sexta-feira, 14 de julho de 2017

BÁRBARA, BELA, TELA DE TV

A imagem transmitida para os mais diferentes receptores, a realidade transportada, a imagem inventada chegando até nós, se apresentando e se impondo, ficando gravada em nossas mentes, não diminuindo a capacidade de imaginação, ao contrário, aumentando, até colaborando, de alguma maneira armazenando, inclusive em quem não tem acesso à alfabetização, os fatos culturais. Quem será o dono das imagens? A quem interessa transmitir esta ou aquela imagem, manipulada ou não? Influir na opinião pública. Criando mocinhos e vilões. 
Londres é talvez a cidade mais vigiada do mundo. Todos são filmados nas ruas, recintos fechados, públicos - quem sabe também em privados? Razões de segurança. Em Belém, políticos usam imagens para mostrar que estão trabalhando bem, embora todos discordem.
É possível sobreviver em Brasília sem se envolver com irregularidades? Milhares de imagens, todos os dias. O que assistimos é a realidade? Ou é uma dança coreografada diariamente para nosso deleite? Olhos rútilos garantem honestidade. A falta de investimento em Educação e Cultura, a deterioração do tecido social, trocado pela sobrevivência diária. Quem lê jornais? Quem lê análises políticas? Quem lê tanta notícia? Nossas autoridades são mestras na dissimulação frente às câmeras. Não sabem, não viram, mas vão mandar apurar rigorosamente. Há um descompasso entre a imprensa, como tambor da sociedade, e a verdade anunciada pelos políticos, que parecem, hoje, atuar apenas para evitar que sejam descobertos em ações ilícitas. Qual será a verdade?
Há como que realidades superpostas. Diariamente, no “Jornal Nacional”, há cobertura da ação policial no Rio de Janeiro. Ou em Belém. Soldados camuflados, com armas pesadas e postura de guerra, escondem-se nos becos, apontando, procurando inimigos. Como nos filmes. Na mesma cena, despreocupados, moradores, homens, mulheres e crianças passam pra lá e pra cá, na sua azáfama diária. Lojas, casas, ambulantes, mais soldados. Como realidades superpostas. Como se filmados separadamente e depois sincronizados. A guerra de uns e outros, diferente da outra guerra, a da sobrevivência, à margem, criando outra sociedade, sem controle, a sociedade do descontrole, onde o lema é sobreviver. E os corpos empilhados, crimes sem solução. 
E nessa sociedade tudo é pirata, como uma sociedade cover, sociedade falsa, com outro padrão. É pirata porque não tem dinheiro para ser a verdadeira. Porque, ao contrário de morrer, desaparecer, luta para continuar viva e se reinventar a partir do instinto de sobrevivência. Não há Cultura ou Educação como conhecemos. Uma nova escala de valores é criada. A vida e a morte na TV. Está na imagem e a mídia, tem fome. A sociedade imagética. A sociedade espetáculo tem fome. A quem vamos devorar nesta semana? 
A nós não basta desnudar as pessoas em seus 15 minutos de fama, naquilo que representa sua vida, sua ação profissional ou particular. Queremos tirar-lhe a roupa, escanear poro por poro de seu corpo. Queremos ver sua vagina, seu ânus, saber se é depilada, se as fotos precisaram de Photoshop, se os seios têm silicone. Devoramos seu corpo e, após o gozo, queremos mais. Nos faces e instas, maridos expõem suas mulheres em ação que visa, com o exibicionismo, a excitação. O espetáculo. Pageviews. Ou aquela mulher, que como Jabor diz, é apenas uma bunda. Como é seu nome? Bunda. Em todas as telas. Das menores às maiores. Editadas ou não. Soa um ruído. Todos os olhares voltam-se para as telas. Está tudo na bárbara, bela, tela de tv.

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