quinta-feira, 13 de agosto de 2015

OUTRA VEZ O TITANIC?

“Sentado, no trilho do trem, todo amarrado e amordaçado, sabendo que o maquinista não é seu parente, nem olha pra frente, o que é que você faria? Eu nesse caso, nem me mexia”. Esse é um trecho de uma marchinha que meus pais cantavam com seu Bando da Estrela. Lembrei disso ao ler o relançamento “Uma noite fatídica”, de Walter Lord, original de 1955 e considerado, entre tantas publicações a respeito do afundamento do “Titanic”, a melhor. O cineasta James Cameron, autor da mais recente filmagem, utilizou-o como fonte de informações. Bem, um mês após o naufrágio, estreava no cinema “Saved from the Titanic”, com Dorothy Gibson, atriz que estava no navio, quando do naufrágio. Mais incrível foi ter saído um livro, alguns meses antes da primeira viagem do Titanic, contando a história do navio Atlantic, em sua primeira viagem, também, e afundando por colidir com um iceberg.

O livro de Lord é excelente porque não tem nenhum roteiro com personagens e um objetivo. É um relato de entrevistas que fez com os sobreviventes e algum estudo, para explicar dados mais técnicos. O sinistro também serviu para uma melhora nas relações. Um mundo novo estava se apresentando e velhos costumes, acabando. Mais de mil pessoas, a maioria que viajava na Terceira Classe, morreu afogada, sem conseguir chegar aos botes, que como sabem, eram insuficientes. Mesmo assim, vários dos botes estavam com apenas 40 ou 60% dos lugares ocupados. Tudo por conta do nervosismo, falta de preparo e absurdos como não permitir que as classes mais baixas tivessem acesso direto ao convés onde estavam embarcando. Os costumes! O senhor Guggenheim, quando percebeu que apenas mulheres e crianças embarcavam, curtiu sua bebida e charuto até morrer. Outro, responsável técnico, não suportou e nos últimos instantes, jogou-se ao mar e conseguiu chegar a um dos botes. Depois, amargurado para o resto da vida, trancou-se em casa. A grande pergunta que o livro fica fazendo, com o relato das vítimas é “o que é que você faria”. Nem se mexia, como diz a marchinha, ou lutava? Confesso que eu pularia no mar. Melhor morrer lutando. Sim, tentaria chegar a um dos botes não totalmente cheios. O pedido de socorro era QDT e o SOS estava começando a vingar. Operadores de rádio não trabalhavam 24 horas. Um navio, bem próximo, fez que não entendeu os pedidos de socorro. Outro, o Carpathia, mudou sua direção e salvou quase mil passageiros, mulheres e crianças a maior parte, congelando, após quatro horas no mar, entre icebergs, com a temperatura da água em -2o. Outros trinta homens, que saltaram para a água, equilibraram-se, a noite inteira, em um bote emborcado. Em terra, aguardando por mensagens os jornais oscilavam entre manchetes esperançosas ou escandalosas. As ações da companhia fabricante do navio despencaram. Lembro que o Titanic tinha um irmão, Olympic, se não estou enganado. Os inafundáveis! E a sensação de estar no meio do mar, gelado? A solidão. A imensidão. Um homem escapou vestido de mulher. Descoberto mais tarde, perdeu-se na multidão, mas com vida. Algumas mulheres decidiram ficar no Titanic e acompanhar seus maridos até o fim. É verdade que a orquestra tocou vibrantemente até o ultimo instante. Assisti o filme de Cameron. Mesmo com Kate Winslet, não é melhor do que este livro de Walter Lord, escrito em 1955 e que no entanto conserva a mesma força, concisão, informação e ritmo. Recomendo.

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