sexta-feira, 12 de setembro de 2014

ONDE VENDE SEU LIVRO?

Fui fazer um exame com meu amigo Arnaldo Lobo e ele começou a gabar as qualidades de meu livro “Crônicas da Cidade Morena II”, frente a seus auxiliares. Uma das médicas se interessou e perguntou se podia comprar na Saraiva. Não, eu disse. A Saraiva, quando vende livros de autores locais, fica com um percentual absurdo, um claro aviso de quem só se dispõe a vender os best sellers. Aconselhei-a a procurar a Fox, onde os autores paraenses, ou que exercem a atividade literária conseguem expor seus trabalhos.

É muito difícil a vida do escritor local. Sem qualquer política cultural para a Literatura, realizada pelas esferas municipal e federal, lançar um livro é desafio. É preciso encontrar uma Editora. Há algumas, locais. Normalmente, os autores procuram uma gráfica e com seus próprios recursos, imprimem a obra. Ou então são beneficiários de prêmios como os que existem na Academia Paraense de Letras ou no IAP. Qualquer que seja a maneira encontrada para publicar, o livro estará fadado a ter uma noite de autógrafos onde irão amigos e familiares, que a título de “prestigiar”, comprarão o livro. E depois? O encalhe. A Fox é o caminho. Mas não é o suficiente. Se, infelizmente, lê-se pouco no Brasil, imaginem um autor paraense. Nos cadernos dominicais, há sempre entrevistas com figuras da terra, declarando suas preferencias literárias. A maioria é por auto-ajuda. Ou então, best sellers. Nunca li uma preferencia por autor paraense. Também não sei do trabalho dos cursos de Letras, a respeito. O da Ufpa ficou em 14o. lugar, em pesquisa divulgada nos últimos dias. Com 15 livros lançados, nunca fui chamado, nem nenhum dos meus livros mereceu qualquer consideração até hoje. Talvez eu não valha nada, mesmo, mas certamente, posso dizer que sou um escritor paraense. Sem uma política cultural para fomentar, nunca haverá um mercado. Graças a Deus esse governo aí está de saída, para nunca mais voltar. Seu único feito foi realizar uma Feira Pan Amazônica do Livro, que nunca foi mais do que um evento comercial onde as poucas lojas e editoras montaram toscas barracas para vender livros encalhados, enquanto escritores famosos nacionalmente vieram se divertir, ser acarinhados pela plateia, visitar pontos turísticos, comer pratos típicos e voltar felizes da vida. Quanto aos escritores locais, uma barraca mal colocada, mal iluminada, uma esmola. Fomentar a Literatura é pensar em popularizar no Estado os autores atuais. Relançar livros importantes, fora de catálogo. Publicar livros de escritores iniciantes. Ao final do ano, e não no começo (sob a pueril desculpa de guardar dinheiro para o Festival de Ópera), realizar uma Feira como um ápice de todo o trabalho realizado. Talvez, em alguns anos, tenhamos um mercado constituído, onde o escritor local não será um “estranho no ninho”. Teremos livros importantes de volta às prateleiras. Novos escritores apresentando seu trabalho e os atuais, com a mesma importância dos “famosos colegas”. O resto é enganar as pessoas. É oferecer migalhas. A tal política de eventos que tão mal causou à Cultura do Pará nesses 24 anos, creio, de burrices e cretinices de gente despreparada e mal intencionada. Eu posso falar. Tive a grande sorte de ter uma Editora, a Boitempo que espalha meus livros por todo o Brasil. Em Paris, frente a 800 pessoas, em um teatro, que foram me ouvir, fiquei feliz e ao mesmo tempo chateado por não conseguir mover, em minha terra, nem 10% daquele público para meus livros. Mas eu acredito que tudo possa mudar.

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