sexta-feira, 19 de setembro de 2014

JULES E JIM

Acabo de assistir “Jules e Jim”, o clássico da nouvelle vague, dirigido por François Truffaut no começo dos anos 60, apresentando a maravilhosa Jeanne Moreau, grande estrela e personalidade. O filme inicia o que chamamos de “cinema de autor”. Veio em um desses brindes de jornal, em esplêndido p&b. O filme chocou na época, porque rompeu com os temas até então usados por cineastas franceses. Moreau tornou-se uma figura que após participou de outros clássicos, lançou discos e em um de seus últimos filmes, “Joana Francesa”, esteve no Brasil.
O ano é 1910, Paris e dois jovens escritores, desses bancados pelas famílias, passando a vida ensaiando livros, bebendo nos cafés e dormindo em camas de mulheres bonitas. Jules e Jim (Oskar Werner e Henri Serre), austríaco e francês, eram inseparáveis. O primeiro, romântico, tímido, o segundo um conquistador. Encontram Catherine (Moreau) e se apaixonam. Ela fica com Jules e Jim segura sua paixão. Em seu primeiro encontro, ela se traveste de homem e saem os três correndo, felizes, pelas ruas. É interessante a sugestão homossexual apresentada. Como se ela estivesse testando-os. Nada como o fogo da juventude e da amizade recém feita para dar felicidade. Vamos à praia? Catherine é a rainha. Quando os dois a ignoram perdendo-se em discussão intelectual, atira-se no Sena. Aos trinta e poucos, Moreau está no auge de sua beleza. Uma rainha que passa a governar os amigos, conforme seu humor instável.
Vem a guerra e os separa. Jules e Catherine vão para a Áustria. Participam da guerra. Ao término, Jim vai visita-los. Muito acontece. Jim e Catherine. Catherine e Jules. Um ménage a trois que não vai à cama.
Ali nos anos 80, creio, assisti a um filme chamado “Corações Loucos”, com Gerard Depardieu e outro ator que, ao que parece, suicidou-se pouco depois. Um quase remake do “Jules e Jim”. Moreau participa, como que para lembrar. Interessante porque, tal como no original, anos 60, havia uma leveza, uma pureza nas relações e a festa da nova amizade na qual todos querem contar sua histórias e mostrar sua personalidade, ao mesmo tempo que querem agradar aos outros. Amor. Lembro da cena em que decidem ir à praia. Pegam o trem. Baixa temporada. Invadem uma casa. Entram nos quartos. Abrem armários. Tiram lingeries. Riem. Filme em cores. Muitas. Não lembro mais nada.

Hoje, na minha idade, creio que não farei novas amizades tão fortes assim. Tipo abrir um feriado na alma em plena terça feira e sair sem destino. Encontrar um Mosqueiro, Salinas, com as casas fechadas, ninguém nas ruas, a não ser os residentes. Hoje parece que todos têm pressa. Muita pressa. O facebook, whatsup, Skype, aproximaram as pessoas, sem dúvida. Estimularam a escrita. Essas novidades também fazem com que fiquemos, todos em nossos castelos, protegidos e até mesmo podendo forjar personas. Não temos mais, como antes, tempo para tomar um café num fim de tarde. O celular nos encontra onde quer que estejamos. Estamos acessíveis o tempo todo. Viajamos e mandamos selfies. Estou aqui! Não me esqueçam! Assisti “Jules e Jim” e fiquei melancólico a respeito daqueles jovens vivendo seu encontro, sua amizade. A alegria, farra, felicidade. Não esqueça seus amigos. Eles são as testemunhas da sua vida. Escolhidos. Às vezes nem tudo vai bem. Mas depois melhora. Ah, como era bom.

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