sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O REI DA ROLETA

Sim, eu já ganhei na loteria esportiva. Há muitos anos atrás. Como arrisquei somente um palpite duplo, no valor de dois cruzeiros, muita gente ganhou, também. O prêmio foi suficiente para comprar um carro, o que para mim, muito jovem, foi ótimo. Ainda hoje, de vez em quando, deixo-me seduzir por prêmios acumulados na mega sena e volto a arriscar, claro, sempre na aposta mínima. Meu pai conseguiu incutir em mim e meus irmãos uma certa antipatia ao jogo. De baralho, cheguei a jogar partidas inocentes de final de semana de férias em Mosqueiro. E só. Apesar do jogo estar proibido desde ato do Presidente Dutra, ali na metade da década de 1950, sempre se jogou muito no Brasil. Principalmente em Belém, onde funcionam cassinos e de vez em quando a Polícia faz uma batida. Todo esse “nariz de cera” para recomendar a vocês o livro “O Rei da Roleta – A incrível vida de Joaquim Rolla”, lançado pela Casa da Palavra e escrito por João Perdigão e Euler Corradi. Como quase sempre acontece, Rolla começou bem pobre, como tropeiro em Minas Gerais. De conquista em conquista, inaugurou o lendário Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, tendo como adversário o Sr. Bianchi, dono do Cassino Atlântico, no Posto 6 de Copacabana, onde chegou a funcionar a Tv Rio e atualmente um hotel de luxo. Na Urca, funcionou a Tv Tupi e agora, o Instituto Europeu de Design. Empreendedor a vida inteira, semeou amizades com o poder, sendo amigo da Primeira Dama, Alzira Vargas, realizando eventos beneficentes. Seu cassino, além de receber toda a alta sociedade, apresentava shows de inesquecíveis artistas nacionais como Grande Otelo, Aurora de Oliveira, Francisco Alves e Carmen Miranda, entre outros. Houve também grandes cartazes internacionais, que de passagem para a Argentina e Uruguai, paravam no porto do Rio e eram levados para o Cassino. Abriu cassino em Araxá, Minas Gerais, tendo sido muito amigo de Juscelino Kubitschek. Construiu o famoso Quitandinha, mesmo já enfrentando a clara possibilidade da proibição do jogo no Brasil. Muitos filmes da Atlântida, de chanchadas, foram gravados por lá. Carlos Machado, que adiante seria o Rei da Noite, começou com ele. Carlos Lacerda também, atuando como publicitário em uma de suas empresas. Dutra proibiu o jogo. Foram tempos terríveis. Quando Vargas retornou, pensou que tudo voltaria a ser como antes. Não foi. O mundo mudava, lentamente. Havia Brasília, Bossa Nova, Brasil Campeão Mundial de Futebol. Havia, além de Lacerda, o Marechal Lott, João Goulart, Jânio Quadros, Brizola e Juscelino. Joaquim Rolla cansou. Os amigos chamaram para voltar a jogar peteca, em Copacabana. Desceu, jogou como nunca, voltou para casa e sofreu um ataque cardíaco fulminante durante o banho. O livro não chega a examinar se havia alguma influência de máfia, os percentuais financeiros, qualquer possibilidade de ilegalidade nas atividades. Até hoje, de vez em quando, o Congresso discute a volta do jogo no Brasil. Vários empresários torce, com grandes espaços preparados para funcionar imediatamente. Não tenho opinião formada. Há jogo em outros países vizinhos, Europa e Estados Unidos onde, em diversos filmes e livros, a máfia está por trás, sobretudo em Las Vegas, uma cidade para o jogo, construída em meio a um deserto. Ser contra o jogo é ser contra o livre arbítrio de quem quiser participar do “jogo de azar”? Ou porque há certeza de utilização do dinheiro em coisa ilícita? Mas o Governo Federal é o maior patrocinador de jogos de azar, como a Loteria, Mega Sena e uma série de outras possibilidades. Deixo a discussão no ar. Mais que a história de Joaquim Rolla, o livro vale a pena por revelar um Brasil maravilhoso, cheio de artistas inesquecíveis, que ficou para trás.

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