sexta-feira, 2 de maio de 2014

A Cultura do Churrasquinho



A partir do convite do amigo baionense Gerson Nogueira, estarei de agora em diante por aqui, sempre às sextas, as festejadas sextas! Circule pela cidade e perceba, no ar, uma fumaça proveniente de um sem número de estabelecimentos dedicados a vender churrasquinhos, espetos e que tais. Todos os lugares estão lotados, ocupando as calçadas. Seria uma saudade dos tempos que “méleB” era chamada de “Petite Paris”? Os boulevares com calçadas enormes ocupadas por mesas, cafés, com as pessoas transitando e mostrando todo seu charme? Quem dera. Como uma demonstração do caos, da babel em que vivemos, as mesas ficam muitas vezes direto, no asfalto. Carros, motos, bikes e vendedores circulam. Monitores de tv mostram gladiadores modernos a se arrebentar eternamente no que chamam de MMA. Artistas, pensando que fazem show e esquecendo que seu trabalho é somente fornecer alguma música de background, aumentam ao máximo a potencia de seus amplificadores e berram por atenção. O cheiro de churrasco contagia, anestesia. A cerveja completa a festa, com calabresas e outros. A Cultura do Churrasquinho. É assim que estamos, nesta ausência de Cultura em nossas vidas. Na Cultura do Churrasquinho, ninguém pensa em nada. Não há refinamento, pensamento crítico, discussão. Qualquer pedaço de carne serve. Esquenta, joga um molho, misturado com o suor do churrasqueiro e estamos feitos. Assim a nossa Cultura. Desaparecemos. A total ausência de Cultura, que já dura vinte anos, nos levou a um buraco profundo. Para sair de lá, necessitará um bom tempo e trabalho profissional. No mundo inteiro a Cultura se profissionalizou. Gera empregos, impostos e mais do que tudo, gera inteligência, sabedoria. Hoje ninguém vai ao teatro que se faz aqui. Exceção de algum global que se apresenta no Teatro da Paz com direito a sessão extra. Antigamente, ir ao teatro significava assistir e depois sair para conversar, discutir o que havia sido visto. Aos shows, também. Hoje, nos shows, enchemos a cara, pulamos e saímos carregados. Nossos escritores lançam livros para seu círculo de amizade que acorre no lançamento. Somente a Fox Vídeo destina espaço para a literatura paraense. E nem me falem nessa Feira da Secult, vergonhosa, homenageando o Catar. Catar? Não há reflexão, interesse em discutir. Henrique da Paz me conta que vinha com sua turma de Icoaraci às sextas para assistir filmes no Cine Palácio, sessões inesquecíveis onde conhecemos Buñuel, Fellini, Antonioni e outros. Depois, iam discutir o que havia sido visto. Minha estréia no Teatro, com “Foi Boto, Sinhá”, em parceria com José Maria Vilar, foi em um Teatro da Paz lotado. Hoje, temos um público que varia, talvez entre 500 a 800 pessoas. Quando há um espetáculo, sinto-me como aqueles cristãos em Roma, reunidos nas catacumbas, às escondidas. Edwaldo Martins apoiava e as vernissages eram lotadas, chic ter um quadro de Dina Oliveira em casa.

Temos talento. Atores, escritores, músicos, cantores, pintores. Quando será que nossos governantes darão à Cultura a importância que ela tem? Colocarão nos postos de comando, executivos com experiência em fomento, ocupação de espaços, criação de espaços, neste Estado que, perdoem, tem o tamanho de um país? Como querem conquistar o Brasil, como aquela turma que levou alguns artistas a São Paulo, se não conquistam nem seu Estado, áraP, nem sua cidade, méleB?

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