sexta-feira, 10 de julho de 2015

PENSANDO NA VIDA. QUE VIDA?

Era um dia de meio de semana, em pleno julho. Os pais foram para Belém resolver alguma coisa. A ordem era não sair de casa, nem para a praia. Depois do almoço, aproveitando um descuido, fui para a pracinha do Farol, que ficava em frente. Me acomodei em um galho confortável de uma árvore que ainda está lá e me peguei pensando na vida. O que havia feito até ali e o que poderia fazer. Não lembro mais o que pensei. Mas lembro de estar ali, à sombra em um começo de tarde escaldante, o barulho das ondas, distante, os coqueiros, embalados pelos ventos, o cata-vento do hotel girando e um mundo inteiro se oferecendo como uma rosa que abre suas pétalas. Sinto saudade desses dias. Em Mosqueiro chegávamos no “Presidente Vargas”. O carregador era o “Sete”. A camionete, inglesa, era do Cecy. O caseiro era “Seu Bolachinha”, apelido dado por minha mãe, claro. Nos finais de tarde, Seu Harley, vizinho, botava para rodar seu kart, levando um moleque de cada vez para dar uma volta na praça. À noite, fazia mágicas para nossos olhos curiosos. Casa grande a “Celina”. Levávamos amigos, primos. O quintal ia até a Rua da Bateria. Pira, futebol, vôlei. Qual é hoje a brincadeira? E lá vem a querida Biá avisar que tem merenda, banana amassada com Toddy. Então vamos à praia. Aproveita a maré baixa e vai à Ilha dos Amores. Agora, à tarde, tem futebol no Farol. O Ivan Harley está convocando. À noite, os Panteras Negras, empresariados por Rosenildo Franco, tocam no Praia Bar, na Vila. No Netuno Iate Clube, o show era da Escuderia Esmeril, com Paulo Pimenta na bateria e Có no baixo. Luz negra. Toca uma música pra dançar colado. Cadê coragem para tirar as meninas para dançar? Os mais espertos chegavam na frente. Ficava à margem, prestando atenção nos olhos brancos e as camisas da turma, sob a luz negra. Depois era ir para casa e sonhar de olhos abertos com aquela menina que, prometo da próxima vez.. Lá vem Seu Rubem Ohana com a Kombi trazendo a garotada. Hoje a festa é no Tralhoto. O pessoal do Chapeu Virado visita a galera do Farol. Sergio Zumero passava as manhãs empinando papagaio. À caminho da praia, acenavam para meu avô que ficava no pátio, recebendo visitas. Meu pai tocava com os amigos. Uma noite, apareceu um “boi” na frente de casa. Curiosidade total. Cantaram, dançaram, comeram, beberam e se foram. Nunca mais esqueci. Ganhei uma eletrola portátil, quer dizer, quase isso. Pesadíssima, em madeira, funcionando com oito pilhas grandes. Um dia vieram e pediram emprestado. Nunca esqueci. Vôlei era na casa do Dr. Otávio Mendonça, mas eu preferia futebol. Basquete era no Netuno. Havia tempo para tudo. Ao final das férias, o Edgar botava para tocar “I don’t wanna say goodbye, for the summer”, de “Sealed with a kiss”. Chegamos em Belém, em casa, sobre a cama, “Beatles 65”, compilação absurda feita pela gravadora local. E quem queria saber? A mãe reunia e avisava, a cada um: de manhã, colégio, depois do almoço, inglês, datilografia, natação, ao que respondíamos com enlouquecidos “nãos”!

Mosqueiro, Farol, é o lugar da minha vida. Tomara que joguem minhas cinzas na ponta da Ilha dos Amores. De vez em quando vou até lá. Dia de semana, sem movimento. Olho aquele cenário e lembro de tudo. Passam correndo Zumero e os papagaios, Ivan e a bola, a eletrola emprestada, Seu Harley no kart,  e sorrio feliz, em paz. Contemplo a “Celina” e fico mudo, como naquele dia em que pensei na vida. Que vida!

Nenhum comentário: