sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O HOMEM QUE AMAVA OS CACHORROS

Acabei de ler o monumental romance “O homem que amava os cachorros”, de Leonardo Padura, lançado pela Boitempo. Autor premiadíssimo da língua espanhola, um ano mais novo que eu, tornamo-nos amigos por viajar e participar juntos de eventos literários. Padura teve outros livros lançados, anteriormente, no Brasil, onde seu detetive Conde ficou famoso, mas aqui o caso é diferente. Trata-se do assassinato de Trotsky e a mistura de fatos e ficção de acontecimentos importantíssimos para a história mundial. Monumental porque além do extremo talento literário, Padura chega a ser obsessivo pelos detalhes com todos os personagens. Um dos líderes da revolução socialista que acabou com os czares, Trotsky, desatento, deixou que aquele desprezado georgiano chamado Josef Stalin subisse ao poder e a partir daí, usando a mentira e o medo, matasse milhões de pessoas. O livro tem três eixos. Trotsky, já exilado e ameaçado constantemente por Stalin. Ramon Mercader, seu assassino e Ivan, um cubano que tentou ser escritor, levou uma vida desagradável, mas encontrou uma pessoa que lhe contou a história. Tanto Trotsky quanto Mercader, adoravam cachorros. O russo, vivendo de escrever artigos, livros, planejando uma impossível volta à pátria mãe e com isso, arrastando ao desespero e à morte seus filhos. Seu percurso, primeiro a Turquia que desistiu de seu abrigo, depois a Noruega, de onde também foi expulso, até chegar ao México. Durante todo esse tempo, sua existência serviu para Stalin justificar milhares de assassinatos.
Ramon Mercader era filho de um burguês catalão. Sua mãe revolta-se e leva os filhos, tomando parte na Guerra da Espanha, vencida por Franco. Depois, passa a agente soviética. Ramon é recrutado. Preparado. A missão era matar Trotsky. Assume identidades. Tem como paixão uma catalã ainda mais decidida que ele. Agora, tem de esquece-la. Torna-se amante, como missão, de uma americana trotskista magra e feia. Ele, belo, como somente um catalão pode ser.
A vida de Ivan era chata. Na praia, encontra um homem misterioso que leva os cachorros para passear. Fazem amizade. Um dia ele começa a contar a história de um espanhol que matou Trotsky. Ivan percebe que o homem está falando é de si próprio.

Trotsky é recebido no México por Diego Rivera e Frida Kahlo, que os hospedam em uma casa que vira um bunker. O russo tem um caso com a pintora. Depois, envergonhado, muda-se. Ramon está no México, com sua americana. Fazem visitas. Conversam. Ele, com outra identidade. Enfim, chega o momento. Não vou contar, claro, mas as páginas seguintes, com o destino dos personagens, serve para um balanço de seus enganos, de seus medos, das mentiras que lhes fizeram cometer atrocidades que marcaram a história. Quando matou Trotsky, Ramon já sabia que estava no lado errado. Ficou calado. Foi condecorado, vinte anos de prisão, depois. Terminou seus dias em Cuba, sozinho e abandonado. Stalin matou milhões. Krushev ainda deixou o clima de medo sobreviver. Depois o muro caiu. Putin reina como czar e o que eles fizeram de suas vidas? Sua juventude, energia, sua crença férrea, seu medo. Perderam filhos, amigos, amores, pais e mães. Padura conseguiu um livro que é uma reflexão maravilhosa sobre os homens e suas paixões, fé, sonhos de poder e coragem. Maravilhoso.

Nenhum comentário: