sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A CERIMÔNIA DE ADEUS

Nasci em meados dos anos 1950 e tive sorte, no que diz respeito às atividades que desenvolvi no rádio, por assistir e desfrutar de uma época maravilhosa para a cultura mundial nas mais diversas áreas, mais especificamente na área da música. Beatles e Rolling Stones com meus 11 anos de idade. Bossa nova, Jovem Guarda, Tropicalismo. Convivi com artistas maravilhosos, que fizeram obras que até hoje ouvimos, assistimos, gostamos. Em fevereiro, espero estar em SP para o show dos Rolling Stones. Charlie Watts, o baterista, estará próximo dos 80 anos e os demais, nos 75. Sim, a banda é um fenômeno de durabilidade. Senti muito quando Hendrix morreu. Janis, Morrison. Houve muitos outros, é claro. Mas a morte de David Bowie, no início da semana me chamou a atenção para o que chamo de “cerimônia de adeus”. Os ídolos de minha geração estão velhos. E pensar que Roger Daltrey, do Who, cantava “hope I die before I get old”. O Pink Floyd perdeu Rick Wright. O Yes perdeu Chris Squire. Perdemos Lennon há mais tempo. George também se foi. Pensei que seriam eternos. Não são. Mas também pergunto qual o artista das novas gerações que pode provocar essa tristeza toda com sua morte. Michael Jackson foi um deles. Sim, Madonna será, certamente. Quem mais? Nossos heróis enfrentaram barras pesadas. Propuseram mudanças na maneira de cantar, tocar, apresentar. Bowie, antes de Jacko, foi um camaleão, um dos primeiros a fazer vídeo clips. De atuar em filmes, nào como participação especial, mas como ator. Influenciaram o pensamento de toda uma geração. Com o final do mercado fonográfico, parece que tudo esfarinhou. Não temos mais tempo para degustar lado A e lado B dos discos. Escutar até mesmo as músicas menos interessantes. Ler a ficha técnica, as letras. Os Beatles foram os primeiros em “Sargent Pepper”. As capas que perderam força já com a chegada do cd. Eram obras de arte. Faziam parte de toda uma estética. Quem serão os próximos? Imaginem quando chegar a vez de Dylan. De McCartney. Mick ou Keith. Assisti a um documentário sobre o último disco solo de Richards. Em dado momento, Tom Waits (atuando como entrevistador), após ouvir a história dos Stones, passeando no lendário Chess Studios em Chicago (encontraram um negro pintando o teto, estranharam e foram apresentados a Muddy Waters), pergunta se ele sabia que hoje, ele era aquele deus da música que Waters havia sido para eles. Keith, com aquela voz de fundo de poço, diz apenas: sim, eu sei.

Vou assistir ao show dos Stones porque penso que, desta vez, será a última. Já sei que após os shows na América do Sul, a banda entra em estúdio para gravar material novo. Será, mesmo, a última? Bem, Paul McCartney já virou arroz de festa. Fui a uma dessas lanchonetes especializadas em burgers. A decoração toda rock and roll, com guitarras, amplificadores, quadros e monitores. Em um deles, o último show de McCartney. Mas espera aí, esses burgers têm como principal público, adolescentes ou jovens de até 25 anos, não é? Sir Paul tem mais de 70 anos! Eric Clapton tem mais de 70 anos! Em outro Burger (ando indo muito a burgers), um guitarrista e uma baterista. Jovens. Iniciam o show com “Revolution”, dos Beatles. Ué? Por isso, quando Bowie morre, vem uma melancolia e vejo que não é somente da minha geração, mas de todo um público. A música de hoje é muito ruim. Até os jovens acham. Tive sorte, muita sorte. Espero que, como na música do Pato Fu, “tempo amigo, seja legal, conto contigo, só me derrube no final”.

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