O
livro é primoroso porque traça todo o panorama da então capital do Brasil, Rio
de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, não apenas musicalmente, mas com vários
outros aspectos, inclusive políticos, com os detalhes que envolveram a morte de
Getúlio e a chegada de Juscelino. O samba canção, aos poucos, no começo dos
anos 50, foi chegando e tornando um tanto mais leve as músicas de então,
valsas, polcas, com suas letras trágicas. Havia uma batida de samba mansa, que
chegou primeiro às rádios que reinavam absolutas e aos cassinos da cidade.
Vieram Angela Maria, Aracy de Almeida, Cauby Peixoto (tendo a roupa rasgada
pelas fãs, tudo previamente combinado e as roupas com costuras fracas), Dorival
Caymmi com seu charme e vozeirão, Ary Barroso e seu programa de calouros, Herivelto
Martins e seu casamento feroz com Dalva de Oliveira. Quando os cassinos foram
fechados por Dutra, um enorme número de profissionais foi despedido. Foi então
que surgiram os nightclubs que infestaram Copacabana. Casas para 150 pessoas,
no máximo, com grupos musicais e grandes cantores fazendo várias entradas. As
pessoas iam de uma para outra casa, até o sol raiar. O samba canção baseava
suas ações dramáticas na relação homem e mulher. Algumas letras muito trágicas,
mas já à frente do que havia antes. Há capítulos especiais para personagens
como a fabulosa Dolores Duran, que apesar de problemas cardíacos, era
workaholic, bebia e se injetava drogas como se não houvesse amanhã. Um dia,
após chegar umas nove da manhã, despediu-se da filha, deitou e não acordou
mais. Outro foi Antonio Maria, compositor, jornalista, polemista, sempre às
turras com Fernando Lobo (pai de Edu), e que apesar de gordo e feio, fez Danuza
Leão apaixonar-se e deixar Samuel Weiner, dono da Última Hora. E não somente
música, mas colunistas sociais como Jacinto de Thormes e Ibrahim Sued,
Stanislaw Ponte Preta, magnífico, outro que morreu cedo por excesso de tudo,
Carlinhos e Jorginho Guinle com suas mulheres estrangeiras duelando pelo brilho
na noite. Casas como Vogue, Sacha’s, Night and Day, Golden Room (Copacabana
Palace) e tantas outras. Tom Jobim no começo de carreira, tocando piano,
conhecendo Vinícius e a partir daí, iniciando a bossa nova a partir do disco
“Canção do Amor Demais”, de Elizeth, já com João Gilberto ao violão. Chegou a
televisão, Brasília foi fundada, mandando para o planalto muitos dos
frequentadores da noite e foi chegando também a moda de boates, com música
mecânica. Os artistas foram envelhecendo e surgindo a bossa nova. Puxa, como
era bom! Um livro para ler cantando verdadeiros hinos da mpb, cantores
inesquecíveis, figuras notáveis de uma época feliz. E Ruy Castro com todo seu
talento e facilidade de expressão. Uma beleza.
sexta-feira, 17 de junho de 2016
A NOITE DO MEU BEM
Meu
pai adoraria ler “A noite do meu bem”, editora Companhia das Letras, escrito
por Ruy Castro. Teve seu conjunto, inspirado no Bando da Lua e 4 Ases e 1
Coringa. Apaixonou-se por Francisco Alves e Silvio Caldas. Mas o estilo que
mais lhe marcou foi o samba canção, que vicejou nos anos 50, no Rio de Janeiro.
Conhecia todas as músicas e através dele, fez com que nós, os filhos, também
soubéssemos. Seus novos ídolos eram Tito Madi, Dick Farney, Nelson Gonçalves,
Elizeth Cardoso, Jamelão e principalmente Lucio Alves. É terrível que nos dias
em que vivemos, ninguém mais cante esse repertório notável. Caetano, Gil,
Chico, Bethania e Gal ensinaram à toda geração que veio nos anos 60 e 70, essas
músicas. Quanto aos artistas de hoje, parece que nada existiu antes de
aparecerem com esses arremedos de música que tocam nas rádios e festas de
agora.
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