Vocês não sabem o que é ter
entre 14 e 15 anos, final da década de 60, século passado, em uma boate no
Mosqueiro, Netuno Iate Clube, e depois de algumas músicas para dançar “solto”,
ouvir os primeiros acordes de “This guy’s in love with you”, com B.J. Thomas. A
luz negra está ligada, lá fora as ondas de maré alta batem no muro de
arrebentação. É mês de julho, verão total. A pista que estava lotada, em um
momento, esvazia e enche novamente de jovens com o rosto e as costas ardendo do
sol que pegaram nas praias. Você olha para o outro lado do salão e vê a garota
dos seus sonhos finalmente sentada na mesa, com seus pais e irmãs e considera
se, finalmente, terá a coragem de ir até lá e com o olhar firme, convidá-la
para dançar. Você ensaia mentalmente a cena. Passara os outros dias pensando
nisso. Tomara algumas doses de cuba libre para descontrair. É agora, você
decide. Sai do balcão do bar cheio de certezas e principalmente, dos sonhos de
um adolescente ingênuo e apaixonado. E quando vai chegando, tremendo de emoção,
vê aquele rapaz mais velho, mais seguro de si, chegar até ela, cumprimentar
seus pais e leva-la para a pista. Você se sente entre o derrotado e um certo
alívio pelo medo que sentia dela dizer não. Fica para outra vez. Outros sonhos.
Vê-la, no dia seguinte, na praia, olho comprido e ela, talvez, continuando a
conversa com aquele rival repentino e cruel. Ou não. Você chega, voz trêmula,
dá boa noite aos pais e a convida para dançar. Ela aceita. Você a leva para a
pista. Passa o braço. Sente aquele corpo de menina se juntando ao seu. O
perfume, o cabelo que teima em entrar no seu olho. É pura mágica. Você balbucia
algumas palavras, tipo “adoro essa música. Você também gosta?” Ela sorri apenas
e diz que também gosta. E aos poucos, o corpo chega mais próximo, o que
chamavam, antes, “colar” e agora você percebe sua respiração forte e imagina
que deve dizer alguma coisa, quem sabe, “quer namorar comigo?”. Meu Deus, isso
seria de uma audácia incrível. Talvez fosse melhor, ao final da música,
conversar um pouco. Seus pais deixariam? Eles conhecem sua família, pode ser
que sim. Todo esse tsunami de pensamentos cruzam a cabeça desse adolescente
ingênuo e apaixonado. Acabou a música, e os Bee Gees são ouvidos com “I started
a joke”. Incrivelmente ela não pede para parar de dançar. Continuam ali, rosto
com rosto e até mesmo outros sinais que o corpo apresenta você ignora. O mais
importante é sentir aquele corpo colado ao seu, a música, o lugar, o sonho. Os
pais fazem um sinal e ela se descola e diz que precisa ir. Você pergunta se
pode conversar com ela, no dia seguinte, na praia. Ela diz que sim e lhe dá um
beijo no rosto, que fica em chamas. Você se despede, fica zanzando pela boate
completamente tonto e sem palavras. Os amigos zoam e você nem dá bola. Vai para
casa e não consegue dormir. Relembra, ponto por ponto, o que se passou. Você
era uma criança até ontem e agora sente-se poderoso, orgulhoso da aceitação de
uma menina. A coragem de convidá-la a dançar. E na manhã seguinte, você se
encaminha para a praia, na direção da barraca da família e lá encontra o
“gavião” de ontem e mais uns dois rapazes, por conta das irmãs de sua paixão.
Você estaca, pensa se terá coragem de ir até lá e colocar-se em cena. Olha para
si, para o rival, mais encorpado, cheio de gás e já não sabe o que fazer. E
então, dezenas de anos mais tarde, outro século, você ouve “This guy’s in love
with you”, com B.J. Thomas e toda uma época feliz e romântica, volta à
lembrança.
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