Agora estava na porta daquela casa noturna, examinando as
pessoas que chegavam, alegres, felizes, algumas já acima do normal, para
participar do reveillon. Vinham sempre em turma. Em casais. Decidiu esperar
mais um pouco. Atravessou para um famoso bar, pegou uma mesa na janela, pediu
uma cerveja e ficou. Aproveitou para jantar uma boa comida, o que não fez
durante toda a viagem. Acompanhou a passagem de ano. Buzinas, fogos, um brinde coletivo
no bar. Estavam em 2017. Estava na hora. Voltou. Não havia mais ingressos, mas
a boa aparência e o bom papo resolveram tudo. Entrou. A festa estava animadíssima.
Música dançante. Gente dançando, gente circulando, nas mesas, falando alto.
Como um bom caçador, ficou à espreita da vítima. Observou cuidadosamente quem
lhe interessava. Umas cinco ou seis. Foi eliminando, eliminando, até que se
fixou em uma mulher. Do bar, onde se instalara, percebeu quando ela se levantou
para ir até o banheiro. Estava sozinha, em uma mesa cheia de casais. Bonita,
discreta, não era das mais alegres, o que demonstrava, sabia, timidez. Usou um
de seus inúmeros truques, infalíveis e teve sucesso na abordagem. Ficaram
conversando. Atento, sabia que o pessoal da mesa olhava, comentava e tal. Veio
um rapaz. Ela lhe apresentou. Como é mesmo o seu nome? Tão simpático que ele
lhe convidou para ir se juntar a eles. Charmoso, dominou a conversa, sem deixar
de dar atenção exclusiva a ela que, sentia, o analisava, admirava, avaliava.
Era hora de sair. O dia clareava. Alguém sugeriu comer alguma coisa no
restaurante em frente. Agora até o apelidavam. Ela não reagiu quando, andando,
ele a envolveu com o braço. Sentaram juntos. Roçando corpo com corpo. Na hora
de sair, fez questão de pagar a conta. Sim, ela tinha seu carro. A aposta era
correta. Fez o número de procurar um táxi. Todos se ofereceram para dar carona,
mas abriram caminho para ela, sem que fosse preciso dizer nada. Somente o
olhar. Ficou claro que ela era uma mulher de negócios bem sucedida, bonita, mas
sem grandes aventuras românticas, por conta da timidez e excesso de trabalho.
Ficou claro que eles adoraram sua corte a ela. E que o aprovaram com seu
charme, seu sotaque paulista, sua aparência, suas roupas e o interesse por ela.
Na porta do hotel, uma longa conversa, que ele soube manobrar muito bem. Agora,
a caça estava à sua disposição, ansiosa, tremenda, ansiosa. Mas ele sabia que
não devia assustar. Sabia jogar. Enfim, ela se entregou. Subiram juntos. O
caçador faturava mais uma. Não sabia o tempo que iria durar, mas sabia que ia
passar muito bem.
sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
A CAÇA DO RÈVEILLON
O ônibus chegou no Terminal Rodoviário pouco depois das
dez da noite. A cidade vivia a efervescência de um 31 de dezembro. Muita gente
já festejava. Foguetes aqui e ali. Casas cheias. Pediu ao motorista do táxi a
indicação de um hotel no centro da cidade. Médio, em termos de qualidade. Fora
uma viagem longa. Apontara no mapa, olhara para a bilheteira em São Paulo e
decidira. Seria Belém. As coisas estavam difíceis para ele. Tinha bom senso.
Sabia o momento de se retirar. Agora, havia desfrutado de bons momentos, vida
boa, mas sabia que nunca durava o suficiente. Era assim, mesmo. Estava com uma
barba rala que veio retocando. Cortou o cabelo bem rente, deixando para trás
longa cabeleira. No hotel, tomou um longo banho, escolheu a melhor roupa e
desceu. Deu uma rápida olhada nos jornais locais. Queria saber onde aconteceria
o reveillon mais badalado, mais chique. Perguntou o endereço. Pegou outro táxi.
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