sexta-feira, 9 de junho de 2017

MEU CORAÇÃO É BANDEIRA AO VENTO NA PRAIA DO FAROL

Minha amiga Silvana acaba de publicar fotos do Hotel Farol, em Mosqueiro, onde passa alguns dias com sua mãe. Comentei, no Facebook, que meu coração está ali, naquele cenário, não enterrado, mas empinado, ao vento, como uma bandeira feliz, acenando para o dia. 
A praia do Farol é o local dos meus sonhos e devaneios. A casa de meus avós. Uma das lembranças mais antigas foi uma madrugada em sussurros de minha mãe e suas auxiliaries. Íamos pegar o ônibus das seis, até a Vila, e de lá, no Presidente Vargas, para Belém. Elas não queriam nos acordar. Outra lembrança é acordar, um domingo, ouvindo o vento nas palmeiras e a algazarra da criançada, na praia. Como eu era feliz. Como um dia em que meus pais e um ou dois dos meus irmãos tinha ido a Belém e eu fiquei. Era depois do almoço, dia de semana, julho, e naquela calmaria, fui até a praça em frente da casa, subi em uma árvore e lá fiquei pensando na vida. A vida! O que seria, o que haveria à frente? 
O Farol da minha meninice era muita praia, bicicleta e futebol. Mas foi lá, também, que conheci meu primeiro amor, que até hoje me afeta. O sentimento de paixão, alterando, trazendo desvarios mentais ao meu cotidiano até então. Aos finais de semana, noitinha de sexta, chegavam os pais, vindos de Belém, pelo navio. Traziam revistas para as crianças. Nosso vizinho, Sr. Harley, passeava em um carrinho, levando uma criança de cada vez para uma volta. Mais tarde, vinha fazer mágicas. Junte isso com as narrativas de minha mãe, teatralizando uma Amazônia misteriosa, ocupando, municiando nossas mentes, abrindo portas para o livre pensamento. Meus avós, sentados em cadeiras no imenso patio, saudando os amigos que passam em direção à praia. 
Quem chegava, de violão para tocar com meu pai. E já chegou ali a kombi do Seu Rubem Ohana, carregada de meninos e meninas que ao toque de uma eletrola, botavam-se a dançar e namorar. Eu olhava comprido, ainda tão menino, mas em transformação. Agora a moda era jogar vôlei nos quintais. Com a ajuda do querido Zé Zumero, levantamos uma rede e aprendemos a jogar. Mas já a vontade do futebol me levava à praia, nas tardes, para enfrentar adversários maiores e mais fortes. Meus moinhos de vento? Não interessava. Aprendia. Lá vem um rapaz, da Ilha, driblando seus oponentes, rumo ao gol. Pensei em impedí-lo. Claro, eu conseguiria. Aprumei o corpo para prensar a bola. Houve um choque. 
Caído ao chão, vi-o seguir, célere, adiante, enquanto eu estava destroçado. Saí capengando. Um dedo estava quebrado. O rapaz, nem sentira. Mesmo assim, à noite, estávamos no Netuno Iate Clube, luz negra, Esmeril Band tocando rock and roll. Em um interval, “I started a joke”, dos Bee Gees e aí o mundo rodava, se transformava, um rodopio, um mundo inteiro se transformando, amores impossíveis, para mim, as meninas cobiçadas dando atenção aos mais velhos e já aprumados e o barulho das ondas do mar, batendo na arrebentação. A gente olhava para o céu, procurava a lua e suspirava. Quando chegará a minha vez? De vez em quando vou ao Mosqueiro. Escrevi um livro quebrando esse vidro de paraíso, chamado “Moscow”. Mas isso é arte. Meu Mosqueiro está intacto. Vou no meio de semana, um dia qualquer. Vou à praia com meu cachorro, volto e me ponho sentado na pracinha. Vou até a casa, hoje do amigo Mariano Klautau. Olho o patio e fico em devaneio. Todo aquele mundo passa diante de mim. Tão felizes, tão lindos! Eu os vejo, juro e penso como era feliz! Não me arrependo de nada, nem de ter amadurecido mais tarde, sendo criança por mais tempo. Meu coração está linda, bandeira despregada, rindo infantilmente, como um sinalizador de que tudo na vida vale a pena. Boas férias neste julho que vem aí.

Nenhum comentário: