sexta-feira, 18 de setembro de 2015

IT'S SHOWTIME!

Eu estava no ginásio da Ufpa lá pelo começo dos anos 70, na arquibancada, aguardando o início do show. O Som Imaginário, com todos os gênios que conhecemos, inicia um estrondo uníssono. O som vai reverberando e então surge Milton Nascimento e canta “chegou no porto um canhão”. Sinto uma corrente elétrica atravessar o corpo. A plateia vibra. Claro, havia insinuações políticas, mas para mim, valeu a emoção. Nunca esqueci. Estava ouvindo no carro, pela enésima vez a abertura do “Get Yer Ya Ya’s Out”, dos Rolling Stones, ainda com Mick Taylor na guitarra. O apresentador se esgoela, a plateia vibra, Jagger diz alguma coisa, aproveitando para testar o microfone e lá vem “Jumpin Jack Flash”. Querem um início de show melhor que esse? Impossível ficar parado. Quem estiver ao lado do meu carro, talvez perceba que ele esteja balançando. Como as aberturas dos shows de Michael Jackson, com fogos, projeções, metais em fogo e lá está ele, esguio, dançando. Não dá para esquecer. Agora o show é de Joe Cocker, Mad Dogs and Englishmen, que virou filme, final dos anos 70, todos em um avião circulando pela América, troupe de hippies, mulheres e filhos. Leon Russel nos arranjos e piano. E eles iniciam uma abertura espetacular, com os metais ardendo, bateria, guitarra, piano, até que surge Cocker e o som encaminha para Honky Tonk Women. E não posso esquecer do final de show de Jackson Browne, e a música que fala dos técnicos que chegam antes e são os últimos a deixar o palco. E da estrada, pois enquanto todos já dormem tranquilos em suas casas, os caras já estão a caminho de outra cidade. O King Crimson, com Fripp calado, soturno, alguns toques aqui e ali para saber se está tudo ok e lá vem desmoronando com tudo um prédio inteiro na imagem de “Twentieth Century Schizoid Man”. Cara, não dá para resistir. Lembrei agora do primeiro show de Jimi Hendrix Experience, no Festival de Monterrey. Ele que circulava pelo país anônimo, foi para a Inglaterra e agora retornava chamado de deus. Tímido, desconhecido, ele dá os primeiros toques do riff e explica que está afinando a guitarra e que vai tocar algo que todos ali conheciam, autoria de um certo Bob Dylan. E lá vem desabando com tudo em “Like a Rolling Stone”. Esse show chegou até mim em um vinil com lados diferentes, um com Otis Redding e outro com Jimi. É ouvir e ser nocauteado, tão bem feito é o som. Noel Redding segurando a onda e Mitch Mitchell socando seus tambores. O próprio Roberto Carlos, mesmo melado de todo o castelo de doces que está sempre cercado, quando canta “Emoções”, é bem interessante. Lembro de um show de Nilson Chaves, no Teatro da Paz, acompanhado de orquestra. Todos aguardando um início retumbante, cheio de cordas e ele vem pela entrada do público, cantando a cappela, lentamente, percorrendo a plateia até subir no palco, aplaudido delirantemente.

Fico pensando no que se passa na cabeça de um artista assim, já acostumado às ovações, talvez com um certo enfado de, noite após noite, repetir o mesmo show. Há o lado profissional, que faz com que todos façam o máximo, até porque é impossível não reagir às grandes plateias, apaixonadas, cantando os hits. Essas bandas que brigam por motivos alheios e se apresentam sorrindo, um para o outro, de mentirinha. Os que tomam alguma coisa para manter a emoção e o embalo. It’s showtime! Um frisson percorre os corpos. Que comece o show!

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