sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
NA GALERA
A
primeira vez em que fui a um campo de futebol assistir a um jogo, fiz vergonha.
Ao terminar o primeiro tempo, fui chamar meu irmão para que ele contemplasse o
tamanho das orelhas de uma pessoa, na arquibancada. Depois, passei grande parte
da infância e adolescência assistindo a jogos, sentado ao lado de meu pai, que
primeiro era o locutor e depois comentarista. Estava no Leônidas Castro quando
Amoroso fez aquele gol em que toda a torcida bicolor avisava o goleiro Omar e o
zagueiro Abel que ele estava furtivamente vindo tomar-lhes a bola e fazer o
gol. Estava no Evandro Almeida, na inauguração dos refletores, com Pelé em
campo e vestindo o manto sagrado azulino. Também quando Eusébio esteve aqui com
o Benfica. Grandes vitórias, grandes derrotas. O importante para mim foi
aprender a “ler” o que se passava em campo. A dinâmica do jogo, as estratégias,
formação e jogadas. Tudo isso me valeu para, mais tarde, escrever sobre futebol
e comentar partidas para a Mais Tv. Também serviu para me tornar um espectador frio,
muito diferente de estar na torcida. Sim, já estive em arquibancadas, poucas
vezes, na companhia de amigos do colégio. Junto ao alambrado, xingando o
bandeirinha. Uma vez, garoto, estava no Maracanã. Era Flamengo e Vasco. O rubro
negro venceu, com gol de Espanhol, cujo nome era José Ufarte. Após o gol, com o
estádio em festa, correu na direção da torcida. Naquele momento de emoção,
compreendi tudo o que o futebol provoca nas pessoas. Uma mistura de gozo,
vitória, consagração e a desgraça do rival. Há uns que pulam e se abraçam.
Outros, de joelho, erguem-se cabisbaixos, outro reclama com o bandeirinha,
aquele parece culpar o companheiro. Era um jogo interestadual. Equipes de rádio
de fora presentes. Não havia lugar para mim, nas cabines. Meu pai me deixou
junto aos conselheiros do Remo. Aqueles senhores me receberam com carinho, me
ofereceram picolés, refrigerantes. Senti-me seguro. Mas então o juiz apitou, a
bola veio na nossa direção, o jogador azulino dividiu e levou a pior. Então,
como uma onda vibrante, aqueles senhores bonachões, bonzinhos, feito lobos
ferozes se atiraram à grade proferindo os piores palavrões que já havia
escutado, xingando juiz, jogador e quem mais aparecesse. Fiquei encolhido no
canto. Todas essas palavras vos escrevo porque meu cunhado esteve no “Edgar
Proença” assistindo ao jogo Remo x Cametá, levando seu filho. Mineiro, sem nada
entender do jogo, fez a vontade de Gabriel, remista doente, mesmo morando em
Brasília. Emocionado, conta do clima a partir da ida ao estádio, com ônibus carregados
e cantando hino. Como engenheiro, prestou atenção aos detalhes da obra.
Encantou-se com a emoção presente. Jovens, mulheres com crianças de colo,
senhores com filhos e netos. Os hinos cantados antes do jogo. Os xingamentos
aos juízes, ao atacante que perdeu a chance, ao rival que quase marcava. E na
volta, a mesma festa. Li que ao contrário disso tudo, houve também violência,
roubos, o de sempre em terra sem Segurança. Do jogo e suas estratégias, pouco
pode dizer. O Remo venceu de goleada, mas foi a emoção, aquelas vozes cantando
em côro improvável que lhe marcou. Esse é o segredo do amor ao futebol. Não é
possível que continuemos em nossa terra a ser tão amadores, incompetentes,
ladinos, com algo que provoca a enchente de gente para assistir equipes fracas,
sem jogadores de nível, sem um regulamento, gramados em condição e pior,
transmitindo a partida para a cidade. É incrível. É insuportável. Mas o
torcedor vai e se emociona. É isso.
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