sexta-feira, 7 de julho de 2017

AOS MEUS PROFESSORES

Acabo de assistir a uma reportagem na televisão sobre professores inesquecíveis de cada um de nós. Não conheço profissão mais nobre. A importância de alguém que nos ensina as primeiras letras, a escrever e ler. Tive ao longo da vida professores de fundamental presença e aproveito o mote para lembrar deles. Aos oito anos, meus pais conseguiram que Beatriz Kup, filha do cônsul da Inglaterra, quinze ou dezesseis anos, me ensinasse a falar inglês. Além de linda e inteligente, ela me passou o fascínio da Língua, embora a tenha feito passar vergonha. Em uma recepção, apresentou-me ao pai que, brincando, perguntou “How do you do”, ao que respondi, encabulado, “ainda não dei isso”. Cinquenta anos depois a reencontrei, com a mesma beleza e vivacidade. Parecia um encontro marcado. Semanas depois, repentinamente, faleceu. Estudei o Primário no Colégio Suiço Brasileiro. Lembro pouco. Mas no Colégio Nazaré fiquei até seguir para a Universidade. Logo no primeiro dia de aula, aprendi todos os palavrões que sei até hoje. Mas também aprendi muito. Não esqueço de alguns Irmãos, sobretudo Irmão Machado, nordestino, que criou um Clube de Leitura. Fiquei encarregado de ser um dos redatores do jornal “O Caminho”, impresso em mimeógrafo. Após as aulas matinais, voltava à tarde para reuniões onde aprendia Educação Sexual, Leitura e discutíamos Religião. Confesso que minha assiduidade era devida ao futebol que jogávamos ao final das discussões, mas sei, que toda a reflexão feita sobre os assuntos, me fizeram ser quem sou, hoje. Havia o querido Irmão Afonso, alemão que diziam ser vítima de guerra, o que nos dava curiosidade e um certo medo. É uma pessoa doce, adorável, ainda hoje com uma legião de amigos, ex-alunos. E os professores? Havia o Camarão, de Língua Portuguesa, excelente, boêmio, às vezes dando aula com muita ressaca. O Padre Tocantins, figura ao mesmo tempo engraçada e complicada. O professor Gabriel Leal, adiante, parceiro de jogos de futebol, que tocava em uma eletrola “My Bonnie” e caminhava pela sala, cantando. O professor Manoel Leite, apaixonado por sua matemática. Professor Nogueira, de Química Mineral de quem me tornei muito amigo, mesmo que faltasse, com outros, às suas aulas, para jogar futebol. O Irmão Porfírio, preocupado que não estudássemos demais e chegássemos ao Vestibular cansados. Lembro então de uma das pessoas mais importantes da minha vida, meu amigo Abílio Cruz, que estudava dando aulas para nosso grupo de estudo. Um professor, adiante, no Curso de Engenharia da Ufpa. Foi-se muito cedo e até hoje deixou uma lacuna enorme nos nossos corações. Mas quero prestar homenagem, principalmente ao professor Edson Berbary. Sua cadeira era Português. Embora eu já devorasse todos os livros de aventuras de capa e espada da biblioteca de meu avô, ele dividiu nossa turma em grupos, oferecendo livros de autores brasileiros diversos para que lêssemos e fizéssemos um trabalho a respeito. A mim coube “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego. Meu avô emprestou-me. Havia uma dedicatória do escritor para ele. Li em seguida os outros dois livros e isso despertou em mim, definitivamente, a leitura, a reflexão e nunca mais parei. Berbary também estava sempre conosco em acantonamentos, projetos, diversão. Com sua inteligência, sua postura, sua integridade, é um Professor com “P” maiúsculo, que nunca vou esquecer. Muito obrigado. Há alguns bons anos atrás, também dei aulas no Curso de Jornalismo na Ufpa. Confirmei a importância da missão. Não há nenhuma profissão mais importante. O meu agradecimento a todos eles que me fizeram ser quem eu sou, hoje.

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