sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

PILATOS X JESUS

A Quaresma já começou a estamos rumando para a Semana Santa. Acabei de ler “Pilatos e Jesus”, de Giorgio Agamben, pela Editora Boitempo. O filósofo mostra com diversos argumentos o julgamento que termina sem uma sentença definitiva, mas com Jesus sendo crucificado. Esse “enfrentamento” é importante por opor o temporal contra o eterno, quando Jesus responde à pergunta se é rei dos judeus com a famosa frase “O meu reino não é deste mundo”. Curioso também citar o livro “Zelota”, de Reza Aslan, que reluta em acreditar que o encontro existiu da maneira como é apresentado. Reza escreve que Pilatos, há dez anos governador de Jerusalém, passava o dia assinando crucificação de judeus sem nenhuma pena ou preocupação. Mas recebe Jesus em sua sala. Seria uma invenção. Acha que é puro teatro, como que para mostrar o momento final do ministério de Jesus, o ápice. Diz que não há prova alguma que durante o Pessach, havia o costume de liberar um preso, no caso, quando trouxe Bar Abbas e o colocou ao lado de Jesus para que a multidão dissesse quem ficaria livre. Pilatos tinha ódio dos judeus. Foi também uma maneira de absolver os romanos e culpar os judeus, por conta que isso foi descrito muitos anos depois, para o público romano. Será?
Pilatos recebe as queixas dos judeus e interroga Jesus. Alguém diz tratar-se de um galileu e dá a desculpa para passar adiante o caso. Que Herodes Antipas resolva a situação. O problema é de vocês. Mais tarde, quando Jesus retorna a Pilatos, vem o conflito. “O que é, com efeito, um processo sem juízo? E o que é uma pena – nesse caso, a crucificação – que não segue a um juízo? Pilatos, o obscuro procurador da Judéia, que devia agir como juiz em um processo, refuta-se a julgar o acusado: Jesus, cujo reino não é deste mundo, aceita submeter-se ao juízo de um juiz, Pilatos, que se refuta a julgá-lo?” Pilatos e Jesus, o vicário do reino mundano e o rei celeste, frente a frente num mesmo e único lugar, o pretório de Jerusalém. Ele -  que não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo – encontra-se, talvez justamente por isso, tendo de responder a um processo, submetendo-se a julgamento que, aliás, seu alter ego, Pilatos, não proferirá, nem pode proferir.
Pilatos e sua mulher Procla, teriam compreendido a divindade de Jesus e somente por fraqueza teria cedido às insistências dos hebreus. Eles já seriam cristãos no seu íntimo. Seu final foi terrível. Tibério, o César, doente, havendo sabido da existência de Jesus que curava doentes, o havia mandado buscar, mas Jesus já havia sido crucificado. Pilatos foi levado a Roma acorrentado, despojado do cargo e lá teria sido decapitado. Outros dizem que no último momento, sacou uma faca e se matou. Segundo o Evangelho de Gamaliel, Pilatos foi decapitado, mas um anjo recolheu sua cabeça decepada. Procla, ao ver o anjo que leva aos céus a cabeça, “cheia de beatitude, deu o último suspiro e foi enterrada com seu marido, por vontade de nosso Senhor Jesus Cristo. Houve uma cristianização de Pilatos. Estaria Jesus ao comando de tudo, inclusive forçando sua crucificação?

Achei todas essas leituras interessantes. Gosto de pensar e discutir sobre o assunto. Em tempo, sou mais cristão que católico, o que considero muito mais difícil. Bom final de semana.

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