Não
entendo do assunto. Como qualquer outra pessoa, quero todos os bandidos presos,
mas com a idéia de um plano profissional, técnico, para sua ressocialização, o
que é brincadeira, comparado à realidade. Se isso acontece em SP, imaginem em
Belém. Silvio, muitas vezes relata o olhar perdido de alguns, amassados pelo
stress e falta de porvir dos presos. O comércio interno. A corrupção
desenfreada. Os crimes. As desconfianças. Palavras que mal interpretadas
significam vida ou morte. Há os que nem pensam em se regenerar. O que fazer com
esses assassinos? Não sei. E quanto aos que erram, por motivos humanos,
diversos? Impossível retornarem incólumes, física e psicologicamente. Lastimo
também que este livro não tenha tido o destaque que merecia ao ser lançado.
Apresenta uma discussão excelente sobre o assunto. Sugiro que o procurem. Uma
leitura definitivamente impactante.
sexta-feira, 22 de julho de 2016
O OUTRO LADO DO MURO
Acabo
de ler um livro de título extenso: “O
outro lado do muro – ladrões, humildes, vacilões e bandidões nas prisões
paulistas”, de autoria de Silvio Cavalcante e Osvaldo Valente, impresso em 2013
pela gráfica do Diário Oficial do Estado do Pará. Boa impressão, diga-se,
embora o papel utilizado para capa seja muito ruim. Não sei onde esteve à
venda, mas parece que o adquiri na livraria da Loja Visão. Silvio é o principal
protagonista em um período terrível para sua vida. No começo dos anos 90,
século passado, estava em São Paulo fazendo um curso de computação, ele que já
era formado em Análise de Dados e compraria produtos para uma empresa que
levaria adiante com um sócio que ficara em Belém. Hospedado em uma pensão, tal
como um irmão que morava em SP, perdera ou tivera a carteira roubada, tendo
saído para fazer o tal “BO”. Caminhando pelo centro, sentiu uma fisgada na
perna. Tinha sofrido um tiro, não sabia de onde ou quem havia atirado. Procurou
uma farmácia, os atendentes pareciam assustados. Chamou dois PMs e pediu
socorro. Estes, imediatamente o prenderam como suspeito de um assalto que havia
ocorrido instantes atrás, ali perto. Daí em diante, uma via crucis
aterrorizante acontece. Ele é levado para um Distrito onde sofre torturas para
confessar o que não podia. Consegue falar com um irmão que arranja um advogado
sugerido por amigos. Nesse ínterim, é identificado por uma das vítimas do
assalto, como participante. Pior, um menor de idade que verdadeiramente
estivera no crime, torturado, garantiu que Silvio era cúmplice. Seu argumento
que era de Belém e estava na cidade para fazer um curso não convencia ninguém.
Pior, sem documentos. Com ferimento na perna e espancado, ele se vê de Distrito
em Distrito até ser remetido para a lendária Casa da Detenção, convivendo com a
escória humana e todas as pressões que se pode imaginar, durante sete meses,
até finalmente ser libertado. Tudo isso é narrado em pouco mais de 400 páginas
que calam fundo em quem as lê. A organização interna dos presos, a maneira de
proceder, os riscos, ameaças, agressões. É um mundo inteiramente diferente
daqui de fora, com regras próprias. Por isso, o subtítulo ladrões, humildes (os
que não tinham dinheiro, família e até os que eram inocentes, mas presos),
vacilões (haviam cometido erros em suas prisões e eram escravizados pelos
outros detentos, inclusive sexualmente) e os bandidões, estes com longas penas,
responsáveis pela vida ou morte dos outros. Há também estupradores, os quais,
tinham raspados todos os pelos do corpo e eram humilhados diariamente. Uso o
verbo no passado porque o presídio foi demolido.
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