sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

GENTE ESQUISITA

Estava zapeando a tv e topei com um filme sobre a lendária fotógrafa Diane Arbus, que se notabilizou por retratos magníficos de pessoas “estranhas”, digamos assim. Diferentes, talvez. Fora do padrão estético. Pode ser. Bem, é precis ver algumas fotos para entender. Nicole Kidman faz Diane. O roteiro pega os dias que antecederam o surgimento da fotógrafa. Até então, Diane fora uma menina rica, que casou com um famoso fotógrafo de capas de revistas de moda. Havia duas filhinhas. Era apenas a mulher do cara, mãe das filhas, talvez assistente, digamos assim. Bela, perfeita, criada como boneca, em seu íntimo, brigava com aquela situação comum, dona de casa, mãe, esposa e tal. Muda-se para um apartamento no segundo andar um homem estranho, usando mascara cobrindo o rosto. Atiça-lhe a curiosidade. O visita. Jogo de sedução. Enfim, o vizinho sofre de hipertricose, uma doença que faz crescer pelos em todo o corpo. Todo. Quem sofre disso acaba trabalhando em circo. Leva-a a lugares onde encontra mulheres sem braços, anões, gigantes, diversas formas, digamos, fora do padrão. Os estranhos, diferentes, esquisitos. Ao invés do susto, ela parece encontrar o mundo que a interessa. O casamento desmorona, o vizinho morre e surge a fotógrafa. Eu também me interesso por pessoas diferentes. Mesmo em meus poemas, nos romances, é nesses personagens onde busco o âmago da emoção. Talvez, como artista, busque exatamente o que quebra o padrão. O mundo do futuro era, nos planos, quase asséptico. Robôs nas tarefas domésticas e mais repetitivas. Mais tempo para a diversão e a cultura. Enfim. Não é assim. Os modernos equipamentos e a internet possibilitaram a qualquer um gravar o que considera ser música, ou filmar. Certo, é democrático, mas com a falta de Educação e Cultura, a música transforma-se cada vez mais em “não música”, o fim da canção. Agora frases curtas xingam, seduzem, engessam a imaginação, com melodias da riqueza de um “atirei um pau no gato”. O ritmo é tribal. Há também death metal rock, puro noise, garotos explodindo seus hormônios em ódio contra o estabilishment. Cantoras declamam o sexo e as delícias da carne e qualquer criança repete. Facebook incentiva a escrita, mas a linguagem é péssima. Terroristas que seguem um Islã totalmente deformado explodem cidades ricas em Cultura e Memória, enquanto americanos tentam levar seu capitalismo a uma região profundamente atrasada, dominada por ditadores que escravizam as mulheres em nome de interpretação absurda do Alcorão. As máquinas, hoje, nos permitem traduções simultâneas em celulares, das diversas línguas, mas ninguém parece querer entender. A idéia de levar uma vida tranquila, seja com emprego fixo, mulher, filhos e missa aos domingos, é tomada por careta, monótona. Pode até ser, mas depende para quem. E quem gostar? É menos que qualquer coisa? Os artistas são sempre considerados “esquisitos”, como diz Sandra Perlin. Pensam à frente. São as antenas da raça. Geralmente são “fora do padrão”. Nós, lá no Cuíra, fazemos teatro para “mudra o mundo para melhor”. Parece muito, utópico, mas os artistas pensam assim. Há peças que chocam a platéia para que reflita. Outras, já propõem novas situações e muita gente torce o nariz para o nôvo. E quando digo “gente esquisita”, diferente, fora do padrão, não é somente sob o ponto de vista físico. Talvez seja o que Diane Arbus buscava. A essencia. Em muitos aspectos, acho que sou diferente, esquisito. Nos meus romances, quero sempre chegar ao âmago de cada personagem. Haroldo Maranhão dizia que, como escritor, era como um cachorro hidrófobo que saía no meio da noite à procura de uma vítima. Assim me sinto quando observo, escuto, ouço as pessoas (vítimas..) e lá adiante, me vejo compondo um personagem, indo ao seu âmago e pretendendo tirar o que há de mais profundo. É isso. Será?

Nenhum comentário: