sexta-feira, 9 de outubro de 2015

PSSICA NO RECIFE

“Dora rainha do frevo e do maracatu, ninguém requebra nem dança melhor do que tu”. Dentro da van que me levava ao hotel, olhava para Recife, onde estive para a Bienal do Livro. Lembrava de um 78 rpm que minha avó deu a meu irmão mais velho, juntamente com uma eletrola portátil (pesava uns dez quilos). Dorival Caymmi, no esplendor da forma vocal, cantava a música tão linda e tão significativa. Na abertura, um naipe irretocável de metais entrava em chamas, tocando um frevo. No encerramento, também. Será que era regida pelo maestro Cipó? Não sei. Nunca mais ouvi a gravação. Mas veio à mente enquanto a van passava por viadutos, avenidas largas, prédios, monumentos. Sim, Recife tem os mesmos problemas de segurança e disparidade social que se verificam em Belém. Mas nos trechos por onde trafeguei, à beira da praia e no lugar da Bienal, as ruas estão boas, sem tanta pichação, iluminadas e aparentemente em segurança. O centro da cidade, todo iluminado, permite o passeio e a conversa em bares, centros de cultura, museus, restaurantes, ah, quem dera a João Alfredo e grande parte da Cidade Velha!

Estivemos juntos, novamente, eu e Leonardo Padura, cada um falando de seu livro. Ele, cheio de glórias merecidas e muitos leitores. Eu me apresentando e lançando curiosidade sobre meu trabalho. Os dois, na abertura da Bienal. Vem um tiozinho fazer as apresentações. Ignorou-me, enchendo a bola do cubano, a quem chamou de “novo Tólstoi”. Então Padura pediu a palavra e por vários minutos, discorreu sobre meu trabalho e o dele, repetindo meu nome várias vezes. Generoso. Aprendi mais uma. Ficamos amigos, conversamos muito. Fomos conhecer Olinda. Também a primeira sinagoga das Américas, a respeito dos “Hereges”. A um que perguntou sobre questões políticas em Cuba, respondeu que estava ali para falar de seus livros. Quando chegamos, hotel em frente à praia de Boa Viagem, disse-me que até então, Nordeste, para ele, era seca, fome, miséria e ali, parecia com Rio de Janeiro. O calçadão, o marzão verde, lindo, a brisa marinha. Mas nem pense em dar um mergulho. Placas imensas avisam que há tubarões à espreita. Não precisa dizer mais nada. Amigos ofereceram um almoço de longo curso. Interessantes, educados, amabilíssimos, engraçados, precisei sair mais cedo para outro compromisso, agora entrevistado por Schnneider, que embora seja bem jovem, é um dos curadores da Bienal. Sabe tudo sobre “Pssica”. Lê trecho, indaga e comenta, para um público interessado. Depois, nos separamos. Leonardo foi para Cuba, através do Panamá. Eu voltei para Belém. Falamos, comunicamos, lançamos, fizemos nosso trabalho. A repercussão do “Pssica” tem sido excelente. Parece que deu um “clic” e de repente todos prestaram atenção à minha literatura. Depois de lerem o novo, vão atrás dos mais antigos. Isso faz um bem enorme. Voltei com energia renovada para, ao lado de meus pares, participar da segunda FLiPa, na próxima semana. É curioso que nem com todo esse destaque, consigo ter um livro à venda na Saraiva ou na outra cadeia. De qualquer maneira, é um sucesso de vendas na Fox. Meu primeiro público é o da minha cidade, meu Estado. Quero que leia e se identifique, forme imagens sabendo como são as ruas, os lugares, o sotaque. Será que desta vez consigo isso? “Eu vim à cidade pra ver meu bem passar, ô Dora!” Caymmi canta e Recife fica para trás. Até outra vez.

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