sexta-feira, 5 de maio de 2017

GUERRA E BONDADE

São duas coisas completamente conflitantes? Depende. Assisti, a princípio querendo não gostar, o filme “Até o Último Homem”, dirigido por Mel Gibson. Levou para as telas uma história real, do primeiro soldado considerado “O.C.”, que é algo como Objection of Conscience”, permitido a partir de gestões de Igrejas de Adventistas do Sétimo Dia. O pai de Desmond Doss e o irmão, lutou na Primeira Guerra e voltou para casa cheio de traumas. Espancava diariamente os filhos e a esposa. Em uma dessas vezes, Doss, revoltado, imobilizou o pai, tirou-lhe o revolver das mãos e apontou para sua cabeça. Quase atirava. Quando tudo passou, jurou que nunca teria uma arma. Veio a Segunda Guerra, o irmão alistou-se e foi lutar. Pouco tempo depois, Doss também alistou-se. No campo de treinamento, ao recusar pegar e manusear um fuzil, deu início a um tormento. Seu sargento e os companheiros o humilhavam e até espancavam. Ele envergonhava a todos. Passou pelo psicólogo, general e acabou em um tribunal. O pai irrompeu na sala com um documento que mostrava que a constituição lhe dava o direito de ir para a guerra como médico, sem portar arma. Mesmo com todas as ameaças e pressões, Doss não voltou atrás. Seu pelotão foi travar a grande batalha da guerra no Pacífico, contra os japoneses, pela ilha de Okinawa. Havia uma serra a conquistar. Dois batalhões já haviam sido dizimados. Uma face em abismo vertical era o início. Lá no alto, os japoneses. Não há espaço aqui para discutir o lado certo. É apenas um filme e com o cansaço dos filmes western, americanos transformaram os índios em alemães e japoneses. Estes, correm para a morte, com seus gritos assustadores. Morrem aos magotes e ainda surgem muitos outros. Doss corre de um para outro ferido, dando atendimento e mandando para a retaguarda. Parecem ter uma vitória. O inimigo fugiu. Passam a noite nos buracos feitos por bombas. Não sabiam que os japoneses tinham um túnel por onde sumiam e reapareciam com mais força. Isso acontece. Os americanos batem retirada. Sobraram 32 vivos, que desceram pelas cordas em pânico. Doss, ficou. Veio a noite. Às escondidas, começou a buscar cada ferido e levar para baixo. Descia-os amarrados em cordas. Alguns inimigos surgem, dando golpes de misericórdia em feridos. Ele se esconde. A cada um que descia, pedia a Deus mais força para trazer outro. Foram 75 companheiros, a noite inteira. Enfim, conseguiu descer. Chegando, os companheiros foram felicita-lo mas reagiu com golpes. Estado de choque. Belo ator. Me fez chorar, confesso. O filme ganhou Oscar de melhor mixagem de som. Gibson dirigiu ótimas cenas de batalha. Dá pra sentir o medo a empurrar a coragem de todos. E à noite, a tensão para que Doss trouxesse os feridos. Um por um. Talvez tenha sido essa aflição e o olhar do ator que me tenha emocionado. Mas logo compreendi que foi o impacto da bondade. Essa, tão violenta em um ambiente tão agressivo, me atingiu frontalmente. Doss salvou até o sargento que tanto o humilhava. Morreu no início dos anos 2000. Ao final, vemos fotos e  depoimentos. Em um mundo que estamos vivendo, com tanta maldade, me impressiona a força da bondade. Tento compreender essas pessoas que largam tudo e vão distribui-la no mundo. Esses médicos sem fronteira, por exemplo. Os que cuidam daqueles que perderam tudo. Eu, humano cheio de defeitos, procuro ser bom. Quero seguir meu pai que me disse que tudo o que queria era que eu fosse um homem bom. Distribuir bondade nesse mundo selvagem em que estamos. O filme me emocionou. A bondade, sempre.

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