sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

NELSON MOTA, FAROL DE UMA GERAÇÃO

Nelson Mota completa 70 anos de idade com livro, programa de tv e disco reunindo suas mais famosas músicas. Eu o conheço há muito tempo, mas nunca fomos entrevistados. É um dos faróis da minha geração. A primeira vez em que apareceu foi participando daqueles Festivais da Canção, na segunda metade dos anos 60. Parceiro de Dori Caymmi em “Cantador”, clássico da mpb na voz de Elis Regina. Estava em boa companhia, junto a outros jovens compositores que formaram a nata da nossa música. É um dos autores do tema do Fantástico, que até hoje é repetido, bem como do tema de fim de ano da Globo, que sempre ouvimos nestes dias. No momento da Tropicália, tinha coluna em jornal onde escrevia sobre as novidades, traduzindo principalmente para mim, que morava e moro longe. Havia o programa do polêmico Flávio Cavalcanti e lá estava ele, jovial, sorridente, ponderado, para argumentar em favor das novidades. Se era música pop, lá estava ele na televisão, mostrando vídeos dos grupos estrangeiros. Amigo de todos, disse uma vez que seu segredo talvez fosse evitar criticar, falar mal de alguma obra. Quando não gostava, não escrevia, não dizia nada. Assim, foi levando a vida, de maneira cordial e cercado por amigos. Namorou com Elis e está por trás de uma guinada fundamental em sua carreira que estava em um caminho bem conservador. O disco foi “Em pleno verão”, aquele que tem “Vou deitar e rolar”. A discotheque invadiu o mundo, lá estava ele, bolando promoções para o verão carioca. Uma casa de shows, pista de danças, no alto do Pão de Açucar. O nome era Dancing Days. Como garçonetes, cantoras buscando uma chance e que em determinado momento subiam ao palco para fazer show. O nome era Frenéticas, tudo combinado com Caetano Veloso que havia composto “Tigresa” para Sonia Braga, dizendo “frenetic dancing days”. Isso foi para a televisão, novela, Sonia, pista de danças. E então vieram os anos 80 e ele estava como diretor da Warner, revelando Titãs, Lulu Santos, Ira, Barão Vermelho e tantos outros. Sem parar de compor, o parceiro foi Lulu e nem precisamos enumerar os hits, obtidos, também com Guilherme Arantes. Talvez tenha sido nessa década que enfim ganhou bom dinheiro, pois após embarcou para NY onde continuou produzindo artistas. E aí retorna ao Brasil, escreve em O Globo e Folha, romances de sucesso, biografias como a de Tim Maia e programa de rádio sempre mostrando os mais recentes artistas. Se estava cansado? Começa a produzir e a escrever musicais, a nova febre nas casas de espetáculo do Rio de Janeiro e SP. E completa 70 anos vendo Tim no cinema, mais musicais, biografia, especial de televisão e um disco onde enumera sucessos com nova roupagem dada por figuras como Lenine, Maria Gadu, Marisa Monte e até a nossa Gaby Amarantos a quem coube, justamente, o hino das Frenéticas. Nunca mudou o sorriso, a cordialidade e acima de tudo, a tolerância. Eu o admiro por isso. Nunca fomos apresentados. Gostaria de um dia conversar com ele. Concordo com praticamente tudo o que pensa. É um farol com luz ainda bem intensa, mostrando os novos caminhos. Tem a curiosidade com o novo que confesso, sempre tive. Foi um dos primeiros a apontar para o nosso “treme”, como algo a se ouvir. Olho para trás e percebo tudo o que me mostrou e gosto de tudo. Parabéns a Nelson Mota.

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