sexta-feira, 5 de agosto de 2016

FESTA SURPRESA

Pois eu gostei de cara da Rosaly, a nova gerente. Talvez quase 40, elegante, rosto forte, olhar atento, se integrou rapidamente ao ambiente da agência, sem deixar de cobrar forte e assumir o comando. O pessoal comentava nas internas sua beleza. As meninas desdenhavam, mas não deixavam de concordar com sua simpatia. Foi em um happy hour,  num boteco próximo, que o Olinto disse que havia descoberto a data de aniversário da Rosaly. Era costume festejar essas datas e sempre aprontar alguma coisa engraçada. Servia para nos unir ainda mais. E o que faremos para Rosaly? Apesar de toda sua simpatia, nunca dera muito espaço para intimidades. Sabíamos que já fora casada e atualmente estava solteira. Dizia-se casada com o trabalho. Vamos fazer uma festa surpresa, em seu apartamento. Mas como entrar lá? A Graça, secretaria, disse que faria um molde da chave com um sabonete. Olha, ela pode não gostar. Isso é invasão de domicílio. Ah, não estraga, não complica. Quando acontecer a surpresa ela vai ficar é feliz. E depois, nós somos bem animados, né? Bom, não digam que não avisei. Fizeram uma cópia da chave. Coleta para o bolo, bebidas, salgadinhos, balões, enfim, tudo discretamente. Chegou o dia. Ela tinha uma reunião que ia durar até umas nove da noite, talvez. Que bom. Dá para aprontar tudo após o expediente. Difícil controlar a ansiedade. E lá fomos nós. A chave funcionou. Entramos. Todos estávamos excitados, rindo, arrumando, quando ouvimos um barulho. Gritos. Me soltem! Abram a porta! Socorro! As meninas gritaram de medo. Nós, temerosos, sem saber o que fazer. O Bob tomou a iniciativa. Abriu a porta. Dentro, uma menina cheia de marcas, hematomas e sangue, amarrada com correntes. Instrumentos cortantes, de tortura e fotos de gente sofrendo nas paredes. Recuamos assustados. A menina pedia para ser salva. Estava ali há dois meses sendo torturada por aquela sádica. As meninas choravam. Nem coragem para fotografar tivemos. Desamarramos. A menina não conseguia andar. Estava nua, abalada. Alguém providenciou um cobertor. Perguntávamos e ela não conseguia responder. Coitadinha, está em choque. E o que é que a gente faz? Chama a Polícia, as meninas disseram. Bem que eu sabia que ela tinha cara de sonsa. Sonsa? Ela é uma serial killer! Olha o risco que nós corremos! Não pode ser, deve haver algum engano. Ela é que nunca me enganou! Liga Alfredo, liga pra Polícia agora ou eu vou começar a gritar! Ligamos. Eles estão vindo. Talvez seja melhor ligar pro Samu socorrer a menina. Então ouvimos o barulho da chave na fechadura da porta. Veio aquele frio na barriga de todos. Uma das meninas correu para vomitar no banheiro. E a Rosaly entrou. O que significa isso? O que era para ser uma recepção festiva, virou, sei la o quê. Silêncio sepulcral. Ela olhava para nós. Nós olhávamos para ela. A Olga disse que era para ser uma festa surpresa, mas agora.. Então a Rosaly disse que era sim uma surpresa! Imediatamente a menina que estava em choque se levantou rindo e se abraçou com ela. Feliz aniversário! Ninguém respondia. Era tudo uma brincadeira, gente! Vocês armaram pra cima de mim, eu armei pra cima de vocês! Ei, gente, é tudo brincadeira. A Emília, aqui, é uma atriz. Vocês acreditaram? Dêem parabéns a ela! Parabéns nada, as meninas disseram. Você é uma louca. Vamos embora! Gente, vamos festejar.. Saíram todos para o corredor. O elevador chega e nele, uma equipe de policiais cheios de urgência. Olha, foi difícil explicar, ouvir a esculhambação por termos feito uma denúncia inexistente, enfim. Todos foram embora. Eu fiquei. A noite foi ótima com Rosaly e Emília.

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