Fui assistir “A Mulher de Bath”, com
Maitê Proença, dirigida por Amir Haddad, semana passada, no Teatro da Paz.
Apenas a plateia e uma ou duas frisas ocupadas. Direção correta, atriz
esplêndida, usando de todos os seus recursos, sobre um texto literário, em
versos, longo e difícil. Que memória! Mas exatamente por ser mais literário,
não funciona como teatro, mesmo com tanta gente boa. E nosso público de TP,
hoje, ou vai para ver o galã da Globo ou para rir. Houve discretas risadas,
mais pela ansiedade em rir do que pelo texto. Fiquei ali pensando em quantas
vezes esteve ali uma peça de minha autoria, com teatro lotado. Já em minha
estréia com “Foi Boto, Sinhá”, depois com “Angelim, o outro lado da Cabanagem”
e, finalmente, com “Convite de Casamento”, esta última já dentro do período negro
que atravessamos há mais de vinte anos. Fomos recebidos pela direção com alguma
ironia. Quando topamos pagar o preço por noite, risinhos sem graça. Menos dos
funcionários que pareciam torcer por nós. Pois lotamos o final de semana. Uma
peça paraense. Muitos vinham perguntar se éramos de fora ou daqui, mesmo.
Imaginem. Naquele mesmo domingo, nos jornais, uma pesquisa sobre as
preferências culturais do povo paraense. Que bom que a Literatura apareceu mais
ou menos. Mas o Teatro, no rabo da fila. É claro que o Teatro sempre esteve em
crise. Mas eu lotava o Teatro da Paz, como fiz no Schivazappa, Líbero Luxardo e
quem mais se apresentou. No decorrer desses anos todos, a concorrência aumentou
muito em atrações artísticas. A música, se resolverem ligar os aparelhos na
hora e se apresentar em improviso, conseguem. O Teatro é mais artesanal, mas é
a base de tudo. Infelizmente, o povo paraense foi apartado do Teatro. Hoje,
vamos ao TP para assistir espetáculos por artistas globais e principalmente,
comédia. “Se não é comédia, não vou. De problemas, já bastam os meus”, pareço
estar ouvindo. E o funcionário público incompetente, que há mais de vinte anos
destrói nossa Cultura, considera que somos feios, ruins, cafonas, pobres,
enfim. Incapazes de pisar no TP. Essa é boa. Mas hoje, realmente não dá. Não
porque não tenhamos condições, ou sejamos feios, ruins, cafonas, mas pobres,
certamente. O preço do aluguel é alto. E sem global no elenco... Mas o Teatro
não morreu. Estamos em locais alternativos. Saulo Sisnando, um dos ótimos novos
autores está ensaiando um espetáculo para estrear no fim do mês, na Casa Cuíra,
chamado “A Outra Irmã”, excelente. Será que lhe fará levantar da poltrona em
casa, sair da novela das nove, ou dez, botar uma roupa e ir assistir? Ou também
acha que somos feios, pobres, ruins e cafonas?
LES VALSEUSES
Maiween Le Nedellec, diretora da
Aliança Francesa, matou a charada que perseguia há anos, querendo saber o
título de um filme que aqui se chamava “Loucos de Amor”. Eu o assisti no Cinema
1, creio, anos 70, quando tudo era possível. Gerard Depardieu cabeludo,
magérrimo e Patrick Dewaere, lindos, em uma corrida louca por Paris e
arredores, como um easy rider francês, dirigidos por Bertrand Blier e música de
Stephane Grapelli, ainda com participações de Miou Miou, Jeanne Moreau e
Isabelle Ruppert. Que time! Hoje parece um tanto naïve, mas na época era tudo
de bom. Sair por aí, sem lenço, sem documento, sem hora para nada, sem lugar
para ficar, aproveitando a juventude, cometendo pequenos roubos, pequenos delitos
e rindo, rindo muito. Sim, eu sou da turma dos 70’s, que ajudou a revolucionar
o mundo em costumes. Aprecio a turma dos 80’s, sobretudo em Belém, na área do
Teatro. Grandes nomes, hoje, ainda, mas precisando, novamente, quebrar tudo e
mostrar uma direção para jovens de agora que me parecem acomodados, preferindo
estar na plateia do que no palco, fazendo o mundo girar.
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