terça-feira, 19 de maio de 2015

19 de Maio

Vivo, meu pai faria, hoje, 95 anos. Não tenho dúvidas que chegaria a essa idade. Sua vida foi interrompida por uma infecção hospitalar. Aos 78 anos de idade, era um homem tranquilo, feliz e extremamente produtivo. Às vezes dizia que depois da aposentadoria, passara a trabalhar mais. Em outras, "nem posso sair de tarde. Pela manhã tem o mundial de vôlei, à tarde tem basquete da NBA e à noite, futebol". No intervalo, pegava o violão. Tinha adoração por Tom Jobim e Paulinho da Viola. E era um especialista em contar anedotas. Interpretava os personagens e ao final, dava um tapa leve no ombro do ouvinte, anunciando o desfecho e o convidando a rir. Meu pai me inspirou em tudo. Quando jogava pelada, me levava para assistir e alguns minutos antes do final, me dava a vaga, para começar a sentir o jogo, dentro dele. E depois, milhares de jogos onde eu sentava a seu lado, na transmissão da Rádio Clube, aprendendo a assistir em silêncio e mais que nada, observar cada movimento tático. Fomos parceiros musicais. Ele pensava que eu inscreveria uma música no Festival da Ufpa, mas não. Eu já havia inscrito outras. Acabou sendo uma das nossas mais conhecidas. Fizemos sambas de enredo. Gostava de filmes de bang bang ou de Charles Bronson. Ia a todas as minhas estréias teatrais, mas não era sua praia. Com o sucesso de seus dois primeiros livros, comprou um computador. Veloz, com dois dedos, o mindinho sobrava e tocava, sem querer, abrindo outro documento em branco. Me ligava dizendo que ia vender aquela "pinóia" e lá ia eu, colocar de volta o que ele achava que estava perdido. Todos os dias sentava comigo, em minha sala, para botar o papo em dia. Meu melhor amigo. Meu ídolo. Meu pai. Eu o amo tanto! Todos os dias penso nele e peço que, de onde esteja, ilumine meu caminho. Quisera eu chegar próximo do seu tamanho. Sua correção, ética, credibilidade, bondade, humor e amor pelo próximo. Meu pai querido, de quem herdei o nome, com tanto orgulho. Como eu queria que estivesses aqui! Mas fica bem onde estás. Saudades. Muitas. Amado Edyr Proença.

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