, Luverdenses e outros. A Copa Amazônia daria conta do resto do calendário. Ou então, primeiro, voltamos à Copa Norte ou Norte-Nordeste, apesar dos nossos irmãos nordestinos estarem bem cotados na CBF e possívelmente refuguem ao convite. 
Moramos longe. Os bonitinhos lá de baixo não querem vir até aqui. Não precisamos deles. Nunca mais, a não ser em uma Copa do Brasil, um jogo talvez, tenhamos aqui um Flamengo, por exemplo. Nunca mais. Precisamos ter uma saída. Penso nos colegas da imprensa, cada vez mais tendo dificuldades com patrocínios, enfrentando uma manada de elefantes por dia para dar entusiasmo, notícias dos nossos combalidos clubes. 
O futebol é um dos negócios mais lucrativos do mundo, no momento. Não podemos continuar com essa apatia, lassidão, burrice, falta de competitividade, descompasso com o mundo. Agora mesmo, reelegeu-se, mais uma vez, o presidente da Federação. Aproveitemos 2014 para negociar, planejar e desmanchar em 2015.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Nós, os invisíveis

Comecei a escrever e expor meus trabalhos publicamente pouco depois dos meus 16 anos. Lá se vai muito tempo. São doze ou treze livros, quinze a vinte peças de teatro, músicas, enfim, posso dizer que tenho uma obra. No entanto, a cada vez que vem um repórter novo fazer uma entrevista, olha para mim como um desconhecido. Como é mesmo seu nome? É seu primeiro livro? Quem é o autor do texto, é você, mesmo? Mesmo assim, sou profundamente agradecido aos colegas jornalistas, que nunca negaram espaço aos meus trabalhos. Recentemente, Anderson Araújo. Ismael Machado também escreveu muito bem. Quer dizer, no momento sou censurado na Tv e Rádio Cultura. Tudo porque, na qualidade de cidadão paraense, critiquei duramente ações dos veículos de comunicação e da Secretaria de Cultura, serviços públicos. Não é novidade. Há vinte anos que não sou chamado para nada que se refira a Literatura ou Teatro. Posso estender o assunto à Ufpa e também às particulares. Vejam, posso ser um mau escritor. Insistente e mau escritor. Mas, fora do Pará, tenho razoável acolhida, com trabalhos traduzidos e lançados em mercados importantes. Bem, poderiam dizer que sou comercial como um Paulo Coelho. Acho que não, sei lá. Também não gosto dele, mas li alguns de seus livros para ter a opinião. Os vinte anos de censura somente atrapalharam. Não deixei de escrever e mostrar trabalhos. 
Creio haver alguns motivos para esse fator "invisível", que atinge a mim e a maioria dos meus colegas, das diversas áreas. Temos vinte anos de um desmanche cultural, substituído por atitudes cretinas, com muita propaganda enganosa. Antes disso, minhas peças de teatro lotavam Teatro da Paz. Meus lançamentos de livros eram cheios. Falo por mim e pelos demais colegas. Esses vinte anos apagaram nossas figuras. Nossa classe média esqueceu do significado de Cultura, hoje traduzido em diversão, bebida, suor e apatia. Nós, os invisíveis, ainda somos enxergados por um número entre mil e dois mil pessoas, em um universo de dois milhões, na Grande Belém. São elas que saem de casa, deixando as novelas, filmes piratas, seu conforto, para assistir em salas pequenas, no Cuíra, no Cláudio Barradas, no Sesc, espetáculos, shows, exposições. 
Faço parte de um grupo que joga futebol aos sábados. Poucos sabem que sou escritor, mas não conseguem desenvolver o assunto comigo. São inteligentes, formados, bons profissionais de alto padrão financeiro. A Cultura não faz parte de suas vidas. No máximo, se vem uma peça do RJ com um artista global, a mulher enche o saco e vão assistir. Ou o show daquele grupo de pagode. Ir ao teatro assistir artista da terra, nunca. Quanto à periferia, pior ainda. Lá, há comunidades longamente acompanhadas por partidos políticos radicais. Através do Chega, tentamos contato, mas percebemos a falta de vontade de dividir ações, meramente por questões de poder político, o que não desenvolvemos.
E vamos pelas ruas, desconhecidos, invisíveis. Minha namorada participou, mais uma vez, de uma novela global. Às vezes a olham e não sabem se a viram ou não. Ou fazem como nós, paraenses, gostamos de fazer. Ignoramos como uma agressão. Aquele cara, que acharam parecido com Elvis Presley. Todos brincavam de chamá-lo. Um dia, na rua, andando, um cara chama, insistentemente "Elvis Presley"! Após todos os chamados, ele olha. "Tá aqui que tu és Elvis Presley"! E mostra um cotoco para ele. O que você faz? Sou escritor. Me olham sem saber o que dizer. Nunca leram livro meu. Nunca ouviram falar. Está fora do seu cotidiano. Esta é minha namorada. O que ela faz? É atriz. Atriz?
O público, no Cuíra, é razoavelmente conhecido. O teatro tem cem lugares. Quando lotamos é uma festa. Será que conseguiremos, um dia, nos tornar visíveis? Ter a Cultura local reconhecida, desenvolvida profissionalmente? Ano que vem, teremos eleições. PT e PSDB, os últimos a governar nesses vinte anos, foram péssimos. Em quem votaremos?
PP Condurú está com uma exposição. Tadeu Lobato na Galeria Assim. Há espetáculo no final de semana, no Cuíra, Loucura de uma Atriz. No Cuíra, estamos lançando o projeto Só Dói Quando Eu Rio, com os espetáculos "As Gêmeas Sedentas de Sexo", "Zuma"(título provisório), "Da Arte de Sair do Armário" e "Gilda"(título provisório), para começar 2014 a todo vapor. Na raça. Na vontade. Não temos leis. Não temos nada. Estamos conseguindo pequenos patrocínios. Temos amor pelo que fazemos. Fazemos por nós. Fazemos pela sociedade que não nos vê, mas haverá de. Nós, os invisíveis.