Estava
zapeando a tv e topei com um filme sobre a lendária fotógrafa Diane Arbus, que
se notabilizou por retratos magníficos de pessoas “estranhas”, digamos assim.
Diferentes, talvez. Fora do padrão estético. Pode ser. Bem, é precis ver algumas
fotos para entender. Nicole Kidman faz Diane. O roteiro pega os dias que
antecederam o surgimento da fotógrafa. Até então, Diane fora uma menina rica,
que casou com um famoso fotógrafo de capas de revistas de moda. Havia duas
filhinhas. Era apenas a mulher do cara, mãe das filhas, talvez assistente,
digamos assim. Bela, perfeita, criada como boneca, em seu íntimo, brigava com
aquela situação comum, dona de casa, mãe, esposa e tal. Muda-se para um
apartamento no segundo andar um homem estranho, usando mascara cobrindo o rosto.
Atiça-lhe a curiosidade. O visita. Jogo de sedução. Enfim, o vizinho sofre de
hipertricose, uma doença que faz crescer pelos em todo o corpo. Todo. Quem
sofre disso acaba trabalhando em circo. Leva-a a lugares onde encontra mulheres
sem braços, anões, gigantes, diversas formas, digamos, fora do padrão. Os
estranhos, diferentes, esquisitos. Ao invés do susto, ela parece encontrar o
mundo que a interessa. O casamento desmorona, o vizinho morre e surge a
fotógrafa. Eu também me interesso por pessoas diferentes. Mesmo em meus poemas,
nos romances, é nesses personagens onde busco o âmago da emoção. Talvez, como
artista, busque exatamente o que quebra o padrão. O mundo do futuro era, nos
planos, quase asséptico. Robôs nas tarefas domésticas e mais repetitivas. Mais
tempo para a diversão e a cultura. Enfim. Não é assim. Os modernos equipamentos
e a internet possibilitaram a qualquer um gravar o que considera ser música, ou
filmar. Certo, é democrático, mas com a falta de Educação e Cultura, a música
transforma-se cada vez mais em “não música”, o fim da canção. Agora frases
curtas xingam, seduzem, engessam a imaginação, com melodias da riqueza de um
“atirei um pau no gato”. O ritmo é tribal. Há também death metal rock, puro
noise, garotos explodindo seus hormônios em ódio contra o estabilishment.
Cantoras declamam o sexo e as delícias da carne e qualquer criança repete. Facebook
incentiva a escrita, mas a linguagem é péssima. Terroristas que seguem um Islã
totalmente deformado explodem cidades ricas em Cultura e Memória, enquanto americanos
tentam levar seu capitalismo a uma região profundamente atrasada, dominada por
ditadores que escravizam as mulheres em nome de interpretação absurda do
Alcorão. As máquinas, hoje, nos permitem traduções simultâneas em celulares,
das diversas línguas, mas ninguém parece querer entender. A idéia de levar uma
vida tranquila, seja com emprego fixo, mulher, filhos e missa aos domingos, é
tomada por careta, monótona. Pode até ser, mas depende para quem. E quem gostar?
É menos que qualquer coisa? Os artistas são sempre considerados “esquisitos”,
como diz Sandra Perlin. Pensam à frente. São as antenas da raça. Geralmente são
“fora do padrão”. Nós, lá no Cuíra, fazemos teatro para “mudra o mundo para
melhor”. Parece muito, utópico, mas os artistas pensam assim. Há peças que
chocam a platéia para que reflita. Outras, já propõem novas situações e muita
gente torce o nariz para o nôvo. E quando digo “gente esquisita”, diferente, fora
do padrão, não é somente sob o ponto de vista físico. Talvez seja o que Diane
Arbus buscava. A essencia. Em muitos aspectos, acho que sou diferente, esquisito.
Nos meus romances, quero sempre chegar ao âmago de cada personagem. Haroldo
Maranhão dizia que, como escritor, era como um cachorro hidrófobo que saía no
meio da noite à procura de uma vítima. Assim me sinto quando observo, escuto,
ouço as pessoas (vítimas..) e lá adiante, me vejo compondo um personagem, indo
ao seu âmago e pretendendo tirar o que há de mais profundo. É isso. Será?
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